Raquel Landim escreveu uma excelente coluna na Folha de São Paulo. Com o título "As mentiras que o BNDES conta", Raquel trata de desmentir todas as falácias divulgadas pelos defensores dos financiamentos externos do BNDES. Vale a leitura.
Há um ponto, porém, no artigo de Raquel, de que discordo. É quando ela reverbera o falso argumento segundo o qual "Esses empréstimos até fazem algum sentido, porque permitem as empresas nacionais exportar mais, gerando mais empregos e mais renda no país".
Tal argumento é falso porque desconsidera os custos de oportunidade e o uso alternativo dos recursos desembolsados pelo banco de fomento. Tais recursos poderiam, por exemplo, ser utilizados para financiar investimentos dentro do Brasil - e não em países bolivarianos amigos, o que certamente geraria mais empregos domésticos. E, caso o governo não tomasse esses recursos do setor privado, seja através de impostos ou emissão de títulos públicos, eles seriam utilizados em outros projetos, muito provavelmente mais eficazes do ponto de vista econômico, já que baseados em parâmetros de preço e lucro.
Ademais, ao conceder empréstimos ao exterior, o BNDES beneficia, além de alguns governos "amigos" ideologicamente, meia dúzia de empresas bem relacionadas com o poder central, gerando grandes lucros à custa dos riscos suportados pelos contribuintes, que são, em última instância, os reais financiadores desses contratos.
Com efeito, os financiamentos do BNDES - e não apenas os internacionais - espelham de forma nítida o crescimento desmesurado do capitalismo de estado no Brasil, com seus favoritismos, parcerias público-privadas, e controles econômicos.
Como bem descreveu recentemente Jeb Hensarling, por trás desse processo está uma filosofia esdrúxula que considera que empresas, trabalhadores, investidores e consumidores não teriam o conhecimento necessário para fazer escolhas racionais por conta própria, devendo ser substituídos por burocratas e políticos, não raro tomando decisões arbitrárias, anticoncorrenciais e empurradas por interesses especiais, porém, sempre à custa do dinheiro público.
Não por acaso, as atividades comerciais estão cada vez mais impulsionadas não pelo que o consumidor deseja ou por decisões empresariais baseadas nesses desejos, mas por decisões burocráticas e preferências políticas.
Quando os governos decidem quem ganha e quem perde, o sucesso depende cada vez menos do trabalho e da competência, e cada vez mais das boas conexões com o governo. Trata-se de um jogo fácil, conveniente e imune a riscos.
Surpreendentemente - uma vez que boa parte da retórica petista está centrada no ataque à ganância corporativa -, o PT defende com unhas e dentes este tipo de arranjo na formulação das políticas econômicas. Como bem definiu Jonah Goldberg em seu excelente "Fascismo de Esquerda", no fundo essa estratégia tem uma só intenção: controlar aqueles que eles apadrinham e subsidiam.
Por João Luiz Mauad