Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Carta Gestor - Indicadores financeiros para a agropecuária: parte 1

por Gustavo Aguiar
Terça-feira, 22 de março de 2016 -17h25



Há diversos indicadores que auxiliam na determinação da saúde financeira dos empreendimentos.

Para uma análise global do negócio, recomenda-se que seja considerada uma gama de critérios, já que a utilização de um único indicador pode encobrir fragilidades e riscos do negócio.

Iniciaremos com esta edição uma série de artigos dedicados especialmente aos indicadores financeiros. O conteúdo apresentado foi resumido e adaptado a partir de informações publicadas pelo Departamento de Extensão Rural da Universidade de Michigan.

Os indicadores financeiros foram divididos segundo cinco critérios: liquidez, solvência, lucratividade, capacidade de repagamento e eficiência financeira.

Nesta edição abordaremos os indicadores dedicados à análise de liquidez e solvência. Vamos a eles.

1. Indicadores de liquidez

Indicam a capacidade de pagamento de curto prazo. Apresentaremos três tipos de índices para esta finalidade.

1.1. Índice de Liquidez Corrente

O indicador de liquidez corrente ajuda a determinar quanto do passivo (obrigações) de um negócio pode ser coberto em caso de liquidação dos ativos circulantes.

De outra forma, este indicador refere-se à capacidade de uma operação em satisfazer as suas obrigações financeiras de curto prazo, pagamentos da dívida e impostos, por exemplo, através da venda dos ativos circulantes.

Os ativos circulantes são aqueles que podem ser convertidos em dinheiro em curto prazo (pode-se assumir um prazo de até um ano ou menos, por exemplo). Em negócios agropecuários, podemos considerar como ativos circulantes, por exemplo, o rebanho, a produção de grãos, insumos, recebíveis de curto prazo e dinheiro em caixa.

Para determinar este índice devemos dividir o ativo circulante total pelo passivo circulante total.

Índice de Liquidez Corrente = Ativo Circulante / Passivo Circulante

Os passivos circulantes são as obrigações de curto prazo (pode-se assumir também o prazo de um ano ou menos), como contas a pagar, dívidas com fornecedores de insumos, impostos a recolher, empréstimos bancários, provisões, etc.

Um índice de liquidez corrente de 1,5 significa que para cada R$1,00 de obrigações de curto prazo de um negócio, há R$1,50 em ativos circulantes para cobrir esses passivos.

Resultados inferiores a 1,0 implicam em um negócio sem liquidez ou descoberto financeiramente em curto prazo, o que resulta em riscos ao empreendimento.

1.2. Índice de Capital de Giro

Muito semelhante ao Índice de Liquidez Corrente, ele mede o saldo dos ativos circulantes frente aos passivos circulantes. Da mesma forma, o gestor deverá definir o conceito de curto prazo, mas, da mesma forma, pode-se considerar um período de até um ano.

O índice é calculado da seguinte forma:

Índice de Capital de Giro = Ativo Circulante - Passivo Circulante


A análise do resultado também é semelhante ao do Índice de Liquidez Corrente. Se a fórmula resultar em um número positivo, então o negócio deve ser capaz de cobrir a obrigações de curto prazo.

No entanto, quanto mais próximo de zero, mais frágil e suscetível o negócio é em relação a mudanças negativas de mercado.

1.3. Índice de Capital de Giro sobre receita bruta

A relação entre o Índice de Capital de Giro e a receita bruta mede o capital circulante líquido do negócio em relação à receita bruta de um determinado período.

Para calculá-la, como o próprio nome diz, basta dividir o Índice de Capital de Giro pela receita bruta.

Índice de Capital de Giro sobre receita bruta = Índice de Capital de Giro / receita bruta

Este índice resulta em uma porcentagem. Quanto maior o número resultante, mais recursos a fazenda tem para cumprir com as suas obrigações, sem a necessidade de financiamentos.

Razões acima de 25% trazem segurança ao negócio e resultados inferiores a isso implicam em maiores chances de financiamento em razão de riscos de mercado.

2. Indicadores de solvência

Indicam a capacidade da fazenda em pagar todas as suas dívidas em caso de liquidação total do patrimônio.

2.1. Relação entre Passivos Totais e Ativos Totais

Esta relação indica o volume de obrigações em relação aos ativos totais da fazenda.

Basta dividir os valores de passivos totais e ativos totais.

Relação entre Passivos Totais e Ativos Totais = Passivos Totais / Ativos Totais

O resultado será analisado sob a forma de porcentagem. Quanto maior o resultado, maior também será a alavancagem do negócio.
Taxas superiores a 30% podem ser consideradas arriscadas e acima de 50% altamente arriscadas, com alto grau de alavancagem financeira.

2.2. Relação entre Patrimônio Líquido e Ativos Totais

Esta relação compara o valor do negócio (Patrimônio Líquido) e Ativos Totais da operação.

O patrimônio líquido é calculado através da diferença entre Ativos Totais e Passivos Totais.

A fórmula de cálculo é descrita como:

Relação entre Patrimônio Líquido e Ativos Totais = Patrimônio Líquido / Ativos Totais

Quanto maior a porcentagem resultante da fórmula, menor é a alavancagem da empresa. Resultados inferiores a 70% indicam maiores riscos para a empresa.

Em outras palavras, uma fazenda com uma relação de 49% tem 51% do valor do seu negócio ligado ao agente financiador.

A soma entre as relações entre "Passivos Totais e Ativos Totais" e "Patrimônio Líquido e Ativos Totais" deve ser de 100%.

2.3. Relação entre Passivos Totais e Patrimônio Líquido

Esta relação é outra forma de verificar a alavancagem da empresa, calculada através da relação entre os Passivos Totais e o Patrimônio Líquido.  
Relação entre Passivos Totais e Patrimônio Líquido = Passivos Totais / Patrimônio Líquido

Este indicador é normalmente analisado pelas instituições financeiras para avaliar o risco de empréstimos.
Resultados acima de 1,0 ou 100% indicam um alto grau de endividamento e podem dificultar o acesso da empresa ao crédito.

3. Considerações finais

Apresentamos algumas das ferramentas utilizadas para avaliação financeira de operações agropecuárias, notadamente os aspectos ligados à liquidez e solvência das empresas.

Cabe ao gestor definir quais indicadores serão calculados e o ponto crítico deles, de acordo com a realidade operacional do negócio.

Nas próximas edições traremos outros indicadores, dedicados à análise da lucratividade, capacidade de repagamento e eficiência financeira. Não deixe de ler.