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A bronca da pecuária vem em 2016 ou 2017?

por Alcides Torres
Quinta-feira, 7 de janeiro de 2016 -17h56


"A margem do fazendeiro tende a se estreitar em função do aumento de custo e da queda do preço do produto final. Mas apesar disso, 2016 deverá ser ainda de margens positivas. A bronca mesmo virá em 2017."


Esta é a visão de Alcides Torres, diretor e fundador da Scot Consultoria. Ele concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva.


Alcides é engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP.


Confira a entrevista na íntegra:


Sidnei Maschio: Scot, 2015 foi um ano bom para o pecuarista?


Alcides Torres: Foi um dos melhores anos desde o advento do plano real, somente não foi melhor em função da crise econômica e política que afetou o país. Não fosse isso, o desempenho teria sido muito melhor.


Sidnei Maschio: Quais foram os principais motivos que ajudaram a sustentar o preço do boi gordo no ano passado?


Alcides Torres: Certamente foi a queda da oferta de bovinos para o abate. Isso aconteceu em função da forte valorização dos bovinos para a reposição e esse fenômeno fez com que a produção de bezerros ficasse interessante e para tanto a retenção de matrizes aconteceu. Essa retenção de matrizes diminuiu a oferta de bovinos para abate, dando sustentação aos preços.


No entanto, caiu também o abate de machos. Segundo a Carta Boi, editada pela Scot Consultoria, tendo como base as informações do IBGE, de janeiro a setembro de 2015 o abate de machos caiu 5,6% e o de fêmeas 14,8%. Isso representa 810 mil bois gordos e 1,63 milhão de vacas.


Sidnei Maschio: Já em relação ao custo de produção, a situação já deve ser merecedora de preocupação da parte do pecuarista?


Alcides Torres: Custo de produção dever ser sempre monitorado. Com a perda de valor da moeda nacional e com o recrudescimento da inflação, esse monitoramento deve ser dobrado.


Entre janeiro de 2013 e dezembro de 2015 o custo de produção com a aplicação de tecnologia subiu 26,3% e para linhas de produção que adotam baixa tecnologia o custo subiu 35,1%. 


O custo está subindo, os preços dos produtos pecuários subiram ainda mais. O que nos preocupa é 2016, pois acreditamos que não seja possível assistirmos altas reais nos preços de venda.


Sidnei Maschio: O que pesou mais no aumento da despesa do pecuarista em 2015?


Alcides Torres: Difícil apontar somente um culpado. Depende do sistema de produção. Os alimentos concentrados, energia elétrica, combustível, mão de obra, o fósforo e, por tabela, os suplementos minerais, os fertilizantes e a própria reposição pesaram muito.


Sidnei Maschio: Qual é previsão da Scot Consultoria a respeito do comportamento do custo da pecuária agora em 2016?


Alcides Torres: Cair não vai e a possibilidade de subir é evidente. Os ganhos obtidos em 2014 e 2015 estão se diluindo.


Sidnei Maschio: Não é esperada uma grande valorização do boi gordo este ano. Esta afirmação está correta? Isso quer dizer que a margem do fazendeiro vai ficar mais apertada daqui pra frente?


Alcides Torres: A resposta é positiva. A margem do fazendeiro tende a se estreitar em função do aumento de custo e da queda do preço do produto final. Mas apesar disso, 2016 ainda deverá ser de margens positivas. A bronca mesmo virá em 2017.