O projeto de investimento em países bolivarianos com dinheiro brasileiro que está na crista da onda agora é a Hidrelétrica de Tumarin, na Nicarágua, projeto esse está sendo custeado tanto pelo BNDES quanto pela própria Eletrobras, tendo a Queiroz Galvão, empresa do Petrolão, como a principal acionista da pessoa jurídica criada especialmente para o projeto.
Se eu supostamente tivesse obtido informações sobre a criação e elaboração desse projeto em virtude de relações pessoais, eu saberia que supostamente o projeto, que hoje já ultrapassou a marca de 2,5 bilhões de reais de financiamento, na verdade tinha custo original de pouco mais de 400 milhões de reais, e que, supostamente é claro, foram feitos vários esforços por pessoas decentes ligadas ao projeto no sentido de pesquisar tecnologias mais modernas e baratas para a construção da hidrelétrica, mas que, também supostamente, essas pessoas teriam sido afastadas porque não foi do interesse dos dois governos envolvidos o barateamento do projeto, e que depois da intervenção pessoal do Ministro de Relações Exteriores da Nicarágua e de um Assessor Especial da Presidência brasileira (um cara "top", mas "top" mesmo), os custos das obras foram multiplicados por cinco.
Tudo isso, repito, está no âmbito da suposição, sem nenhuma comprovação fática, e seria leviano (para usar uma palavra da moda) afirmar qualquer coisa nesse sentido.
Mas essa situação, na verdade, tem um problema mais profundo que nunca é deixado de lado neste espaço, que é a concentração de crédito nas mãos do governo federal para aplicação a partir de critérios políticos, e não econômicos, tal como preza o mercado.
A partir de critérios econômicos, há um respeitado estudo feito pelo investidor e pelo empreendedor para avaliar a melhor maneira de se alocar recursos a partir das necessidades de um mercado consumidor que precisará sustentar a viabilidade do negócio. Já a partir de critério políticos, a satisfação é de grupos de interesses e de burocratas, pouco se importando a viabilidade econômica do projeto. Não parece ser do interesse da sociedade brasileira o investimento de dinheiro público nacional em uma obra supostamente superfaturada na Nicarágua, especialmente em um momento de escassez energética no Brasil e grave crise econômica na própria Nicarágua, cujo povo terá pouca possibilidade de retornar o dinheiro lá aplicado.
Enquanto insistirmos em usar a via política para a alocação de recursos na sociedade, a própria sociedade será sempre a mais prejudicada.
Por Bernardo Santoro