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Aporte de R$180 milhões move avanço do Mercosul

por Fabio Lucheta Isaac
Sexta-feira, 6 de julho de 2007 -09h35
O Frigorífico Mercosul, com sede em Porto Alegre e unidades industriais no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, decidiu entrar firme na briga entre os grandes do setor de carne bovina no país.

A empresa está investindo em aquisições, arrendamentos e construção de novas plantas para quase dobrar a capacidade de abate até o fim de 2007 ou início de 2008, estuda oportunidades para se instalar no Uruguai e na Argentina e prepara-se para começar a produzir carne industrializada em 2008 para entrar em mercados que impõem barreiras ao produto brasileiro "in natura", como Estados Unidos e Japão.

"Temos uma estratégia robusta de crescimento", afirma o presidente do Mercosul, Mauro Pilz. Segundo ele, o volume de investimentos previsto para este ano chega ao recorde de R$180 milhões, ante R$48,3 milhões em 2006, financiados com geração própria de caixa, empréstimos bancários e os US$21,5 milhões integralizados pelo fundo americano AIG Capital Investments na compra de 34% do capital da empresa, em 2006.

O Mercosul tem hoje capacidade de abate de 4,9 mil cabeças por dia em seis plantas no Rio Grande do Sul (Pelotas, Capão do Leão, Bagé, Mato Leitão, Tupanciretã e Alegrete), uma em Paiçandu (PR) e outra em Naviraí (MS). Neste mês, a empresa começa os abates em Nova Londrina (PR), num frigorífico adquirido em 2006 mas que até agora só fazia desossa em função dos investimentos em curso, e em Rondonópolis (MT) numa planta arrendada por dez anos. As unidades poderão abater 800 e 600 cabeças por dia, respectivamente.

Até o início de 2008 a empresa concluirá ainda a construção de uma nova planta em Tucumã, no sul do Pará, para 1,5 mil animais por dia, e outra em Goiás, para 800 cabeças/dia, numa cidade não revelada por Pilz. Com elas, a capacidade de abate chegará a 8,6 mil cabeças por dia, informa. O faturamento bruto, que este ano deve alcançar R$1,1 bilhão (seria de até R$1,5 bilhão não fosse a escassez de matéria-prima no Rio Grande do Sul no primeiro semestre), deve pular para mais de R$2 bilhões em 2008, diz o presidente.



Pilz garante que as aquisições "não acabaram". A empresa busca oportunidades, inclusive nos países vizinhos, para atuar como consolidador num mercado em reestruturação, afirma. Segundo ele, o projeto para a produção de carne industrializada ainda está em elaboração, mas exigirá a construção de uma nova planta, provavelmente fora do Rio Grande do Sul.

"Estamos crescendo na faixa de 40% ao ano nos últimos anos", relata Pilz. Em 2006, a receita bruta do frigorífico alcançou R$820,7 milhões, enquanto a geração de caixa pelo conceito Lajida (lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações) chegou a R$40 milhões e o lucro líquido, a R$9,6 milhões. O resultado líquido foi 60% superior ao apurado no ano anterior, quando o faturamento chegou a R$581,2 milhões e o Lajida, a R$27,5 milhões.

As novas plantas do Mercosul seguem os padrões de sanidade do Mercado Comum Europeu (MCE) e devem ajudar a empresa a elevar os volumes de exportação, que hoje estão no "piso" de 35% da produção efetiva de 60 mil cabeças por mês devido à valorização do real, afirma Pilz. "Normalmente vamos a até 50%", diz. Os embarques para Chile, Rússia e regiões como Europa e Oriente Médio renderam R$386,9 milhões no ano passado, 47% da receita bruta total.

As novas plantas também garantirão acesso ao gado zebuíno no Brasil Central, matéria-prima mais barata e com maior aproveitamento de carcaça do que as raças européias criadas no Sul, além de diversificar o "risco sanitário" das operações, afirma o presidente. "O preço do boi no Rio Grande do Sul é hoje o mais alto do Brasil, com a arroba a US$35 contra US$28 a US$30 no Brasil Central", comenta. Segundo ele, os abates caíram 10% no Estado no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2006, mas devem se recuperar até o fim do ano com a reposição dos plantéis dos criadores.

Considerado pelos analistas do setor como o próximo da fila a abrir o capital, depois do Friboi e do Marfrig, o Mercosul ainda vai esperar mais um pouco para ir à Bovespa. "Não vamos nos apressar", adianta Pilz. Segundo ele, esse é o caminho natural a seguir depois da entrada do AIG na sociedade e porque o mercado de capitais está se tornando a grande fonte financiadora de novos investimentos, "mas tudo tem que ser feito ao seu tempo". A empresa já está ajustando seus controles internos para se converter em companhia aberta e é auditada pela PriceWatherhouseCoopers.

Fonte: Valor Econômico. Agronegócios. Por Sérgio Bueno. 6 de julho de 2007.