O Banco Central disse na quinta-feira (6/8) que o cenário de convergência para a inflação a 4,5% no final de 2016 tem se fortalecido e os riscos desse cenário são "condizentes com efeitos acumulados e defasados da política monetária", mas que ainda é preciso manter-se "vigilante em caso de desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta".
Por meio da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC avaliou ainda que as mudanças na geração de superávit primário impactam as projeções de inflação e que os ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação.
Diante disso, reafirmou que "a política monetária pode, deve e está contendo os efeitos de segunda ordem deles decorrentes, para circunscrevê-los a 2015".
Na semana passada, o BC elevou a Selic em 0,5 ponto percentual - a 14,25% ao ano, maior nível em nove anos - e sinalizou que estaria interrompendo esse ciclo monetário, que começou em outubro passado e gerou alta acumulada de 3,25 pontos percentuais.
O BC Afirmou que a manutenção desse patamar da taxa por "período suficientemente prolongado" é necessário para a convergência da inflação para o centro da meta - de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos - no fim de 2016.
Diante da ata, alguns especialistas entenderam que o BC deixou a porta aberta para elevar a Selic novamente, mais cedo ou mais tarde.
"O Copom pode voltar a elevar juros, mas num cenário em que tenha um desvio muito grande em relação ao que se projeta para o ano que vem. Ele se colocou uma barreira para voltar a aumentar o juro que é relativamente alta", afirmou o economista-chefe, Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo.
O quadro político e econômico turbulento, combinado com o salto do dólar em relação ao real, já vinha levando alguns investidores a apostarem que a autoridade monetária pode ter de elevar novamente os juros em setembro, próximo encontro do Copom.
Segundo cálculos da Reuters, desde a véspera, os DIs mostravam chances praticamente iguais de manutenção da Selic no próximo mês e elevação de 0,25 ponto, a 14,50%
Pela pesquisa Focus do BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas, as expectativas de alta do IPCA para este ano são de 9,25%, recuando a 5,40% em 2016 e a 4,70% em 2017. Somente no ano seguinte, ela ficaria no centro da meta, de 4,5%.
Só em julho, o dólar subiu 10,0% sobre o real, acumulando nos primeiros sete meses do ano quase 30,0% de valorização. E, neste semana, chegou a 3,50 reais, maior cotação em 12 anos.
Sem especificar números e pelo cenário de referência - que leva em consideração dólar a R$3,25 e Selic a R$13,75 -, a autoridade elevou sua estimativa de inflação para 2015, permanecendo acima da meta, e manteve para 2016, também acima da meta.
Pela ata, o Copom informou ainda que as mudanças na geração de superávit primário impactam as projeções de inflação e "podem contribuir para criar uma percepção menos positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo". Mesmo assim, acredita que o setor público tende a ir para a zona de neutralidade, "e não descarta a hipótese de migração para a zona de contenção, mesmo que com menor intensidade".
Fonte: Reuters. 6 de agosto de 2015.