A resposta a essa pergunta é meio óbvia. O boi responde por cerca de 70% do custo operacional do frigorífico, portanto, quanto mais barata a matéria-prima, maior a margem da indústria.
Mas alguma coisa “incitou” ainda mais as pressões baixistas. E ela veio de fora.
As exportações seguem razoavelmente bem. É verdade que houve uma ligeira retração em junho e julho, mas os dados preliminares de agosto indicam um novo recorde. Os preços da carne exportada, por sua vez, se mantiveram firmes ao longo de todo o ano... Mas não tão firmes quanto gostariam os frigoríficos.
Acompanhe, na figura 1, a variação das cotações da arroba do boi gordo em São Paulo e do preço médio da carne bovina exportada pelo Brasil, tudo em dólares.
Veja que, até o início de 2007, os preços da carne exportada acompanhavam a alta do boi, ou seja, os frigoríficos estavam preservando a margem. No entanto, a partir do segundo trimestre, o ritmo de alta da arroba aumentou e a carne não acompanhou.
Entre janeiro de 2003 (quando os preços da carne e do boi começaram a reagir) e janeiro de 2007, a cotação média da carne exportada aumentou 54%, ao passo que a arroba do boi gordo em São Paulo reagiu 46%. Mas se esticarmos a comparação de janeiro de 2003 a julho de 2007, enquanto o preço da carne exportada aumentou 63% a arroba do boi gordo, em São Paulo, se valorizou em 91%. Lembrando que todas as contas foram feitas em dólares.
Isso acontece porque, além do aumento das cotações da arroba em reais, o câmbio estava em baixa. Essa é uma tendência para os próximos dois anos. A virada do ciclo pecuário mais a valorização do real tendem a levar a cotação da arroba, em dólares, a patamares recordes. A não ser que o câmbio volte a reagir ou que alguma tragédia se lance sobre o mercado do boi gordo, fazendo com que ele volte a trabalhar em baixa.
São Paulo é, com folga, o principal Estado exportador. Por conta disso, a arroba do boi gordo paulista foi utilizada nessa análise. Mas vale destacar que em alguns Estados, como Rio Grande do Sul e Rondônia, a valorização da arroba, tanto em dólares quanto em reais, foi ainda mais forte.
Além de tentar derrubar as cotações da arroba, os frigoríficos têm adotado outra série de estratégias, visando preservar as margens: estão migrando para as regiões de fronteira, onde a oferta de matéria-prima aumenta mais rápido e os preços são mais convidativos; agregam valor à carne como, por exemplo, através de investimentos em marcas e da exportação de produtos embalados à vácuo; fazem
hedge de compra no mercado futuro e
hedge de matéria-prima via boi a termo; verticalizam a produção; aumentam a escala de produção (capacidade de abate), buscando reduzir custos fixos; premiam animais pesados, lotes grandes e localizados nas proximidades da indústria, também para reduzir custos; investem em gestão, na abertura de capital (para conseguir mais recursos), etc.
Em síntese, estão se virando, como o produtor teve que se virar entre 2001 e 2006, com custos em alta e cotações da arroba em baixa. (FTR)