As fêmeas que estão em monta desde outubro estão sofrendo mais com o clima do que na estação passada, quando também houve estiagem. A boiada de pasto que deveria estar sendo entregue às indústrias, não apareceu.
Se o clima em 2014 agravou a oferta de bovinos, ao que tudo indica, 2015 poderá ser pior. Veja a figura 1.
Note que, com exceção da região Sul, em praticamente todo território nacional choveu menos no começo da safra atual do boi gordo.
Esse comportamento poderá fazer de 2015 mais um ano com forte abate de fêmeas. Matrizes com menor oferta de capim estão mais sujeitas ao déficit nutricional, o que normalmente aumenta os problemas reprodutivos e, consequentemente, o descarte.
Em 2014, mesmo com a alta de quase 40,0% nos preços da desmama de sete meses, segundo dados parciais do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), até o terceiro trimestre, o total de vacas e novilhas abatidas foi o segundo maior já registrado, apesar da redução de 2,0% em relação ao mesmo período de 2013.
O impacto disso afeta diretamente o mercado. Se já está "caro" repor em função da pouca oferta de categorias de bovinos mais jovens, a seca aumenta a chance de mais uma safra de bezerros "fraca" e de alta de preços.
Estamos no final de janeiro e nada das chuvas regulares.
Veja a figura 2 que exibe o nível de precipitação acumulada, - que não passa de 100 milímetros na maior parte do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, - e a normal climatológica para janeiro, que indica que em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, deveria ter chovido quase 400 milímetros.
A previsão de entrega de boiadas em janeiro, que já era pequena, pois o garrote e o boi magro de 2014, que estariam terminados agora, estavam em falta, ficou ainda menor. O invernista que tinha o bovino na fazenda teve dificuldade para realizar a terminação. Um novo limitador para a oferta.
Além de não permitir a recuperação do capim, a seca não favoreceu quem precisava reformar o pasto.
Se já há no Brasil uma grande parte da produção pecuária baseada em pastagens degradadas, a parcela de produtores que investe em tecnologia e programou a reforma, passou por dois anos, 2013 e 2014, em que as condições não foram ideais para o investimento.
Se considerarmos uma taxa de 3,5% ao ano de renovação de pasto, em dois anos, seriam 12 milhões de hectares. Se, pelo menos, metade disto não foi renovado em função das condições climáticas, são seis milhões de hectares de pastagens ruins.
A partir daí, utilizando a taxa média de lotação do país, 1 U.A./ha, são mais de seis milhões de Unidades Animal (UA), aproximadamente 7,5 milhões de cabeças, 4,0% do rebanho nacional, que podem ter tido sua oferta de forragem diminuída em volume e qualidade em função da não renovação do pasto.
Previsão
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), apesar dos baixos índices de precipitações em janeiro, no acumulado do primeiro trimestre o volume de chuvas em parte do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste deverá ser bom (Figura 3).
Porém, regiões com grandes rebanhos de bovinos, como Sul do Mato Grosso do Sul, Rondônia, Noroeste do Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Oeste do Maranhão e Rio Grande do Sul, sofrerão com a estiagem até o final do período considerado safra.
Ou seja, não deverá haver alivio para a oferta nestas partes do país em 2015 e, com isso, a pressão de alta sobre os preços da arroba poderá aumentar.
Por fim, embora para o invernista a estiagem diminua a disponibilidade de bezerros e aumente o custo com suplementação, também melhora a remuneração pelo boi gordo e, a exemplo do que ocorreu em 2014, poderá deixar o cenário de preços interessante.
É a indústria quem deve sentir mais o peso da seca esse ano. O cenário é de matéria prima "cara" e dificuldade de repasse dos preços.
Se a economia crescer míseros 0,13% e a taxa de inflação medida pelo IPCA ficar em 7,0% a.a., como indicou o Boletim Focus do Banco Central no dia 26/1, repassar a valorização da arroba para o consumidor, será tarefa mais difícil do que foi em 2014.
Naquele ano, o frigorífico que desossa apurou margem de 19,5%, em média, com alguns momentos em que a medição diária indicou diferença entre a receita e o custo com matéria prima de 10,0%.
Em 2013 a média havia sido de 23,0%.