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O mercado do boi gordo estará “frouxo” em 2016?

por Equipe Scot Consultoria
Quarta-feira, 4 de novembro de 2015 -15h23



Hyberville Neto responde a esse e outros questionamentos na entrevista abaixo.


"O pecuarista deve avaliar o retorno do investimento adicional em tecnologia. Investir R$1,00 por animal sem retorno sai muito mais "caro" que investir R$30,00, com um retorno de R$50,00, por exemplo. A questão é que tecnologia tem que gerar resultado e, este, tem que pagá-la direta ou indiretamente. Se o uso não der retorno, é moda."


Essa e outras opiniões, Hyberville Neto, consultor da Scot Consultoria, teceu em um bate-papo sobre a pecuária brasileira.


Hyberville será um dos debatedores do bloco sobre o mercado do boi gordo do Encontro de Analistas da Scot Consultoria, que acontece dia 27 de novembro, em São Paulo-SP.


Para mais informações sobre o Encontro, acesse www.encontrodeanalistas.com.br.


Você também pode ter acesso a um excelente texto escrito pelo entrevistado, onde são expostas 6 dicas para se ganhar dinheiro com a pecuária. O link está abaixo:


https://www.scotconsultoria.com.br/noticias/cartas/41021/carta-boi---seis-dicas-para-ganhar-dinheiro-com-a-pecuaria.htm


Confira a entrevista:


Scot Consultoria: Qual é a situação do mercado de animais terminados atualmente?


Hyberville Neto: O mercado veio de alguns anos de abates de fêmeas em alta, o que diminuiu a oferta de bovinos terminados. Entre janeiro e junho tivemos uma redução de 9,0% no total de animais abatidos, frente ao mesmo período de 2014.


Apesar disto, a cotação média este ano está cerca de 15,0% maior que a média de 2014, considerando São Paulo como referência. Ou seja, houve valorização real, mesmo se descontarmos uma bela inflação, na casa de 9,5%, considerando o IPCA acumulado em 12 meses.


 As taxas de desemprego em alta, inflação corroendo o salário da população e preços da carne historicamente valorizados geram diminuição da demanda e migração para as proteínas alternativas, com destaque para o frango, cuja competitividade frente à carne bovina tem estado em alta ao longo de 2015.


Este ano, no primeiro semestre, os dados disponíveis apontam para o início da retenção de fêmeas, o que tende a aumentar a produção nos próximos anos e impactar o mercado.


Scot Consultoria: Usar mais tecnologia é a saída para a pecuária?


Hyberville Neto: Não necessariamente. As tecnologias presentes no mercado, em geral, produzem resultados positivos, mas não em todos os sistemas e nem todas as novidades são boas.


O pecuarista deve avaliar o retorno deste investimento adicional em tecnologia. Investir R$1,00 por animal sem retorno sai muito mais "caro" que investir R$30,00, com um retorno de R$50,00, por exemplo. A questão é que tecnologia tem que gerar resultado e, este, tem que pagá-la direta ou indiretamente. Se o uso não der retorno, é moda.


Produzir mais arrobas com a mesma área, benfeitorias e veículos dilui os custos fixos e indiretos por unidade produzida. Mas a questão é fazer contas, mesmo que no começo sejam avaliações simples deste retorno.  


Scot Consultoria: Em sua opinião, qual é o maior gargalo para a pecuária brasileira?


Hyberville Neto: Gestão, no sentido amplo. Tanto focando na gestão dos processos e custos na fazenda, como a gestão de riscos e avaliação do mercado.


Falta gestão, seja para intensificar a produção usando insumos que deem retorno, seja para alocar recursos nas atividades mais rentáveis, dentre outros.


Por exemplo, o pecuarista que acompanha o mercado futuro teve ótimas oportunidades de garantir preços de venda historicamente bons. Seja via mercado a termo com a indústria, seja usando a bolsa (BM&FBovespa).


Outra análise. A relação de troca com diversos insumos passou por patamares interessantes ao longo de 2015. Isto indica que usar insumos a mais para ampliar os ganhos de produtividade tende a ter gerado resultados positivos. Isto porque a arroba produzida comprava historicamente mais insumos. Saber se é hora de usar mais ou menos insumos faz parte da gestão.


E por aí vai. Saber o custo do que é produzido é o primeiro passo para avaliar um preço de venda. Saber se vender o boi gordo a R$140,00/@ é bom ou ruim depende de quanto ele custou.


Scot Consultoria: O próximo ano deve ser de mercado frouxo?


Hyberville Neto: Para 2016 ainda não esperamos uma oferta abundante de bovinos de reposição ou terminados. Deve ser um ano de preços andando de lado ou com alguma desvalorização real (considerando a inflação), mas não esperamos quedas expressivas.


É claro que estas expectativas também estão sujeitas à demanda. E aí entram todas as dúvidas possíveis. Temos inflação em alta, confiança do consumidor em baixa, desemprego crescente, dentre outros fatores que, diretamente afetam o consumo.


Para o próximo ano projetamos um mercado andando de lado, como citado, se a economia continuar fraca, mas não derreter de vez. E isto não há quem possa garantir.


Não temos apenas as questões econômicas, mas também a anarquia no campo político, que desanima qualquer investidor e, consequentemente, atrasa o início de uma recuperação.