A colheita começou em Mato Grosso, pelo menos nas áreas de pivô. A perspectiva para o produtor que está colhendo é de uma produtividade abaixo do esperado e um alto custo com energia. Para quem não utiliza a irrigação, o clima seco e a falta de chuvas persistem. Segundo estimativa do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), a quebra de safra já alcança um milhão de toneladas no maior estado produtor de soja do Brasil.
Na propriedade do sojicultor Valdocir Rovaris, em Nova Ubiratã, as máquinas não param. Ele faz questão de acompanhar tudo bem de perto. Ele observa toda a movimentação das colheitadeiras. O agricultor saiu na frente dos demais produtores de sua região. O motivo é simples, dos 6300 hectares cultivados, pelo menos 850 foram semeados em área de pivô. Com esta estratégia, o produto está na mão e fica mais fácil negociar preços na hora de comercializar.
“Com certeza ajuda no preço médio, a gente entrega agora no dia 10 [de janeiro], e já pegamos um valor melhor” afirma o produtor.
Se existe animação com a venda antecipada, há também a preocupação com a produtividade. O produtor semeou no dia 15 de setembro e, mesmo com a irrigação, a produtividade está abaixo do esperado.
“Nós colhemos um pivô com 64 sacas por hectare, outro deve chegar até 70 sacas. No ano passado, conseguimos 74 sacas na mesma área. É um prejuízo com a falta de chuva. A água da irrigação não substitui totalmente a água da chuva, sempre se perde”, lamenta Rovaris.
Em Sorriso, principal município produtor de soja do Brasil, assim como ocorre em Nova Ubiratã, somente as áreas cultivadas em pivô estão colhendo. Segundo o presidente do Sindicato Rural do município, Laércio Pedro Lenz, a produtividade deve ficar abaixo do esperado.
“Quem ligou pivô e conseguiu algumas chuvas, teve condições melhores e consegue colher um pouco a mais, mas estamos vendo que muitos produtores estão colhendo bem abaixo das 60 sacas por hectare, mesmo em pivô” afirma o dirigente.
O motivo é o clima instável que enfrenta o Centro-Oeste nesta safra. O agricultor tem mais de 5400 hectares que dependem da chuva. A colheita destas áreas deve atrasar em mais de 20 dias.
“Todo ano a gente fica escutando sobre esse tal de El Niño, que no fim não prejudica, mas este ano prejudicou. As previsões foram essas e são piores daqui pra frente. Se continuar assim vai ser difícil plantar milho este ano”, comenta Valdocir Rovaris.
Custos
O produtor precisou replantar mais de 1600 hectares de soja nesta safra, o que acabou gerando custos que não estavam nos planos.
“Com certeza precisamos gastar a mais com adubos e defensivos. Este aumento deve ficar entre 5 a 10 sacas por hectare mais caro”, projeta.
Só que os custos não param por aí. Na busca de uma boa safra, os pivôs foram ligados mais vezes, deixando a conta de energia 20% mais cara em relação ao ano passado, alcançando R$ 420,00 por hectare.
“Eu acredito que dê para pagar muito mal esses investimentos, isso porque o lucro o que a gente teria para a reforma de máquinas, gastar conosco acabou indo para o solo. Eu já tinha vendido toda a minha safra. Eu acredito que dê para cumprir os contratos, mas a gente sempre deixa uma folga de 30%, mas, mesmo assim, o lucro vai ser praticamente nenhum”, avalia o sojicultor Valdocir Rovaris.
“Em outubro e novembro, tivemos temperatura que bateram mais de 40°C todos os dias, não tem água que faça a planta se desenvolver naturalmente. Aí muitos produtores utilizaram o pivô para funcionar, com certeza isso vai afetar no lucro, porque é um investimento em energia elétrica, óleo diesel. É um gasto alto que, com certeza, vai prejudicar”, diz o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Laércio Lenz.
Fonte: Canal Rural. 30 de dezembro de 2015.