Os preços do leite ao produtor estão em alta desde o final de 2015.
De novembro do ano passado até o pagamento de março, último antes do fechamento desta edição, o preço (média nacional) subiu 5,2%, fechando em R$1,009 por litro de leite.
Figura 1.
Preço do leite ao produtor, média nacional, em R$ por litro de leite.
A produção brasileira diminuiu nos últimos meses gerando forte concorrência entre os laticínios pela matéria-prima (leite cru) e valorizações no mercado interno.
A queda na curva de produção no Brasil Central, regiões Sudeste e Sul do país é comum neste período, é o início da entressafra. Porém, este ano houve um agravante, que foi o aumento expressivo nos custos de produção, em especial com a alimentação concentrada (milho), que diminuiu os investimentos e levou a cortes de despesas na atividade.
Segundo o Índice Scot Consultoria para o Custo de Produção da pecuária leiteira, os custos da atividade subiram 26,2% em abril deste ano, frente a abril do ano passado. Na média dos quatro primeiros meses de 2015, o aumento foi de 21,8%.
Para uma comparação, o produtor está recebendo 12,5% a mais pelo leite, em relação ao mesmo período do ano passado.
O clima adverso também prejudicou a produção em algumas regiões.
Ou seja, apesar do mercado firme e preços do leite e derivados em alta, o cenário é de cautela, com as margens apertadas para o produtor de leite.
A expectativa é de alta nos preços pagos aos produtores até julho/agosto, entretanto, alguns fatores merecem atenção em curto e médio prazos, já que podem limitar estes aumentos.
O primeiro é a importação de lácteos. Os volumes importados pelo Brasil aumentaram consideravelmente em março e devem seguir aquecidos nos próximos meses, com a menor disponibilidade interna. Os patamares baixos de preços do leite em pó no mercado internacional aumentam a competitividade do produto importado em relação ao brasileiro, mesmo com o dólar valorizado, em relação ao real.
O segundo ponto de atenção é a demanda interna, principalmente pelos produtos lácteos de maior valor agregado, como queijos, iogurtes, entre outros, que segue patinando, a exemplo de 2015.
Mais um ano de margens apertadas
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou um custo operacional médio de R$1,09 por litro de leite na região de Ibiá, em Minas Gerais, em 2015.
Neste ano, o preço médio do leite pago ao produtor no estado foi de R$0,938 por litro, segundo dados da Scot Consultoria. Com isso, houve prejuízo médio de R$0,152 por litro de leite produzido.
Se considerarmos os preços do leite com bonificação por qualidade e volume, ou seja, uma propriedade com maior grau de tecnologia e manejo, a média recebida foi de R$1,289 por litro em Minas Gerais em 2015.
Neste caso, o custo médio de produção foi estimado em R$1,150 por litro, o que gerou um lucro de R$0,139 por litro de leite produzido.
Para 2016, consideramos a variação média dos custos de produção da pecuária leiteira no primeiro quadrimestre, de 21,8%, para estimativa dos custos (Índice Scot Consultoria).
Na estimativa do preço do leite pago ao produtor, foi considerada uma variação média de 11,2% nos valores em 2016, em relação a 2015. Esta foi a valorização no primeiro quadrimestre deste ano, frente ao anterior.
Tabela 1.
Estimativa de resultado econômico da produção de leite em Minas Gerais, em R$ por litro de leite.
Para a atividade leiteira de média a alta tecnologia, o lucro estimado é de R$0,033 por litro de leite em 2016, uma queda de 76,5% em relação ao resultado médio de 2015.
Para a pecuária de baixa tecnologia, a expectativa é de mais um ano de prejuízo, de R$0,284 por litro.
Considerações finais
O cenário é de cautela no mercado do leite em 2016.
Os custos de produção subiram mais do que o preço do leite pago ao produtor, mantendo as margens apertadas.
Para a atividade com aplicação crescente de tecnologia, a expectativa é de queda no lucro médio por litro de leite produzido, mas ainda assim, espera-se resultado positivo. Diferente da pecuária de leite de baixa tecnologia que deve amargar mais um ano de prejuízo.
Por fim, planejamento, gestão e estratégias de compras de insumos são essenciais, em especial em anos de incertezas.
Fonte: Revista Agroanalysis. Volume 36, número 05. Maio de 2016.