Luiz Claudio Paranhos, presidente da ABCZ, fala sobre a pecuária nacional, mercado externo e melhoramento genético

Você sabia que menos de 10,0% dos pecuaristas brasileiros utilizam o melhoramento genético como ferramenta no seu dia a dia?

Conhece o projeto que tem por objetivo facilitar o acesso de pequenos e médios produtores a touros zebuínos registrados, através da realização de feiras para compra e venda de animais, com financiamento de linhas de créditos específicas dos bancos?

Veja esses e outros assuntos na entrevista com Luiz Claudio Paranhos. O zootecnista, presidente da ABCZ, falou sobre a pecuária nacional, a instituição e seus projetos, a expectativa futura para o mercado externo e o melhoramento genético no Brasil.

Confira a entrevista:

Scot Consultoria: Fale brevemente da relação da ABCZ com a pecuária brasileira.

Luiz Claudio Paranhos: As raças zebuínas e a ABCZ tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da pecuária brasileira. Se hoje somos reconhecidos mundialmente por sermos detentores de um dos maiores e melhores rebanhos bovinos do mundo, isso se deve, sem dúvida, as importações de zebu da Índia e ao trabalho de registro, promoção e melhoramento genético feito pela associação ao longo dos últimos 80 anos. Podemos dizer que o rebanho nacional originou-se de um número reduzido de animais zebuínos importados (algo em torno de seis mil) e este salto em quantidade e qualidade, deveu-se ao trabalho dos pecuaristas brasileiros, que investiram nesta espécie tão adaptada aos trópicos, que é o zebu, e que trouxe significativa contribuição para o nosso país. Além da geração de riquezas, se hoje o brasileiro tem acesso a uma carne bovina de qualidade e com preço acessível, isso se deve ao esforço de milhares de produtores rurais que se empenharam para fazer da pecuária brasileira o que ela é hoje.

Scot Consultoria: Em quais projetos a ABCZ têm trabalhado para o desenvolvimento da pecuária comercial?

Luiz Claudio Paranhos: Vários são os projetos da ABCZ com foco na pecuária comercial, afinal, a missão da Associação é justamente contribuir para o aumento sustentável da produção mundial de carne e leite, através do registro, melhoramento genético e promoção das raças zebuínas.

Um dos trabalhos que podemos citar é o Pró-Genética (Programa de Melhoria da Qualidade Genética do Rebanho Bovino Brasileiro), que tem o objetivo de facilitar o acesso de pequenos e médios produtores a touros zebuínos registrados, através da realização de feiras para compra e venda de animais, com financiamento de linhas de créditos específicas dos bancos. Com oito anos de realização do projeto, mais de sete mil touros registrados foram comercializados e mudaram a realidade de muitos pequenos criatórios, com o incremento da qualidade dos produtos e, consequentemente, aumento da produtividade e renda do produtor.

Outro trabalho mais recente, que está sendo gerado através de uma parceria entre a ABCZ e o CEPEA da ESALQ/USP, é a realização de uma pesquisa sobre o impacto ambiental, social e financeiro da genética zebuína melhoradora em fazendas de produção. Os resultados da pesquisa irão orientar os criadores de zebu sobre as melhores ações e ferramentas para aumentar a produtividade em suas propriedades. A pesquisa será coordenada pelo pesquisador Dr. Sérgio De Zen.

Scot Consultoria: Em relação ao mercado externo, quais as estratégias da ABCZ para o próximo ano?

Luiz Claudio Paranhos: Existe uma expectativa muito positiva para os produtos pecuários nos próximos anos. Segundo recente apresentação da APEX Brasil, entre 2014 e 2018, a expectativa é de que o consumo mundial de carne cresça anualmente em torno de 5,29%, com destaque para países da Ásia, América Latina, África e Oriente Médio. O consumo de leite e derivados também deve crescer no mesmo período, em torno de 5,53% anualmente.

O Departamento Internacional da ABCZ, que faz a gestão do Projeto Brazilian Cattle juntamente à APEX Brasil, está atento às demandas do mercado externo e trabalhará para que o Brasil conquiste os mercados onde as raças zebuínas tem plena potencialidade para se desenvolver.

Um grande entrave para a exportação de sêmen e embriões para o exterior continua sendo as burocracias dos Protocolos Sanitários. Nossa intenção é visitar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em breve para tentarmos sensibilizar as autoridades brasileiras sobre esta questão. Não podemos perder mercado por problemas meramente burocráticos.

Scot Consultoria: Podemos dizer hoje que o Brasil é um país que aderiu totalmente ao melhoramento genético? Como está sendo o desenvolvimento e aceitação desta tecnologia?

Luiz Claudio Paranhos: Infelizmente não. Temos muito trabalho a fazer. Podemos dizer que menos de 10,0% dos pecuaristas brasileiros utilizam o melhoramento genético como ferramenta no seu dia a dia. E, por isto, este é o grande desafio para a ABCZ nos próximos anos. Recentemente, lançamos o 100,0% PMGZ, um novo formato para o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos. Um dos pontos básicos deste programa, a partir de agora, é que o técnico da ABCZ atenderá os criadores participantes de forma individual e personalizada. Durante a visita ao criatório, o técnico da ABCZ fará uma avaliação do estágio do rebanho, possibilitando o acompanhamento e análise de ganhos genéticos  futuros. Durante o atendimento, o criador e sua equipe também receberá orientação sobre a importância e os benefícios da estação de monta e dos grupos de manejo, relatório de pesos nas idades padrão e parâmetros para descarte, explicação de conceitos de melhoramento genético (como DEPs, acurácia, consanguinidade, etc), apresentação das avaliações genéticas do criador, das tendências genéticas do rebanho e o acasalamento dos animais conforme estas tendências.

Antes de chegarmos a isto, no entanto, a ABCZ organizou os dados  e processou as avaliações genéticas dentro da própria ABCZ, com a consultoria dos mais renomados pesquisadores na área, que culminou no lançamento do Sumário de Touros - Corte em agosto passado.