Sabia-se que o financiamento da safra 2015-1016 seria bem mais complicado que nos anos anteriores, marcados por fonte expansão do crédito. A razão principal das dificuldades estaria na diminuição de recursos das duas fontes principais, o depósito à vista dos bancos e a caderneta de poupança rural que, em conjunto, responderam por 77% do crédito rural total em 2014 (custeio, investimento e comercialização).
Por hora, o volume de crédito para custeio agrícola está com desempenho acima do esperado: nos cinco primeiros meses da safra atual, de julho a novembro de 2015, foram contratados R$39,0 bilhões, com aumento de 31,5% sobre os R$29,7 bilhões do mesmo período do ano passado, segundo dados do Banco Central. Em contraste, o número de operações contratadas caiu 9,5%, para 461 mil contratos.
O custeio pecuário caiu 6,9% em valor (de R$11,4 bilhões para R$10,6 bilhões) e 6,2% em número de contratos (de 141 mil para 132 mil), no comparativo da safra atual com a passada.
Em resumo, o crédito rural total chegou a R$73,5 bilhões nos cinco meses da safra, mostrando uma queda de 6,8% sobre a safra passada. O custeio compensou em boa parte o mergulho do crédito para investimento e a ligeira retração dos recursos para comercialização.
"Lucro menor é lucro"
Também se esperava de antemão que a rentabilidade e a disponibilidade de caixa dos produtores de grãos (tomando-se o conjunto das lavouras) seriam menores neste ano. No entanto, vale a observação de que lucro menor é lucro. Isso é tão mais verdade quando se compara o desempenho da agropecuária com muitos setores da indústria e dos serviços, encalacrados em forte crise de demanda.
A desvalorização cambial compensou a queda dos preços das commodities, especialmente da soja, que terá nova expansão de área plantada na temporada 2015-16. O fato é que a microeconomia mais justa do produtor e o desajuste na macroeconomia do país confirmam a expectativa inicial de retração dos investimentos dos produtores rurais. Dessa forma, de julho a novembro/15, o crédito rural para investimento caiu 56,8%, para R$13,5 bilhões. Visto em perspectiva, trata-se de interrupção da "marcha forçada" da agricultura que, entre jan.13 e novembro/15, levantou créditos para investimento no montante de R$134,0 bilhões. Compare: nestes 3 anos, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (a receita dos produtores) alcançou uma média anual de R$488,0 bilhões (Fonte: Gasques, AGE/MAPA).