A forte valorização do dólar ante o real em 2015 foi o principal combustível para o avanço de 8,8% no Índice de Preços ao Produtor (IPP) no ano passado, explicou Manuel Campos Souza Neto, técnico da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outros fatores, como problemas climáticos e pressão de custo para as indústrias, também contribuíram para levar a inflação na porta de fábrica a um nível bastante superior à taxa de 2,7% observada em 2014.
No ano passado, o dólar subiu 46,7% em relação ao real, injetando altas doses de inflação nos produtos, principalmente naqueles voltados ao mercado externo, desde aviões até alimentos. O segmento de outros equipamentos de transporte, que inclui aviões, navios e motocicletas, subiu 33,6% em 2015, a maior variação anual entre os vinte e quatro segmentos investigados. "São itens bastante atrelados ao dólar", afirmou Neto.
Nos alimentos, produtos como sujo de laranja e farelo de soja também sofreram influência direta da cotação da moeda norte-americana. Mas outros fatores contribuíram para o segmento registrar alta de 14,3% nos preços no ano passado. "O álcool está com preço mais competitivo, então o açúcar também sobe. Também tivemos problemas de muita seca em alguns lugares e muita chuva em outros", explicou o técnico do IBGE.
O setor de veículos registrou alta de 6,3% em seus preços no ano passado, a despeito da queda intensa na produção, consequência da menor demanda. Segundo Neto, alguns produtos podem ter sido descontinuados ou vendidos em menor volume. "Mas o que foi vendido aumentou de preço. Talvez as empresas tenham chegado num momento em que esse era o preço necessário (para compensar custos)", disse.
Entre os custos que aumentaram em 2015 está a energia elétrica, um insumo necessário a todas as indústrias e, em algumas delas, empregado em maior quantidade. Para o consumidor, a energia elétrica subiu mais de 50,0%, e também ficou mais cara para os produtores.
Na contramão, o setor de metalurgia viu seus preços caírem 1,6% no ano passado. "A China está inundando o mercado de aço", explicou o técnico do IBGE. A indústria extrativa também apresentou resultado negativo, de 9,3%. "Mesmo com o dólar subindo mais de 40,0%, o minério de ferro contribuiu negativamente porque o preço caiu muito no mercado internacional."
Outra commodity cujos preços cederam no cenário externo foi o petróleo. Ainda assim, os preços de seus derivados acabaram subindo em 2015, a exemplo dos outros produtos químicos (11,9%). Só no fim do ano passado é que o comportamento do petróleo lá fora acabou trazendo o IPP para o negativo. Em dezembro, a queda dos preços da commodity foi a principal razão para o recuo de 0,3% no índice mensal.
Fonte: O Estado de São Paulo. 1 de fevereiro de 2016.