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A politização da questão energética brasileira

por Instituto Liberal
Quarta-feira, 12 de novembro de 2014 -16h00

Em editorial no Globo de quarta-feira, dia 12, o jornal defende algo que já defendi aqui algumas vezes: a desideologização da discussão sobre matriz energética. De maneira bastante razoável, o editorial argumenta que as usinas hidrelétricas que estão sendo construída estão utilizando apenas o fio dágua, sem criar reservatórios pra épocas de estiagem como agora, em virtude de argumentos ambientais pouco sustentáveis, salvo por ideologia mesmo. Isso precisa ser denunciado com urgência. Além disso, as energias "verdes" não são substitutos para a energia hidrelétrica, por seres sazonais e caras. A única matriz capaz de suportar um aumento sustentável de produção energética seria a nuclear, que, no entanto, corresponde a apenas 2% da matriz brasileira, mesmo com o Brasil possuindo a 6a. maior reserva de urânio do mundo e sendo um dos únicos três países a deter a tecnologia de todo o processamento e enriquecimento do produto.


Ou superamos a discussão ideológica para entrarmos na discussão econômica, ou em breve teremos a volta do apagão.


Mais pensamentos sobre a matriz energética brasileira


Hoje vou voltar a falar sobre a questão energética brasileira. De acordo com um especialista do INPE, o nível dos reservatórios de energia elétrica no Brasil já estão nos mesmos níveis de 2001, quando houve o racionamento  feito por FHC. Como o PT não dá a mínima para o país, e sim para as eleições, não haverá racionamento neste ano, mesmo que isso signifique literalmente um apagão em 2015.


A verdade é que a discussão sobre a matriz energética no Brasil é muito ideologizada e pouco prática, onde não se leva em consideração a praticidade e a eficiência da base energética, mas sim seu componente ambiental, e ainda assim de maneira imatura e mal informada, pois não leva em consideração que a preocupação com o meio ambiente tem como finalidade a melhoria do bem-estar da população, e não a precarização da vida humana.


Vejamos a matriz energética brasileira de acordo com a ANEEL. 66% da energia gerada no Brasil é hidrelétrica. A energia hidrelétrica é limpa, mas tem um grande inconveniente: o seu potencial gerador fica em áreas de pouca densidade urbana (notadamente na Região Norte do Brasil). Portanto, uma energia extremamente barata pode vir a se tornar cara devido à perda de energia durante a transmissão da mesma das usinas para os centros urbanos. A energia hidrelétrica também é muito dependente de chuvas, e acaba por ser pouco confiável. Recentemente, houve ainda um ataque às hidrelétricas pelo fato das mesmas destruírem parte de reservas naturais na sua implantação. A questão hidrelétrica, portanto, retrata bem o nível de discussão do país: é mais importante debater a viabilidade da rede hidrelétrica com base em termos ambientais do que em termos de custo de transmissão e produção da energia.


Logo em seguida temos a energia fóssil (carvão, petróleo e gás natural), com 18%. É uma energia cara, pois o país ainda não é abundante na produção de combustíveis fósseis, mas é vista como a solução quando falta energia hidrelétrica. Aqui, temos uma junção de fatores negativos: é cara e poluente. No entanto, é preferencial frente a outras bases.


Com 7%, vem a biomassa, que é pouco poluente, mas também é cara. Essa alternativa tende a ser mais interessante no futuro devido ao aumento da tecnologia no setor e abundância de matéria-prima, mas hoje ainda não é uma realidade para o presente.


Com 2% vem a nuclear. Como eu argumentei em outro texto, o Brasil é o sexto país com maior reservas de urânio no mundo (a Agência Internacional de Energia fala que é o sétimo, mas é uma diferença desprezível na prática), é um dos três únicos países que dominam todas as etapas da técnica de enriquecimento de urânio (junto com EUA e Rússia), e que além de ser barata e pouco poluente (sim, ela é pouco poluente!), pode ser implantada mais próxima a centros urbanos, o que diminui ainda mais os custos de transmissão. A energia nuclear hoje seria o complemento natural à energia hidrelétrica, mas por conta de um preconceito esquerdista bobo não tem seu papel redefinido na matriz energética brasileira.


Com 1% vem a eólica. Aqui se destaca que uma matriz muito mais cara e até mais anti-ambiental que a nuclear (todo parque eólico é um cemitério de aves, que são destruídas em larga escala pelas pás dos moinhos) consegue ocupar quase metade do tamanho que a energia nuclear ocupa na nossa matriz, apenas por ser querida pela esquerda brasileira, às custas do bolso de toda a nossa população.


Sobre os combustíveis importados, a se lamentar esse necessidade, fruto da burrice e da intervenção estatal no setor. Temos hoje uma fonte energética barata que dispensaria ou pelo menos reduziria a necessidade de tal importação.


Precisamos urgentemente mudar o discurso sobre fontes de energia no Brasil, de forma a nos adaptarmos ao que for mais eficiente e barato.  Com a abertura do mercado, simplificação da burocracia, descarte de visões demagógicas e racionalização da produção e distribuição de energia, poderemos aumentar a produtividade da nossa economia e garantir bem-estar para nossa população.


Um caso pela energia nuclear brasileira


Em artigo publicado no Globo, o Presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento das Atividades Nucleares, Antônio Muller, constrói um interessante argumento em favor das usinas nucleares no país, e urge pela adoção de políticas públicas nesse sentido.


Segundo o autor, o Brasil é o sexto país com maiores reservas de urânio no mundo (a Agência Internacional de Energia fala que é o sétimo, mas é uma diferença desprezível na prática), que é um dos três únicos países que dominam todas as etapas da técnica de enriquecimento de urânio (junto com EUA e Rússia), e que, embora concorde que a matriz hidrelétrica deva ser a prioridade, entende ser um equívoco o uso da energia termelétrica (carvão e petróleo), eólica e solar como fontes complementares, por serem mais caras e poluentes.


Nesse sentido, lembro ainda que as usinas hidrelétricas tem um grave problema de localidade no Brasil, visto que elas estão longe dos grandes centros consumidores de energia, e a sua transmissão gera muitas perdas ao longo do caminho, ao passo que usinas nucleares não precisam estar tão longe dos centros consumidores (a usina de Angra, por exemplo, fica a 150km da cidade do Rio de Janeiro).


O professor destaca ainda que a burocracia para implantação de usinas é exagerada (leva-se até 9 anos apenas no processo de autorização) e que há interesse do setor privado em investir nesse projeto sem um centavo de dinheiro público, e isso viria a aumentar a oferta de energia, diminuindo a conta de luz da população.


Mas a matriz energética brasileira, infelizmente, não segue os ditames da racionalidade de mercado, e sim as pautas políticas dos governantes. A desinformação acerca desse tipo de energia faz com que a população tenha medo do seu uso, que pode trazer grande progresso para o país, mas esse panorama desincentiva políticos a abraçarem a ideia. A irracionalidade é tamanha que as empresas do setor, públicas ou privadas (no caso fiscalizadas e controladas pela ANEEL), fazem campanha para que haja menos consumo de energia, ou seja, as empresas gostam de lucrar menos e, ao mesmo tempo, defendem o empobrecimento da população, já que ter energia abundante e barata à disposição para consumo é um indicativo de riqueza da população.


Uma desestatização do setor certamente levaria a uma maior abundância de recursos elétricos, com o uso da energia nuclear, além do barateamento da conta de luz e do aumento da produção industrial, gerando empregos, capital e renda. Tal reforma deve ser feita com urgência.


Por Bernardo Santoro