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Carta Gestor - Conselhos de um velho pecuarista

por Gustavo Aguiar
Terça-feira, 25 de março de 2014 -16h20

Durante a leitura de materiais relativos à pecuária de outros países, me deparei com uma matéria muito interessante, publicada no portal norte-americano de informações pecuárias "Beef Producer".


Nela, um resumo de experiências do pecuarista Gordon Hazard, de noventa anos. Gordon publicou um livro cujo título é "Thoughts and Advice from an Old Cattleman", em português, "Pensamentos e conselhos de um velho pecuarista".


O negócio com a pecuária começou quando Gordon estava de licença do Exército durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse intervalo, encontrou um pedaço de terra para comprar perto de sua casa em West Point, Mississippi, e concluiu que poderia cobrir os pagamentos com o seu salário. Mesmo contra o conselho do banco, comprou a terra e voltou para a Europa. 


Depois de sobreviver à guerra, foi para a escola veterinária. Junto à carreira veterinária, continuou a expandir o negócio, trabalhando em seu tempo "livre" e sempre reinvestindo os lucros provenientes da exploração pecuária na operação.O mais interessante foi perceber a valorização da atividade pecuária e a história que ela carrega, contada com grande orgulho.


É claro que os conselhos apresentados são consequência de sua experiência e não se aplicam a todas as situações e sistemas de produção, ainda mais levando em conta as diferenças entre Brasil e EUA (perfil da pecuária, custo de mão de obra, etc.), mas vale a pena ler e refletir a respeito. 


A seguir o resumo de algumas ideias do senhor Gordon Hazard sobre o negócio pecuário:


Sem dívida. Em seu livro, Hazard diz que cresceu no período da grande depressão norte-americana e viu seu pai perder tudo para as dívidas e ter que começar de novo. Neste contexto, aprendeu a odiar dívidas. Além disso, ciclos econômicos e maus momentos sempre virão. É justamente nesse momento que a dívida irá derrubá-lo.


Use uma gestão baseada em compra e venda. Compre o gado com o dinheiro da atividade. Em seguida, conte o seu lucro como a diferença entre os bezerros que você vende e aqueles que você comprar de volta. Faça um bom trabalho de venda de animais terminados e compra da reposição e você terá uma margem de lucro.


Minimize ao máximo a depreciação. Parte da política de controle de endividamento da Hazard é cumprida por não possuir equipamentos depreciáveis. Ele não gosta de nada que enferruja e não possui vacas. Ele contrata qualquer serviço de roçada de pastagens que precise e aluga o maquinário de terceiros. Isso economiza valioso capital de giro, além de ajudar os seus vizinhos que possuem equipamentos. O seu mantra é manter o dinheiro trabalhando e crescendo.


Ganhos baratos. Boa forragem e o mínimo de ração sempre proporcionaram ganhos a baixo custo. Ele foi um dos primeiros a desenvolver o bem sucedido programa de pastejo rotacionado. Todas as forrageiras utilizadas são perenes. Ele defende: "Em suma, forragem é o que vendemos".


Explore o gado correto. Hazard tem engordado novilhos ao invés de novilhas em função da maior taxa de ganho. O que vale no fim é o peso adicionado, ele diz. Além disso, ele prefere comprá-los mais leves, aproveitando a melhor conversão.


Trate com respeito e carinho. Pratique uma boa recepção, manejo e embarque dos animais. Estabeleça protocolos para recebimento dos mesmos. Faça uso de manejo anti-estresse da chegada ao embarque no caminhão. Pastejo rotacionado ajuda com isso. Use um boi acostumado ao sistema para ensinar os recém-chegados.


Venda bem. Quando chega a hora de comercializar, é sempre melhor vender em volume. Além disso, ele diz que você nunca deve perguntar ao comprador quanto ele vai te pagar. O gado pertence a você, que possui o direito de pedir um preço justo, definir o tempo de entrega e sugerir bases razoáveis para o negócio.


Considerações finais


Após estas dicas, fica claro que manter um conjunto de padrões e normas de conduta dentro da fazenda é fundamental para perpetuar o negócio. 


Uma boa maneira de garantir isso é registrar e comunicar estas normas como fez o pecuarista norte-americano. 


Afinal, história não registrada e não transmitida é história perdida.


Traduzido, adaptado e comentado por Gustavo Aguiar.


Fonte: Beef Producer. 16 de fevereiro de 2014.