Rafael Ribeiro, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva, sobre o atual cenário do mercado de leite e as expectativas para o setor em curto prazo.
Rafael Ribeiro é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira.
Confira a entrevista na íntegra:
Sidnei Maschio: Rafael, pelo que vocês levantaram na pesquisa mensal da Scot Consultoria, como foi o comportamento dos preços agora em julho?
Rafael Ribeiro: Os preços do leite ao produtor subiram 6,0% no pagamento de julho (produção de junho). A média nacional ficou em R$1,174 por litro, segundo levantamento da Scot Consultoria. Em relação a julho do ano passado, o preço do leite subiu 21,6%, em valores nominais.
Sidnei Maschio: E qual é a explicação pra essa alta bastante substanciosa, tanto em relação ao mês retrasado quanto na comparação com julho de dois mil e quinze?
Rafael Ribeiro: A concorrência entre os laticínios pela matéria-prima é o principal fator de alta do preço do leite no mercado interno, visto que o cenário do lado da demanda não melhorou. Queda na produção agravada pela alta dos custos de produção e clima adverso.
Sidnei Maschio: Pelo lado do consumo, dá para esperar alguma melhora em curto ou médio prazo?
Rafael Ribeiro: O consumo continua patinando. Melhorias devem ocorrer a partir de meados de 2017.
Sidnei Maschio: Já em relação à oferta, agora em julho a entrega de leite nos laticínios registrou uma pequena alta, não é? Por quê?
Rafael Ribeiro: Segundo o Índice Scot Consultoria de Captação, na média nacional, a produção subiu 0,4% em junho deste ano, em relação a igual período do ano passado. Em julho, os dados parciais indicam crescimento de 2,0% no volume captado, com peso do aumento na produção na região Sul do país. Cabe destacar, porém, que apesar do aumento da produção nos últimos dois meses, em julho o a produção caiu 4,6%, em relação a igual período de 2015.
Sidnei Maschio: Como a recuperação já acontecida no preço e com o clima ajudando em algumas regiões, dá para esperar um aumento bem mais consistente na produção daqui para frente?
Rafael Ribeiro: Espera-se aumento, mas mais comedidos em relação a anos anteriores. Os investimentos na atividade têm sido menores e ainda há cortes despesas, em especial com a alimentação concentrada.
Sidnei Maschio: Essa mudança na situação da oferta de leite no mercado nacional já está mexendo com os preços, Rafael?
Rafael Ribeiro: Para o pagamento de agosto (produção de julho) quase 5,0% dos laticínios falam em queda, mas a maioria ainda aponta ligeira alta. Para setembro (leite entregue em agosto) aumentou o número de laticínios falando em queda.
Leite spot e preços dos lácteos no atacado e varejo já caíram na primeira quinzena de agosto, o que demonstra o mercado virando em curto prazo.
Sidnei Maschio: Algo que está muito complicado no setor leiteiro brasileiro desde o começo deste ano é o volume de produtos importados que está entrando no nosso mercado. O que aconteceu de janeiro pra cá, Rafael?
Rafael Ribeiro: Em volume, as importações caíram 5,1% na comparação mensal, mas ficaram 83,8% acima do volume importado em julho do ano passado.
Sidnei Maschio: O saldo negativo na balança comercial do leite diminuiu um pouco em julho, não é? Será que a situação vai melhorar daqui para frente?
Rafael Ribeiro: O dólar caindo e as recentes reações de preços no mercado internacional devem continuar estimulando as importações, mas a retomada gradual da produção interna deverá limitar estas compras.
Sidnei Maschio: Juntando tudo, Rafael, existe o risco de uma queda geral do preço pago ao produtor brasileiro?
Rafael Ribeiro: A expectativa, em curto prazo é de mercado em queda. Vai depender das importações e de como será a retomada a produção nacional, com a safra, a partir de setembro/outubro.
Sidnei Maschio: O que o produtor tem de fazer para não dar um passo errado no mercado?
Rafael Ribeiro: Gestão e planejamento. Estratégia de compras de insumos, entre outros.