O Grupo Pão de Açúcar (GPA) reunirá hoje em sua sede, em São Paulo, seus fornecedores de carne bovina para anunciar um compromisso oficial pelo desmatamento zero na Amazônia. A maior rede varejista do país pretende dar uma resposta à sociedade civil sobre como pretende evitar a aquisição da carne de animais oriundos de áreas de desmate através de uma política nacional de compras para o segmento.
É também uma ação voltada para o grupo ambientalista Greenpeace, que jogou o peso da cadeia predatória da carne sobre grandes frigoríficos e, posteriormente, sobre grandes redes de supermercados. Em seu último relatório, intitulado "Carne com gosto de desmatamento: em um supermercado perto de você", o Greenpeace acusou o GPA e outros de não ter políticas comerciais responsáveis e ainda ignorar riscos inerentes da pecuária em crimes ambientais e do trabalho.
O que se pretende com a nova orientação é criar processos que identifiquem irregularidades ambientais nas propriedades rurais, mas, sobretudo, capazes de trazer o setor para a regularização. "Esse não deve ser um processo de exclusão do fornecedor, mas de inclusão. Senão outro compra a carne que eu rejeitei, e a mudança na cadeia não acontece", afirma Paulo Pompílio, diretor de Relações Corporativas do GPA.
De acordo com o executivo, as novas regras de compra atingirão todos os 30 fornecedores atuais de carne bovina do grupo, responsáveis pela entrega de seis mil toneladas de carne por mês às bandeiras Pão de Açúcar, Extra, Minimercado Extra e Minuto Pão.
Três deles JBS, Minerva e Marfrig entregam cerca de 70% do volume total de carne bovina adquirida pelo grupo e já desenvolveram sistemas próprios de averiguação da procedência dos animais, que vêm funcionando com maior ou menor grau de eficiência. O problema, alerta o Greenpeace, está nos 30% restantes.
Por esse motivo, o lançamento de uma política nacional de compras era uma reivindicação antiga da ONG. "Sabíamos que alcançar os fornecedores menores seria mais eficiente via o varejo, que é quem tem o poder da compra", afirma Adriana Charouz, da campanha Amazônia do Greenpeace. "Para nós, o anúncio público do compromisso ajudará a desencadear as mudanças necessárias no setor".
Conforme Laura Pires, gerente de sustentabilidade do GPA, uma empresa desenvolveu o software que será oferecido aos fornecedores. A empresa disponibilizará a ferramenta até junho e os fornecedores do grupo terão até o fim deste mês para preencher as informações que darão suporte a um diagnóstico in loco pela consultoria. "Mas os fornecedores que se negarem a colaborar com a implementação dessa política serão excluídos do nosso portfólio".
Laura afirma que o tema desmatamento não estava totalmente no radar do grupo, mas vem ganhando importância na medida em que o setor, como um todo, amadurece para o assunto. Questionada, ela diz não saber "qual a fotografia" que receberá dos diagnósticos dos fornecedores.
A expectativa do GPA é de que os fornecedores recebam bem a medida, e eles serão informados sobre os próximos passos tão logo eles sejam definidos. Ainda faltam definições cruciais para o sucesso dessa política por ora, o GPA não sabe dizer como será o monitoramento dos fornecedores após o diagnóstico inicial, nem a periodicidade das averiguações nas propriedades rurais.
De acordo com o Greenpeace, outros concorrentes do GPA, grandes e regionais, ainda precisam avançar na agenda do desmatamento da Amazônia.
Fonte: Valor Econômico. Por Bettina Barros. 30 de março de 2016.