A recessão bateu forte na economia brasileira em 2015. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que busca ser uma "prévia" do Produto Interno Bruto (PIB), mostrou contração de 4,08% no ano passado. O número foi divulgado na quinta-feira (18/2) pelo Banco Central.
O resultado oficial do PIB será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 3/3. Se a prévia do Banco Central for confirmada, será a primeira retração da economia brasileira em seis anos e, também, o maior "encolhimento" do PIB desde 1990 – quando houve uma queda de 4,35%.
A comparação foi feita sem ajuste sazonal, pois considera períodos iguais (ano contra ano), o que é avaliado como mais apropriado por economistas.
Levando em conta o resultado de 2015 com ajuste sazonal (dessazonalizado), menos apropriado segundo o mercado, o índice recuou 4,11%.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia. Segundo dados oficiais, o país está atualmente em recessão técnica – que se caracteriza por dois trimestres consecutivos de queda do PIB.
Componentes do PIB já indicavam que o tombo da economia foi grande no ano passado. A produção industrial encerrou o ano de 2015 com queda acumulada de 8,30%, o maior recuo da série, iniciada em 2003, ao mesmo tempo em que o volume do setor de serviços teve queda de 3,60%, também a maior da série histórica do indicador. O mesmo aconteceu com as vendas no varejo, que tiveram recuo de 4,30% – pior resultado da história.
Expectativas
O resultado da "prévia do PIB" veio pior que expectativa do mercado financeiro, colhida na semana passada. Os analistas dos bancos previram uma retração de 3,80% para o PIB do ano passado. O próprio BC previu, em dezembro de 2015, que o PIB teria contração de 3,60% em 2015. Já a última previsão do governo, feita em novembro, era de uma queda de 3,10%.
Para 2016, o mercado financeiro acredita que o PIB terá uma nova contração, um pouco menor, de 3,33%. Se a previsão se concretizar, será a primeira vez que o país registra dois anos seguidos de contração na economia – a série histórica oficial, do IBGE, tem início em 1948.
Percepção ruim
O fraco ritmo do nível de atividade, o aumento da inflação e as dificuldades para promover o ajuste das contas públicas (que estão há dois anos no vermelho), além do ambiente político conturbado e da alta do desemprego, afetam a percepção sobre a economia brasileira. Na quarta-feira (17/2), a Standard & Poor’s rebaixou novamente a nota de crédito do Brasil.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, avaliou que há uma perspectiva de recuperação da economia brasileira no "médio prazo" e acrescentou que o governo federal "continua trabalhando para alcançar o reequilíbrio fiscal e construir as bases para a retomada do crescimento".
Segundo o governo, a prioridade para o início de 2016 é a aprovação das propostas de emendas constitucionais da DRU e da CPMF que tramitam no Congresso Nacional.
Resultados do IBC-Br x PIB
Embora o cálculo seja um pouco diferente, o IBC-Br foi criado para tentar ser um "antecedente" do PIB. O índice do BC incorpora estimativas para a agropecuária, a indústria e o setor de serviços, além dos impostos. Os resultados do IBC-Br, porém, nem sempre mostraram proximidade com os dados oficiais do PIB, divulgados pelo IBGE.
Em 2012, por exemplo, o IBC-Br mostrou um crescimento de 1,60%. Posteriormente, o resultado oficial do PIB mostrou uma alta menor, de 1,00%. Em 2013, o BC acertou. Previu uma alta de 2,50%, que foi depois confirmada com a revisão feita pelo IBGE. Em 2014, o BC estimava uma retração de 0,15% no PIB, mas os dados oficiais mostraram uma alta de 0,10% no ano passado.
O Banco Central já informou anteriormente que o IBC-Br não seria uma medida do PIB, mesmo que tenha sido criado para tentar antecipar o resultado, mas apenas "um indicador útil" para o BC e para o setor privado.
Definição dos juros
O IBC-Br é uma das ferramentas usadas pelo BC para definir a taxa básica de juros (Selic) do país. Com o menor crescimento da economia, por exemplo, teoricamente haveria menos pressão inflacionária. Atualmente, os juros básicos estão em 14,25% ao ano, o maior nível em nove anos.
Pelo sistema de metas de inflação que vigora no Brasil, o BC precisa ajustar os juros para atingir as metas preestabelecidas. Quanto maiores as taxas, menos pessoas e empresas dispostas a consumir, o que tende a fazer com que os preços baixem ou fiquem estáveis.
Para 2016, a meta central de inflação é de 4,50%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Desse modo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país e medida pelo IBGE, pode ficar entre 2,50% e 6,50%, sem que a meta seja formalmente descumprida.
Neste ano, o mercado financeiro acredita que a inflação oficial ficará novamente acima do teto de 6,50% do sistema de metas. Em 2015, somou 10,67%, a maior em 13 anos, e estourou a meta de inflação. Para os analistas dos bancos, a inflação somará 7,61% em 2016. O Banco Central tem dito que trabalha para trazer a inflação para dentro da banda do sistema de metas em 2016 e próxima do objetivo central, de 4,50%, em 2017.
Fonte: G1. 18 de fevereiro de 2016.