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Carne bovina sustentável depende de união da cadeia produtiva

Segunda-feira, 10 de novembro de 2014 -16h42

Nas buscas na internet, em boa parte dos resultados, o nome de Kim Stachkhouse-Lawson vem precedido de "Dr". No cartão de visitas, vem acompanhado de "Ph.D". A sustentabilidade na carne bovina é a razão do seu trabalho, que dirige uma divisão de pesquisas nesta área na National Cattlemens Beef Association (NCBA), associação que reúne criadores de gado de corte dos Estados Unidos.


Especialista no assunto, Kim esteve no Brasil na última semana para participar de um congresso sobre carne sustentável, em São Paulo. A representante da pecuária de corte dos Estados Unidos recebeu a reportagem da Globo Rural para uma entrevista, junto com representantes da Fundação Espaço Eco, ligada à Basf, com quem desenvolveu um estudo conjunto sobre eficiência na produção local.


"Nossa entidade tem duas linhas de atuação", explica Kim. A primeira, na área de pesquisa, é custeada por meio de um percentual sobre vendas de animais. Os recursos financiam trabalhos em área como marketing, nutrição, segurança alimentar e sustentabilidade, disse ela. A segunda é política e jurídica, custeada com recursos dos associados.


"Representamos os criadores de gado, mas quando fazemos pesquisa, unimos toda a cadeia, do criador ao varejo. É uma forma importante de dizer a cada segmento onde pode melhorar", defende Kim. A necessidade de união da cadeia produtiva em torno da produção sustentável é ponto central de sua argumentação.


Pergunto se o consumidor está disposto a pagar a mais por um bife mais sustentável e que demanda mais custos de produção. "Não nos Estados Unidos", diz ela. "Uma das razões mais importantes de se unificar a cadeia de valor é que o consumidor americano não quer. Nós fizemos extensas pesquisas e não acredito que ele pagaria mais por uma carne sustentável", complementa.


A saída é "gerar valor de outras maneiras" e, nesse processo, pesquisa e ciência são fundamentais. Na avaliação da pesquisadora, um trabalho importante tem sido feito pela cadeia produtiva da carne. A missão é conseguir transferir esse valor para a sociedade. Segundo ela, o consumidor americano, de um modo geral, ainda não assimilou o conceito de sustentabilidade, embora esteja preocupado com um processo produtivo mais responsável.


"A terminologia ainda é difícil. E há o risco do conceito ser "sequestrado" por pessoas que não entendem a produção de alimentos. E, nós temos que trabalhar duro para que isso não ocorra porque há uma história positiva na agricultura e creio que teremos uma na produção de carne."


O desafio de construir esse diálogo fica ainda mais difícil, lembra ela, quando pessoas famosas, conferem credibilidade a opiniões negativas sobre a produção de carne bovina. "Nossa equipe de gestão de imagem fica atenta e fazemos eventos com pessoas de diversas áreas", diz Kim. "Se essa pessoa conhecer melhor e falar bem de nós, falará com mais credibilidade porque, afinal, não é paga pela indústria como eu sou."


E como o criador de gado está trabalhando com a questão? "É algo novo também para ele. Quando perguntamos, a primeira resposta é sou sustentável. Minha família está nessa terra há várias gerações. Somos capazes de prover comida para um mundo com fome e isso é sustentável para mim. Eles são sustentáveis. O que estamos pedindo é que façam o possível para inovar e ganhar eficiência mais rápido e que vamos dar o conhecimento e as ferramentas para isso. Só precisam estar abertos a essa mensagem."


Ainda que reconheça dificuldades, Kim observa que a discussão sobre o papel da produção de carne na sustentabilidade está evoluindo de forma positiva, inclusive em escala global. Na opinião dela, o setor está sendo reconhecido "pela primeira vez". "As pessoas estão percebendo que ela tem seu lugar nos sistemas ecológicos. Estão reconhecendo também a riqueza nutricional da carne bovina. Todos têm feito um grande trabalho", diz Kim, citando, incluisve, o Brasil. Um aspecto que, segundo ela, confere mais realismo ao debate, que deve ser, nas palavras dela, holístico: considerar também fatores como produção e segurança alimentar e não limitar-se à mudança climática.


No entanto, é inevitável questioná-la sobre a influência da pecuária na emissão de gases de efeito estufa, bastante destacada por especialistas. Ela reconhece que a atividade tem um alto índice de emissões, o que credita, em boa parte, à própria biologia do bovino. Mas entende que a ciência ainda falha no modo como mede essas emissões. "Temos que ver o quanto ele é parte de um sistema. Para mim, ainda temos uma alta emissão, mas é preciso encontrar quem quantifique plenamente o que estamos falando."


Fonte: Globo Rural. 7 de novembro de 2014.