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Carta Conjuntura - Nem o agronegócio salvou a balança comercial em 2014

por Maisa Modolo Vicentin
Segunda-feira, 19 de janeiro de 2015 -17h10

A balança comercial brasileira patinou em 2014 e o resultado foi um déficit de US$3,93 bilhões, segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).


Foi a primeira vez em catorze anos que as importações superaram as exportações. Este resultado não ocorria desde 2000.


Comparando o faturamento com 2013, as exportações e as importações diminuíram. Os embarques caíram 7,0%, e as importações caíram 4,4%.


Dos dez principais produtos exportados em 2014, seis foram do agronegócio. Veja na tabela 1.



Fatores relacionados aoresultado em 2014


- Conta petróleo: o elevado déficit da conta petróleo no ano passado, cujo montante foi de US$16,64 bilhões, foi uma das causas do déficit da balança comercial em 2014.


No entanto, frente a 2013, o resultado melhorou, já que naquele ano o déficit no setor fora de US$20,36 bilhões. 


O aumento da produção nacional de petróleo e derivados em 2014 permitiu o aumento de 13,9% no faturamento com as vendas para o exterior e com a redução do déficit da conta petróleo, mesmo com a queda das cotações.


Embora tenha melhorado, o resultado da conta petróleo não foi suficiente para manter positiva a balança comercial, mas foi um grande colaborador para o quadro deficitário, dada a participação desde setor no faturamento total (7,4% em 2014).


-Redução dos preços das commodities: alguns dos principais produtos exportados no ano passado tiveram redução significativa de preços, o que provocou a queda no faturamento (tabela 2).



-Safra de grãos: a produção de grãos em 2013/14 cresceu 3,6% em relação ao ciclo anterior. O recorde de 195,50 milhões de toneladas e o consequente aumento na disponibilidade interna possibilitaram aumento das exportações.


-Câmbio: a valorização do dólar frente ao real foi positiva para as exportações em 2014. A cotação da moeda americana passou de R$2,40 para R$2,66 entre janeiro e dezembro, alta de 10,8%.


-Cenário internacional: a Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, reduziu em 27,2% as compras de produtos brasileiros em 2014 em relação ao ano anterior, dada a sua situação econômica frágil. Foram US$5,33 bilhões a menos.


Além disso, outros importantes parceiros comerciais do Brasil diminuíram as compras no ano passado (figura 1).



Resultado do agronegócio


Por outro lado, o agronegócio fechou 2014 com balanço positivo: as exportações superaram as importações em US$80,13 bilhões.


Mesmo positivo, o resultado em relação a 2013 foi de queda. Foram US$96,75 bilhões embarcados no ano passado, frente a US$99,97 bilhões em 2013.


As importações caíram 2,6% no período.


O complexo soja liderou os embarques do setor e gerou US$31,40 bilhões, sendo o principal produto exportado a soja grão, com um faturamento de US$23,27 bilhões.Em segundo lugar ficou o grupo das carnes, que renderam US$17,43 bilhões, dos quais 41,0% representam o faturamento com a carne bovina (US$7,15 bilhões).


O complexo sucroalcooleiro foi o terceiro setor em valor exportado, com US$10,37 bilhões ao longo do ano. O açúcar foi o principal item embarcado, com participação de 91,2% (US$9,46 bilhões). 


Já as exportações de álcool caíram 51,9% em relação a 2013 e somaram US$898,00 milhões. Essa queda foi a responsável pela redução dos embarques no setor sucroalcooleiro, cuja retração foi de 14,3% no período.


Este ano poderá ser de recuperação


Mesmo com o déficit na balança comercial brasileira em 2014, alguns fatores foram positivos e colaboraram com os embarques, como a taxa de câmbio e a safra de grãos.


Além disso, o agronegócio apresentou bom desempenho e aumentou a participação no faturamento com as exportações do país em relação ao ano passado: 43,0% em 2014 contra 41,3% em 2013.


Embora o resultado da conta petróleo não tenha sido positivo, a diminuição do déficit em relação ao ano passado colaborou para que o resultado geral não fosse pior. Em 2015, o aumento da produção doméstica tenderá a gerar um resultado melhor para a conta petróleo, diminuindo o déficit do setor.


A boa expectativa de produção de grãos 2014/15 deverá continuar mantendo os embarques e consequentemente o saldo positivo da balança.


A expectativa de crescimento da economia norte-americana tende a colaborar com o incremento das compras globais, entre eles, produtos brasileiros.  


O real deverá permanecer desvalorizado ao longo do ano. A expectativa do Relatório Focus do Banco Central está em US$1,00 x R$2,80, o que poderá ajudar no resultado comercial.


Por outro lado, os preços das commodities e o cenário internacional, podem afetar negativamente o desempenho da balança comercial e em função disso o monitoramento constante do mercado é recomendável.