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Recuperação judicial da LBR pode alterar dinâmica da cadeia de lácteos

Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013 -14h51

A decisão da empresa de lácteos LBR, Lácteos Brasil S/A, de entrar com pedido de recuperação judicial preocupa participantes de toda a cadeia produtiva do leite. Embora a empresa tenha afirmado que o movimento não interferirá em suas atividades, a estratégia a ser adotada pela nova gestão pode ter impactar toda a cadeia.


Segundo o presidente da Leite Brasil e da Câmara Setorial da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Jorge Rubez, a LBR é conhecida entre os produtores como a empresa que mais remunera os produtores. "Diante desse fato, vai surgir a expectativa de uma redução do preço pago pela LBR pela matéria-prima. Por consequência, se a empresa pagar menos pelo leite, venderá seu produto mais barato no mercado e causará desconforto também com os seus concorrentes", explicou o especialista. "A notícia gera um desconforto na cadeia como um todo. E sabemos que algum elo vai pagar pela recuperação da empresa", completou.


Segundo ele, há tempos existem boatos de que a empresa passa por dificuldades. "A empresa chegou a atrasar o pagamento a alguns produtores em 15 ou 20 dias no ano passado, mas sempre honrava seus compromissos com preços maiores do que o mercado. Isso acalmava o produtor", disse. Até uma fusão com a BRF foi levantada, no começo do ano passado, desmentida por ambas as companhias, na época.


A LBR, pelo último ranking divulgado pela Leite Brasil, de 2011, era a segunda maior empresa em captação de leite, com participação de 21,2% do total nacional, ficando atrás somente da DPA, joint venture entre a Nestlé e a Fonterra. "A tendência do setor é de concentração, mas ainda é um segmento muito pulverizado. O governo quer fazer a mesma coisa que está fazendo em carnes com lácteos", disse a analista de mercado da Scot Consultoria, Jéssyca Guerra.


Para ela, esse movimento tem que ser feito com cuidado, porque há peculiaridades fundamentais entre os dois setores. "A diferença é que o leite é um produto diário, a carne não. Ou seja, há uma necessidade muito grande de capital de giro de todos os elos da cadeia. E o setor de lácteos vive com baixa remuneração e alto custo de produção", ressaltou.


Uma das justificativas da LBR ao optar pela recuperação judicial, inclusive, são as questões estruturais do setor. Dados da Scot apontam que a rentabilidade do produtor da pecuária de leite de alta e média tecnologia foi de 7,7% em 2012 ante 8,1% em 2011. Já informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, apontam que os preços pagos ao produtor pelo leite se mantêm em níveis altos - em 2012 ante 2011 ficaram estáveis -, mas o custo de produção teve alta (20%). "A indústria está pagando mais caro pela matéria-prima e não está conseguindo repassar esse custo para o valor final de seus itens. Não está fácil para ninguém no setor", afirmou o analista de mercado do Cepea, Paulo Ozaki.


A LBR também citou que questões tributárias também têm colaborado para o momento atual por qual a companhia passa. Segundo a empresa, hoje, há uma impossibilidade de resgate de créditos presumidos de PIS/COFINS ou mesmo do abatimento deste montante ao longo da cadeia produtiva. A receita de venda de grande parte dos produtos lácteos, como o leite UHT, não gera débitos porque está sujeita a alíquota zero. A companhia tem R$500 milhões acumulados em créditos, que, se monetizados, permitem cobrir cerca de 50% da dívida da empresa.


Concorrência


"O momento do setor pode até ter colaborado para a dificuldade da companhia. Mas não podemos atribuir responsabilidade somente a isso", ressaltou Jéssyca, da Scot. Ela cita, por exemplo, que a concorrência ficou mais acirrada e os outros players foram mais agressivos em marketing do que a LBR.


No ano passado, anúncios de grandes aportes em reposicionamento de itens e de marca e lançamentos foram feitos pela Vigor (JBS), pela Batavo (BRF), pela Danone e pela Nestlé. Somente em outubro, a LBR comunicou o reposicionamento e volta à mídia da marca Parmalat. Mas a marca é apenas uma das 10 que compõe o portfólio da companhia, que ainda conta com Leitbom, Bom Gosto, Poços de Caldas, Boa Nata, Líder, Cedrense; DaMatta, Ibituruna e São Gabriel.


A LBR - Lácteos Brasil foi criada em dezembro de 2010, por meio da fusão entre Bom Gosto, do empresário Wilson Zanatta, e da Leitbom, com um faturamento de R$3 bilhões, captação anual de mais de dois bilhões de litros de leite, 30 fábricas e 6,4 mil colaboradores. Na época, a empresa de participações do BNDES, aBNDESPar, fez um aporte de R$700 milhões na companhia. Hoje, com uma dívida estimada em R$1 bilhão, possui 15 fábricas e 5 mil funcionários. Na sua composição acionária está a Monticiano Participações, controlada pela GP Investments, com participação de 40,5%; Bom Gosto (26,3%) e BNDES, com 30,3%.


Fonte: Agência Estado. Por Suzana Inhesta. 15 de fevereiro de 2013.