Batemos um papo com Christiano Nascif (UFV - Viçosa - MG), zootecnista, mestre em Produção de Ruminantes (UFV), coordenador técnico do Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira da Região de Viçosa-MG (PDPL-RV) e sócio-proprietário da empresa Labor Rural.
Os assuntos discutidos foram os custos de produção e a rentabilidade da pecuária leiteira.
Confira a entrevista na íntegra:
Scot Consultoria: Qual seria a melhor estratégia para que o produtor minimize seus custos e se mantenha na atividade, considerando um ano de alta de custos de produção e recessão da economia?
Christiano Nascif: Temos que ter cuidado ao falar em minimizar custos, o ideal é maximizar os lucros. Portanto, a gestão não pode ser para obter custo mínimo, e sim, para alcançar o lucro máximo.
Para alcançar o lucro máximo, temos que cuidar das receitas e das despesas, pois o lucro é o resultado da diferença da receita menos os custos, ou seja, "é o resultado das coisas bem feitas".
Com o objetivo de aumentar as receitas, deve-se priorizar o aumento do volume de leite, como também a produção de um leite com melhor qualidade e composição. O aumento da escala de produção faz com que aumente a eficiência no uso dos fatores de produção, como terra, mão de obra, além das máquinas, equipamentos, benfeitorias, contribuindo desta forma para diluir o custo fixo.
O fator que mais causa impacto no custo de produção de leite é o concentrado para o rebanho, seguido da mão de obra e em terceiro lugar, os gastos com volumosos. Sendo assim, tentar equilibrar os gastos com alimentação-concentrado e volumosos, deve ser a prioridade de todo produtor de leite, principalmente em momentos de crise, com tendência de aumento dos insumos utilizados na nutrição animal.
O controle leiteiro, a divisão de lotes dos animais de acordo com a produção de leite, o uso de alimentos substitutos e alternativos, a produção e oferta de volumosos, em quantidade e qualidade, são alternativas para diminuir os custos com alimentação para o rebanho leiteiro, a fim de reduzir os custos de produção.
Entretanto, é sempre bom lembrarmos que qualquer intervenção tecnológica, deve se basear na melhor relação benefício custo, ou seja, não deve reduzir custo ou aumentar a receita a qualquer custo, deve-se avaliar o que será melhor para o bolso do produtor, no curto, médio e longo prazo. Os gastos com concentrado da atividade leiteira deve comprometer, no máximo, 30-35% da renda da atividade, dependendo da produtividade do rebanho.
Já os gastos com volumosos para alimentar o rebanho, deve comprometer em torno de 10% da renda bruta da atividade. Os gastos com mão de obra para manejo da atividade leiteira deverá comprometer no máximo 13% da renda bruta com a atividade leiteira. Estes parâmetros se referem aos produtores que têm mais sucesso técnico e econômico na atividade leiteira.
Percebam que todos os parâmetros se relacionam com a renda bruta da atividade leiteira. Por trás desta relação tem uma estratégia, que é trabalhar com sistemas flexíveis de produção. Sistemas flexíveis de produção de leite são aqueles que têm capacidade de adaptação de acordo com a receita da atividade. Se a receita com a venda do leite cair devido à queda de preço ou outro motivo, deverá ser possível adaptar o sistema de produção para que os seus custos, principalmente com alimentação, não sejam maior do que as receitas.
Scot Consultoria: Com relação aos custos de produção com alimentação concentrada, o que esperar para 2016?
Christiano Nascif: Avaliar custos com alimentação concentrada isoladamente não nos mostra muita coisa, assim como avaliar preço do leite isoladamente. Mais importante do que as análises isoladas, é avaliar o poder de troca do leite: concentrado.
Os sinalizadores de mercado, principalmente para o primeiro semestre de 2016, nos indicam para a direção de aumento dos preços de soja, milho e fertilizantes, e para um preço de leite estável ou com ligeira alta. Desta forma, podemos sinalizar para uma real perda no valor de troca do leite em relação ao concentrado, o que deve apertar ainda mais as margens de lucro do produtor de leite.
Portanto, o primeiro semestre de 2016, diante do que já foi exposto, somado aos problemas políticos e econômicos que o Brasil vem enfrentando, continuará sendo difícil para o produtor de leite. Sendo assim, prudência e caldo de galinha não farão mal ao bolso de nenhum produtor neste ano que se inicia.
Scot Consultoria: A mão de obra é o principal gargalo em relação aos custos de produção da pecuária leiteira? Em suas experiências de gestão de custos e propriedades, quais medidas o produtor pode tomar para melhorar a relação com os seus colaboradores?
Christiano Nascif: Qualquer funcionário gosta de reconhecimento, de se sentir parte de qualquer processo produtivo, de ter importância para que uma atividade aconteça com sucesso, de saber o quê e para quê está fazendo daquele modo. Com o funcionário de uma propriedade leiteira não é diferente.
Para que isto aconteça há de se ter diálogo entre patrão e empregado; capacitação e treinamento dos funcionários, gerentes, proprietário e familiares. Ter uma rotina de trabalho bem definida com os direitos e deveres de cada um, um sistema de monitoramento, cobrança e bonificação por resultados, se for o caso. O fato é que a meritocracia sempre deverá ser a palavra de ordem na relação proprietário e colaborador.
Além disto, com certeza, não sendo o fator menos importante, vem o salário, que deve ser compatível com o mercado e leis trabalhistas, de acordo com os bons resultados que o funcionário proporcionar. Mas somente bom salário não basta, ter boas condições de trabalho, boas condições de moradias, infraestrutura de transporte, estradas, acesso a escolas, possibilidade de lazer, de praticar uma religião, acesso a saúde, folgas semanais, dentre outros são fundamentais. Estas são as características que os produtores que têm baixíssimas taxas de trocas de funcionários, fazem para manter a qualidade e fidelidade da mão de obra em suas propriedades.