Após assustar muitos brasileiros pelo porte físico avantajado, raça de touros contradiz o que imaginavam sobre sua origem. Especialistas dizem que animal oferece qualidade econômica e apresenta uma das carnes mais saudáveis.
Desconhecidos pela maioria das pessoas, a raça bovina Belgian Blue (ou Azul Belga), de origem europeia, assusta os curiosos ao primeiro olhar. Para muitos, esses animais são o resultado de uma mutação genética malsucedida por cientistas em laboratório. Mas na realidade, o supertouro, como também é conhecido, surgiu de um cruzamento natural há mais de 130 anos e demonstra ser um investimento financeiro muito bem recomendado por especialistas.
No século 19, touros da raça Shorthorn, do Reino Unido, foram mandados para a Bélgica para aprimorar a estrutura muscular do gado nativo deste país que era, principalmente, leiteiro. Entre 1920 e 1960, o animal resultante do cruzamento entre o gado belga e o Shorthorn cumpria a demanda por leite e carne.
Contudo, a indústria de carne aumentou sua produção e a raça Blanc-Bleu-Belge (outra denominação) começou a procriar apenas para alimentação. Os animais mais musculosos foram cruzados entre si e o resultado foi estes animais “bombados”.
Porte físico do Belgian Blue:
De Londrina, no Paraná, o zootecnista Clovis Rene Glaeser explicou as principais características da irreverente raça. Segundo Clovis - especialista em Nutrição, Genética e Melhoramento Bovino -, o Belgian Blue não é um animal grande em estatura, mas apresenta linhas arredondadas e músculos proeminentes. O ombro, quarto traseiro, lombo e anca são muito musculosos. Em sua maioria, a pelagem apresenta coloração composta de branco, azul e às vezes negro. “É uma raça que possui maior rendimento de cortes comerciais e maior proporção de tecido muscular na carcaça”, ressalta o zootecnista.
A musculatura reforçada representa um grande diferencial na raça. Os músculos das vacas e dos touros são, pelo menos, duas vezes maiores que os de outras raças. Alguns touros chegam a pesar uma tonelada. Aos 12 meses de idade, os machos apresentam uma média de peso de 470 kg e altura de 1,20m, já as fêmeas 370 kg e 1,15 m de altura. Aos 24 meses, os machos chegam a 770 kg e 1,35 m e as fêmeas, 500 kg e 1,20 m.
Em relação à sua carne, o Belgian Blue demonstra uma excelente qualidade, segundo o especialista. Entretanto, Clovis Rene explica que a vantagem do Belgian Blue em oferecer uma carne mais saudável também é sua desvantagem se for considerado o mercado brasileiro. “Por sua capacidade de conversão alimentar, outra característica não é apreciada no Brasil: a menor cobertura de gordura na carcaça e índice de marmoreio menor, quando comparados a outras raças europeias”.
Apesar de possuir um menor índice de marmoreio e menor cobertura de gordura quando comparados a outras raças europeias, “em termos de tendências mundiais futuras, onde a carne magra pode vir a ser mais valorizada em alguns mercados, o Belgian Blue tem em si uma boa condição para se destacar”, diz o zootecnista.
Cruzamentos:
Em seu habitat original, o Belgian Blue é utilizado para produção de carne tanto em rebanhos puros quanto em cruzamento com outras raças taurinas (exemplares europeus), pois possui ótima conversão alimentar, “que é a capacidade de transformar o alimento em carne e gordura”, explica o zootecnista Clovis Rene Glaeser.
Na Europa, o Belgian Blue também é usado no cruzamento com vacas leiteiras para ter uma maior produção de massa muscular. Para entender o motivo desse cruzamento, o zootecnista explica que “as raças leiteiras normalmente possuem menor índice de massa muscular e peso corporal. Algumas vezes criadores de vacas leiteiras querem obter animais para engorda e utilizam o Belgian Blue com o intuito de obter um maior rendimento de carne no bezerro”, comenta Clovis Glaeser.
Belgian blue no Brasil:
No Brasil, o Belgian Blue normalmente segue o mesmo padrão para produção de carne e é utilizado principalmente no cruzamento com zebuínos (originados na Índia). “Os criadores utilizam este material genético da raça para aumentar o rendimento de carcaça e produção de carne. Geralmente obtêm ótimos resultados, pois conseguem juntar as características de rusticidade e adaptação dos zebuínos com a capacidade de conversão alimentar e alto rendimento muscular das raças europeias”, confirma o zootecnista.
Num acasalamento comum, espera-se que o valor genético da progênie seja igual à média do valor genético dos pais. Entretanto ainda existe uma grande vantagem para o rendimento econômico referente ao cruzamento entre zebuínos e taurinos. Segundo o especialista em Nutrição e Melhoramento Genético, o resultado desse cruzamento garante um bônus de produção advindo da heterose.
“A heterose é um fenômeno genético que ocorre quando animais geneticamente distantes se cruzam. Quando o acasalamento é feito entre animais de grupos genéticos diferentes, como taurinos e zebuínos, acontece a heterose, que faz com que a média do valor genético da progênie seja superior ao valor genético dos pais. No acasalamento entre taurinos e zebuínos, temos heterose máxima (100%)”, demonstra Clovis Rene.
Segundo a Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), a estatura baixa do animal é favorável para o cruzamento com as raças zebuínas (altas). Ele explica que a altura determina o tempo de crescimento que o animal vai começar a ganhar peso. “Isso significa reter ganhos diminuindo o tempo para o abate. Se o Belgian Blue proporciona um ganho de peso em curto espaço de tempo, então o fazendeiro terá menos gastos na propriedade e retorno financeiro muito mais rápido”. Entretanto, em Goiás outra raça ainda domina o cruzamento com os zebuínos: o Aberdeen Angus.
Fonte: Sindicato Paulista de Zootecnistas. César Moraes, 30 de março de 2016.