Uma nova safra de bezerros está chegando ao mercado.
As fazendas de cria que colocaram sua vacada em monta no final de 2014 e começo de 2015, nos primeiros meses de 2016 terão bezerros desmamados disponíveis para a venda. Depois de dois anos de mercado comprador, negócio "fáceis" e preços com forte alta para esta categoria de bovinos, o mercado agora está mais desafiador.
Com a conjuntura econômica vigente que, ao que tudo indica, dificultará ou, pelo menos, modulará as valorizações da arroba do boi gordo, o invernista está cauteloso no repor o rebanho. Os bezerros que entrarem na fazenda em 2016, serão, em sua maior parte, vendidos em 2018, quando provavelmente estaremos em um momento de baixa do ciclo pecuário e, se tudo correr bem, com a econômica começando a se recuperar.
Diante disso, recomenda-se ao criador esquecer as facilidades vividas em 2014 e 2015, quando o mercado ajudara e, toda hora era uma boa hora para negociar. Esse quadro vale para a safra atual de bezerros e para de 2017, já que a conjuntura econômica e o mercado do boi gordo devem ser parecidos nesses anos.
Quando negociar
Saber quando vender, somente é possível com uma análise feita ano a ano, considerando as condições da fazenda, tais como a oferta de pasto, necessidade de caixa, entre outras coisas. Mas, através de comportamentos históricos de mercado, é possível entender em quais os períodos devemos ficar atentos.
Veja a figura 1. Nela está a variação do preço do bezerro de desmama ao longo de doze meses, nos últimos seis anos. Perceba que entre janeiro e maio, com exceção de 2012, houve valorização dessa categoria animal.
Figura 1.
Variação do preço (R$) do bezerro de desmama em São Paulo.
Agora, na figura 2, o comportamento médio da cotação nesses seis anos.
Figura 2.
Média das variações da cotação(R$) do bezerro de desmama em São Paulo entre 2010 e 2015.
Antes de desenvolver o restante da análise, é importante esclarecer que esse comportamento não ocorre pontualmente. E o motivo é simples. Em todos os cantos do país, onde a seca se estabelece a partir do segundo trimestre do ano, ocorre queda na demanda, já que os pastos perdem capacidade suporte, esfriando o mercado e afetando negativamente os preços.
Portanto, quanto antes a vacada emprenhar, mais cedo o bezerro estará disponível no mercado e, maiores as chances de negociar na alta. Sem contar ainda que os bezerros tendem a ser mais pesados quando desmamados próximo a março (vacada que emprenhou quando a oferta de capim é abundante e, portanto, com maior escore corporal), período que coincide com a alta apresentada nas figuras 1 e 2. Aliamos assim a melhor produtividade ao melhor momento de mercado.
Porém, não basta entender que a dinâmica dos preços seja importante, essa é uma parte do planejamento da venda. Conhecer o custo é tão importante quanto.
O custo do bezerro
O custo do bezerro no pós desmama dependerá, primeiro, do mês em que ele for desmamado.
Veja na tabela 1 as datas de desmama de acordo com os períodos em que a vacada foi emprenhada, sempre considerando a época ideal para estação de monta do país, que vai do último trimestre do ano anterior ao primeiro do ano seguinte.
Tabela 1.
Meses possíveis para prenhez, de acordo com a estação de monta, e mês de desmama de bezerros aos oito meses de idade.
Quando a desmama ocorre entre fevereiro e abril, em função da boa oferta de forragem dessa época, excluem-se os gastos com suplementação proteica, mais "cara" que a suplementação mineral, além dos desembolsos com aplicação de vacina de aftosa e com endectocidas, considerando o uso do clássico sistema de vermifugação em maio, julho e setembro.
Na tabela 2 está estimado o custo mensal de um bezerro, tendo como base os preços vigentes em 2016. Mesmo sabendo que o período de prenhez das matrizes e de desmama da bezerrada influenciará o peso do animal, para efeito de simulação, em todas as opções, consideramos que o bovino será desmamado aos oito meses de idade, com peso vivo de 210 quilos e, a partir daí, terá ganhos diários de 400 gramas.
Para eliminar as particularidades de custo fixo, utilizamos o arrendamento a um custo de R$20,00 cabeça/mês.
Tabela 2
Custo de bezerro de desmama, com ganhos médios de 400 gramas/dia e peso à desmama com 210 quilos.
A partir destes custos e do comportamento dos preços e, aliando-os ao risco de mercado, é possível ter uma ideia se há viabilidade na retenção desses bovinos, prática muito comum, principalmente nos dois últimos anos, em que o mercado esteve comprador e o pecuarista apostava em valorizações.
Em 2015, por exemplo, a desmama em fevereiro era negociada, em média, por R$1.235,00/cabeça. Em abril, o preço chegou aos R$1.294,00/cabeça, alta de 4,8%.
Mesmo com esse bovino no pasto nesse período e com uma mão-de-obra 10% mais barata que a atual, quem esperou para vender dois meses depois da desmama, em abril, perdeu mais de R$27,00 por cabeça. Se adicionarmos o efeito da inflação, o prejuízo vai para quase R$70,00/cabeça.
É importante deixar claro que custo é um parâmetro individual, particular de cada sistema de produção e de cada propriedade.
Por fim, considerando que em 2016 o risco de mercado deverá ser maior, que a inflação não deverá ser mais "mansa" do que em 2015, que os recriadores e terminadores serão mais cautelosos para repor, que o dólar em alta poderá encarecer ainda mais a suplementação mineralizada, a melhor opção será realizar lucro e não ficar esperando o mercado subir para negociar.
Mas, sem conhecer os custos, é difícil saber qual a melhor opção. É preciso planejamento e conhecimento.
Fonte: Animal Business Brasil. Edição 26. Por Alex Lopes.