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Confinamento: preços recordes da arroba, mas resultados econômicos apertados

por Rafael Ribeiro
Quarta-feira, 24 de setembro de 2014 -17h28

Artigo originalmente publicado na Revista Agroanalysis

No confinamento bovino, os custos com a aquisição do boi magro representam por volta de 70,0% dos custos operacionais da atividade, segundo estimativa da Scot Consultoria.


A alimentação é o segundo item de peso no bolso do pecuarista. Representa entre 20,0% e 25,0% dos custos, dependendo da dieta.


A sanidade representa entre 1,0% e 2,0% e o restante é composto pelos demais custos operacionais, além da depreciação.


Preços da arroba


Em 2014 o mercado do boi gordo se manteve em um bom patamar de preço, mesmo na safra. A oferta restrita de boiadas para abate ditou o mercado.


Com a entressafra, o mercado firmou ainda mais e os preços subiram fortemente. A arroba do boi gordo atingiu em setembro as maiores cotações nominais do ano.


Segundo levantamento da Scot Consultoria, na região de Barretos, em São Paulo, a arroba do boi gordo foi negociada por R$129,00, a vista. Veja a figura 1.


Figura 1.
Preços da arroba do boi gordo na região de Barretos, em São Paulo, em R$ por arroba, à vista.



Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Apesar da demanda por carne bovina patinar em meados de setembro, a menor oferta de rebanhos para abate foi mais forte neste momento (entressafra) e tem ditou os preços no mercado do boi gordo.


Em relação a setembro do ano passado, o pecuarista recebeu 21,4% mais pela arroba.


As expectativas são positivas, apesar das cotações terem caído no mercado futuro (especialmente o out/14 e o nov/14).


Os contratos futuros de boi gordo com vencimento em outubro/14 fecharam cotados em R$127,90 (12/9).


Para novembro/14 o mercado aponta para uma arroba de R$128,74/@. Para dezembro/14, os contratos fecharam em R$129,10/@.


Considerando o boi magro e a alimentação, tivemos comportamentos distintos entres os preços destes itens.


Boi magro


Os preços do boi magro estão firmes.


Além de procurado nesta época do ano pelos confinamentos, a oferta está menor e os preços subiram.


Em São Paulo, o boi magro  de12@, anelorado, foi negociado por R$1.570,00 por cabeça, uma alta de 22,2% na comparação com o mesmo período do ano passado (figura 2).


Figura 2.


Preço médio do boi magro em São Paulo, média estadual, em R$ por cabeça.



Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Mas neste patamar de preço de boi magro, o confinamento é lucrativo?


Antes de responder, vejamos como se comportou o custo da dieta


Alimentação


A queda do preço do milho foi o grande destaque.


A baixa liquidez no mercado interno, com os vendedores retraídos devido às quedas das cotações, as exportações brasileiras patinando, a elevada disponibilidade interna e o início da colheita nos Estados Unidos, com expectativa de safra cheia, são os principais fatores de baixa.


Na região de Campinas, em São Paulo, o preço do milho caiu 35,4% desde março e o pecuarista está pagando 13,9% menos pelo grão em relação a setembro de 2013.



Figura 3.

Preço médio do milho em São Paulo - Reais/sacas de 60kg



Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br


Em curto prazo, não estão descartadas quedas nos preços do milho. Os leilões têm ajudado com o escoamento da produção, mas não têm sido suficientes para dar sustentação aos preços.


No mercado internacional, as cotações caíram às mínimas do ano na Bolsa de Chicago (CBOT), com o início da colheita norte-americana, cuja produção está estimada em 366,65 milhões de toneladas nesta temporada.


Os preços do farelo de soja também caíram, acompanhando a desvalorização da soja grão. A tonelada do alimento concentrado ficou cotada em R$1.078,00, sem o frete, 8,9% menor frente ao mesmo período do ano passado.


As quedas das cotações do milho e do farelo de soja pressionaram para baixo os preços dos alimentos alternativos, tais como a polpa cítrica, o sorgo, e o farelo e o caroço de algodão.


Resultado econômico


Para a estimativa do resultado econômico, consideramos a cotação das diárias que os confinamentos cobram para engordar bois de terceiros, é uma boa medida para mensurar de forma genérica o resultado que a atividade poderá gerar em 2014.


As diárias neste ano estão oscilando entre R$5,50/cabeça/dia em estados como Mato Grosso e Goiás, grandes produtores de grãos, e R$7,50 a R$8,50/cabeça/dia em São Paulo.


Neste modelo de parceria, aproximadamente 75% da diária é composto pela dieta. Os custos operacionais, que envolvem custos fixos e variáveis correspondem a 15%. O restante, 10%, referem-se ao que sobra para o prestador do serviço.


Foram considerados os extremos de preços cobrados pelos boiteis em São Paulo.


O preço de venda da arroba do boi gordo considerado foi de R$128,74, referente ao fechamento do dia 12 de setembro, para o contrato futuro de boi gordo de novembro/14.


Consideramos 90 dias de engorda, e o preço médio do boi magro anelorado com 12@ em agosto deste ano, em R$1.532,50 por cabeça. O ganho de peso médio foi de 1,5 quilo por dia.


O resultado obtido foi de R$129,13 por cabeça, com uma taxa de retorno do capital de 5,85% em três meses, com o custo do boitel em R$7,50 por dia.


Levando em conta o boitel custando R$8,50 por dia, o resultado fica mais apertado para ao pecuarista. O lucro cai para R$39,13 por cabeça, com rentabilidade média de 1,70% no período. Veja tabela 1.


Tabela 1.
Simulação de resultado econômico do confinamento bovino em 2014.



Fonte: Scot Consultoria - www.scotocnsultoria.com.br



Considerações finais


O planejamento da atividade é fundamental para antecipar os movimentos de altas e baixas de preços e garantir bons resultados econômicos.


No caso do confinamento bovino, o resultado positivo está diretamente relacionado a uma boa compra do boi magro e/ou dos insumos, em especial dos alimentos.


A proteção dos preços de venda é fundamental para o pecuarista que conhece os seus custos e, pensando em longo prazo, a permanência na atividade.


Na pecuária de corte moderna, em especial nos sistemas intensivos, como é o caso do confinamento, não existe espaço para erros.