O clima atua diretamente na produtividade das atividades agrícolas e pecuárias, principalmente no que diz respeito à água. Isso faz com que medidas de manejo do solo e investimentos em infraestrutura se façam extremamente necessárias.
Para 2015, a expectativa é de pequena intervenção do fenômeno climatológico El Niño no Brasil. Já podemos observar isso devido às boas chuvas que têm caído na Região Sul do Brasil, que apresenta períodos maiores de estiagem quando o fenômeno está mais ativo.
A previsão é de que o El Niño seja fraco e se encerre precocemente, ao final de março. Com isso teremos um ano mais próximo da normalidade climática.
A estiagem que castigou grande parte do Brasil no final de 2014 e começo de 2015 vem perdendo força e as precipitações estão se tornando maiores e mais regulares nas últimas semanas. Veja a figura 1.
Essa estiagem tem como origem o aquecimento de águas do Oceano Pacífico, fenômeno comum e cíclico, que no Brasil reduz a frequência e a força das frentes frias que vêm do Polo Sul para o Sudeste e gerariam as chuvas.
Vale ressaltar que a Região Sul não foi afetada por esses fenômenos e as chuvas se mostraram até 150 milímetros acima da normal climatológica em janeiro (Figura 2).
Já na Região Sudeste e Nordeste a estiagem foi acentuada. As precipitações ficaram até 180 mm abaixo das normais climatológicas em janeiro deste ano.
As chuvas que caíram em fevereiro estão recuperando a capacidade hídrica dos solos na maior parte do Sudeste, com exceção do Norte do Rio de Janeiro e Espírito Santo e sul da Bahia.
O Oeste Paranaense também necessita de chuvas pontuais de até 60 mm para estabilizar seu balanço hídrico.
Nessas regiões o déficit hídrico é maior, necessitando de chuvas momentâneas de até 70 milímetros para equilibrar o balanço hídrico.
A seca continua acentuada na região Nordeste, principalmente em Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e parte do Ceará. Nesses locais há a necessidade de reposição hídrica por chuva de mais de 70 milímetros.
A falta de chuvas prejudicou os sistemas de irrigação de frutas na região do Irrigado do São Francisco, com quedas nas produtividades.
Pecuária
A falta de chuvas no final do ano passado e começo de 2015 nas regiões do Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte do Norte prejudicou a qualidade e quantidade das pastagens.
Com isso, os confinadores podem ter que antecipar o fechamento dos animais devido à falta de forragem.
Para animais com dieta estritamente a pasto, houve a necessidade de se aumentar a suplementação alimentar. Isso afeta os custos de produção dos animais que estão sendo abatidos no primeiro trimestre desse ano, diminuindo as margens do produtor.
Outro problema causado é a queda nos índices de reprodução dos bovinos, que à época, estavam na estação de monta.
A temperatura é outro fator que poderá afetar o ganho de peso dos animais, principalmente das raças de cruzamento industrial. Como é possível ver nos mapas da figura 3, desde novembro de 2014 as temperaturas máximas médias estão de 1º C até 5º C maiores que as normais climatológicas.
Grãos
Na região Centro-Oeste, maior produtora de soja no Brasil, ocorreu um forte estresse hídrico entre novembro e primeira quinzena de janeiro, causando impactos negativos nas produções do estado de Goiás e no Distrito Federal.
Tal falta de chuva, porém, não foi capaz de diminuir a expectativa de produção para os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que esperam acréscimos de produção de 1,5% e 2,0% respectivamente.
Para o Sul do país, a expectativa é de aumento da produtividade média. A região não sofreu com as estiagens que atingiram o restante do território brasileiro e suas chuvas vieram acima do normal para os meses de dezembro de 2014, janeiro e fevereiro de 2015.
Nas duas últimas semanas de fevereiro, a colheita da soja foi prejudicada, tanto na região Sul quanto no Centro-Oeste. As chuvas dificultaram a entrada das máquinas no campo para a colheita.
Como a oleaginosa foi plantada com até 20 dias de atraso, devido a veranico ocorrido em outubro e novembro, a colheita também atrasou. Somado às atuais dificuldades de colheita do grão e aumento do atraso em relação à safra de 2013/2014, o intervalo de plantio da safrinha será menor.
Para os produtores de milho safrinha, o ano de 2015 será um desafio.
Com menor janela de plantio da cultura, aumento dos custos de produção devido à alta do dólar e aumento dos combustíveis, e preços pressionados a curto e médio prazo. Todas essas dificuldades necessitarão de agilidade na tomada de decisões pelos produtores, o que pode garantir o lucro ou agravar o prejuízo.
Previsões para curto e médio prazo
Para o período entre os dias 4 e 12 de março, a previsão é de grande volume de chuvas em boa parte do Brasil (figura 4).
Em regiões como Nordeste, Sul e extremo Norte do Brasil os volumes serão, em relação às demais regiões brasileiras. Com isso, espera-se um avanço maior na colheita da safra de grãos nessas regiões, que vinha sendo atrapalhada pelo excesso de chuvas.
Precipitações de até 175 milímetros são esperadas para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte em geral. Essas chuvas serão fundamentais para recuperação dos estoques hídricos e para a recuperação das pastagens que sofreram com os veranicos.
No entanto, as chuvas tendem a diminuir consideravelmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, no período compreendido entre 12 a 20 de março. Esse recuo favorecerá o término da colheita da safra 2014/2015 e o desenvolvimento da safrinha nessas regiões.
No Norte do país haverá maior incidência de precipitações, o que pode dificultar o trânsito pelas áreas rurais, bem como o embarque e transporte de bovinos para abate.
Para os próximos três meses, a previsão é de redução considerável das chuvas, situação típica para o outono. Para as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste a previsão é de chuvas abaixo das normais climatológicas.
Por outro lado, nas regiões Norte e extremo Sul do país, a previsão é de chuvas, em média 50,0%, acima da normal climatológica (figura 5).
Colaborou André Mazi, graduando em engenharia agronômica e em treinamento pela Scot Consultoria.