O quadro eleitoral brasileiro é preocupante. A falta do surgimento de lideranças evidencia a falta de renovação nos quadros políticos, com a insistência em determinados candidatos e a repetição de modelos que já deveriam ter sido aposentados, pela história e até mesmo pelo esperado amadurecimento do eleitorado.
De todas as atrocidades cometidas nos períodos de exceção no Brasil, sem dúvida, a maior e pior de todas foi a relativa à regra democrática. Convivemos com vários partidos - que têm donos -, ausência total de ideologia e projetos de melhoria do legado para gerações futuras. Há uma enorme falta de questionamento sobre os problemas da realidade atual e de como resolvê-los. A imprensa, que deveria ser a guardiã da sociedade e a grande questionadora, quase sempre se perde na minúcia daquilo que não é importante e não pergunta o que é de real importância.
O recente debate para prefeito em vários municípios retratou este quadro lastimável. Candidatos e jornalistas revelaram uma falta de preparo quanto aos problemas enfrentados nas municipalidades. Impressionantemente, no caso de São Paulo, em nenhum momento se discutiu, por exemplo, a questão do atraso nas obras para os grandes eventos, como a Copa do Mundo. Ou o gargalo que a cidade se transformou por falta de infraestrutura. No tocante a outras propostas, de cunho populista, repetem-se mantras que revelam uma falta de visão de longo prazo. Nossos políticos prometem fazer coisas para cuidar das pessoas. Florescem as candidaturas que pregam o amor. Melhor seria se eles prometessem construir um legado que assegurasse a prosperidade das futuras gerações, e a conservar e melhorar o que já existe. É preciso sair do espírito de mediocridade presente no país.
As obras públicas, no Brasil, são mal feitas. A qualidade dos materiais usados é ruim. Tudo é subdimensionado. O Rodoanel de São Paulo é um exemplo disso. Na década de 1950, a região de Washington, DC, construiu um anel viário, chamado de Beltway.
Com uma população muito menor, o Beltway tem, pelo menos, 6 a 8 faixas por pista, na maior parte do trajeto. Em São Paulo, com uma população muito maior, 60 anos depois, construímos um Anel Viário com 3 faixas por pista, na maior parte do trajeto. Isto não é visão. Isto não é futuro. As linhas de metrô estão muito aquém das necessidades da população.
A verdadeira herança pesada que o Brasil tem e que nenhum dos presidentes recentes resolveu foi a falta de visão de país. Esta falta de visão é, sem dúvida, a grande responsável pelas medidas tapa-buracos que sempre tomamos.
Assim, os candidatos a prefeito deveriam - mais do que criar programas paliativos - rever as cidades, projetar o futuro e fazer obras dimensionadas para o crescimento e de boa qualidade. O político que quiser entrar para a história no Brasil terá que, certamente, pregar, incansavelmente, que os nossos melhores dias estão à frente. E que o passado que herdamos ainda nos dará muita vergonha... E por muito tempo!
Por Marcus Vinícius de Freitas