O ano não acabou, mas é possível algumas conclusões sobre o mercado de leite e traçar expectativas para 2013.
Comecemos analisando o preço do leite ao produtor.
O ano começou com um patamar elevado de preços, em R$0,803 por litro (média nacional ponderada).
Este valor esteve 10,4% acima do verificado no mesmo período de 2011.
Entretanto, os custos de produção subiram e o preço do leite não reagiu nas mesmas proporções. Em 2012, considerando até o pagamento de novembro, o pecuarista recebeu, considerando a média nacional ponderada, R$0,808 por litro, 1,2% mais que em 2011. Veja a figura 1.
O período de pico de preços em 2011, foi o vale em 2012.
Houve atraso nas chuvas, colaborando para uma curva atípica de preços.
Estoques elevados no primeiro semestre, importações em alta e uma demanda aquém do esperado também colaboraram para um mercado mais amarrado.
Produtos lácteos
No mercado atacadista e no mercado varejista, na comparação com a variação do preço do leite pago ao produtor, os preços dos lácteos subiram mais.
Se compararmos mês a mês os preços médios dos principais lácteos, em 2012 em relação a 2011, verificamos que o varejo ajustou positivamente os preços de todos os produtos.
Os preços variaram de 2,9% para o leite longa vida até 12,6% para o leite em pó. Veja a tabela 1.
Com exceção do leite longa vida e do leite em pó, todos os preços dos lácteos subiram. Além da concorrência entre os laticínios no segmento de leite longa vida, os estoques elevados do produto na primeira metade do ano colaboraram com a pressão de baixa.
Custos de produção
Foi um ano razoavelmente complicado para a indústria de laticínios, que trabalhou com uma margem mais apertada e com dificuldade de repasse de preços para o varejo.
No primeiro semestre de 2012, o custo de produção foi menor na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o Índice Scot para o Custo de Produção de Leite.
Entretanto, a partir de março a situação mudou.
Os alimentos concentrados, os suplementos minerais e os fertilizantes cujos preços subiram, puxaram para cima os custos de produção da atividade, superando os custos de 2011.
Os destaques ou grande vilões foram o farelo de soja e o milho, com preços recordes.
A alimentação mais cara e o preço do leite patinando resultou em redução da suplementação dos animais.
Na média do ano, os custos de produção ficaram 1,7% maiores do que em 2011.
Lembrando que em 2011, o custo da atividade havia subido 34,0% em relação a 2010.
Considerando um aumento de 1,2% no preço do leite ao produtor, a margem para o pecuarista estreitou-se.
Balança comercial
As importações brasileiras de lácteos no acumulado de 2012 superaram o recorde verificado em 2011. Para piorar, as exportações, que já não eram expressivas, ficaram ainda menores.De janeiro a novembro de 2012 a balança comercial brasileira apresentou um déficit de US$486,6 milhões, 5,0% mais que em 2011.
Em equivalente litros de leite o déficit é de 936,3 mil toneladas, ou 19,1% mais que em 2011.
A variação em equivalente litros de leite está 14,1 pontos percentuais maior que o déficit em dólares, isto, em função do aumento considerável nas importações de manteiga e leite em pó, apesar das compras de queijos terem caído.
Para fazer um quilo de manteiga precisa-se, em média, de vinte e dois litros de leite e para o leite em pó, a relação é de oito litros de leite por quilo do produto.
A importação de manteiga teve um salto de 415,6%, apesar de significar pouco no total importado. Porém, é cada vez mais comum marcas estrangeiras como a argentina Sancor e a francesa Président nas prateleiras dos supermercados.Outro fator a ser considerado é o Uruguai aumentando as exportações de lácteos para o Brasil.
Em 2011, em nenhum mês o Uruguai exportou mais para o Brasil que a Argentina. Já este ano, isso ocorreu em três meses: maio, setembro e novembro. Figura 3.
O Brasil está tentando firmar um acordo que limite as exportações uruguaias, assim, como existe para o leite em pó argentino.
Perspectivas para 2013
Para 2013 podemos esperar um ligeiro aumento no preço do leite ao produtor.O cenário de preços baixos e custos em alta em 2012 com certeza refletiram em menores investimentos na atividade. Os reflexos disto poderão ser sentidos em 2013.
Do lado dos custos de produção, o pecuarista pode e está se deparando com oportunidades de preços menores, em especial para os grãos.
A previsão de aumento de área de soja na América do Sul tirou a sustentação do mercado de soja, por exemplo.
É preciso destacar, no entanto, que os estoques mundiais de soja estão baixos e uma quebra de produção no Brasil e/ou Argentina na temporada 2012/2013 abriria espaço para aumentos de preços.
Outro ponto importante é que o produtor de leite, diferente deste ano, estará mais preparado em 2013 no que diz respeito ao planejamento da alimentação suplementar.
Com relação à balança comercial o cenário não deverá fugir do observado em 2011 e 2012. Ou seja, as importações deverão continuar elevadas.
Para as exportações brasileiras de lácteos, o dólar valorizado em relação ao real e a recuperação de preços no mercado internacional podem estimular os negócios, mas não são esperados grandes volumes embarcados.
Colaborou Rafael Ribeiro, consultor da Scot Consultoria.