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Carne bovina: ainda é viável expandir a capacidade de abate?

por Fabio Lucheta Isaac
Terça-feira, 1 de abril de 2008 -09h39
A pecuária brasileira atravessa um período de ajuste produtivo. Graças à crise de preços, entre 2002 e 2006, o produtor postergou investimentos, tentou reduzir custos (reduzindo os gastos com insumos) e, para sustentar o caixa, abateu matrizes. O resultado está sendo colhido agora, mediante forte retração na oferta de gado, de praticamente todas as eras.

Na outra ponta, a demanda mundial por carne bovina se mantém aquecida, e os frigoríficos brasileiros, notadamente os exportadores - capitalizados em função do bom desempenho das vendas externas, do crédito farto e barato e da abertura de capital – investiram muito em aumento de capacidade de abate. Resultado: demanda aquecida por carne e boi.

Hoje, portanto, a relação oferta e demanda favorece os fornecedores, ou seja, os pecuaristas. Os preços pecuários estão em recuperação. Aliás, a safra já está se encaminhando para o final, o câmbio está frouxo e a UE levantou um embargo contra a carne bovina brasileira. Ainda assim, o boi só que sobe.

As escalas estão curtas. O boi, além de relativamente “caro” (e ele responde por 80% do custo de produção da indústria), está escasso. Os frigoríficos, em algumas regiões, trabalham com capacidade ociosa acima de 40%. Alguns estão abatendo apenas três dias por semana. Tem indústria cancelando turnos e mandando gente embora.

O cenário, portanto, não é favorável à expansão da capacidade de abate. Pelo contrário, do mesmo jeito que o produtor teve que “pisar no freio”, entre 2002 e 2006, agora parece que é a vez da indústria fazer o mesmo. O recomendado é investir em gestão e inovação: cortar custos, analisar possibilidades de hedge, buscar sinergias junto a outros segmentos da indústria de alimentos, agregar valor (industrialização, embalagens, trabalho de marcas, novos mercados, etc.), atrair os bons fornecedores, etc.

Mas na crise também surgem grandes oportunidades. As indústrias mais sólidas/capitalizadas podem aproveitar o momento para adquirir aquelas que não se preparam adequadamente para o período. Aliás, um dos “grandões” já comunicou o mercado que essa estratégia está sendo considerada.

É questão de avaliar a oportunidade, o custo e o benefício. Afinal, quando se fala em commodities agrícolas, qualquer investimento (que não seja de caráter especulativo) tem mesmo que focar o longo prazo. E tem algum outro país com “condições naturais” – extensão territorial, rebanho, forrageiras, clima, pluviosidade, indústrias de insumos, talento... – mais favoráveis para a produção de carne bovina?

Uma hora o mercado vira e volta a favorecer a indústria. Ele é cíclico. (FTR)