O IPCA de agosto/16 registrou inflação mensal de 0,44%, desacelerando ante o mês de julho/16, quando havia apresentado variação de 0,52%. Com esse resultado, a inflação acumulada em 12 meses recuou, de 8,75% em julho, para 8,99% neste mês, porém foi bastante superior ao mesmo mês de 2015 (0,22%).
A expectativa é que a inflação de alimentos fique um pouco mais comportada, conforme temos observado o recuo dos preços de alimentos nos indicadores que medem a inflação do atacado. Contudo, os indicadores que medem a inflação ao consumidor semanalmente tem demonstrado certo repique do preço dos alimentos no início de setembro, o que nos faz ligar o alerta.
Em relação à nossa expectativa (projeção Parallaxis: 0,36%) o resultado foi superior ao que antecipávamos devido à inflação maior nos grupos Habitação e Despesas Pessoais, além da desaceleração menos intensa do que esperávamos do grupo de Alimentos.
Em relação ao mês anterior, entre os 9 grupos que compõem o indicador, 4 desaceleraram (Alimentação e bebidas, Artigos de Residência, Transportes e Comunicação) e 5 avançaram (Habitação, Vestuário, Saúde e Cuidados Pessoais, Despesas Pessoais e Educação).
Analisando por ordem de importância na composição do resultado, Despesas Pessoais (0,10 p.p. de impacto), Saúde e Cuidados Pessoais (0,09 p.p.) e Alimentação e Bebidas (0,08 p.p.) exerceram pressão altista em conjunto representando 63,00% do resultado global do indicador.
Na análise por itens e subitens, entre os que mais impactaram, no grupo Alimentação e Bebidas, destacamos os seguintes itens: feijão-fradinho (11,27%), leite condensado (10,23%), leite em pó (7,4%), Tomate (5,76%) e Frutas (4,94%), exercendo pressões altistas.
No sentido oposto e determinantes para o recuo do indicador, desaceleraram os preços da batata-inglesa (-8,0%), feijão-carioca (-5,6%), Cebola (-18,46%) e Hortaliças (-8,81%). Em Transportes, a desaceleração se deveu a queda das passagens aéreas (-3,85%).
No sentido oposto, entre os itens que aceleraram, no grupo Educação destacaram-se cursos regulares (0,95%) e cursos diversos (1,14%). No grupo Despesas Pessoais, o destaque ficou com o item Hotéis (11,58%), devido à alta de 111,23% deste item no Rio de Janeiro, por conta da Olimpíada.
Conforme esperávamos, o IPCA desacelerou ante julho, apesar da desaceleração ter sido menos intensa do que esperávamos. Ainda que os grupos Despesas Pessoais e Saúde tenham exercido influência significativa, acreditamos num abrandamento destes para as próximas leituras, bem como o fim dos reajustes dos preços de Educação.
Contudo, o elemento chave será monitorar a inflação de alimentos. Conforme destacamos, o indicadores de inflação semanais tem apontado para pressão inflacionária de alimentos, ao passo que os indicadores no atacado demonstram recuos.
Sobre a trajetória dos juros, temos insistido que já existem elementos suficientes que respaldam o início do corte. O baixíssimo patamar da atividade doméstica, o menor reajuste dos preços administrados e o recuo do salário real, ajudarão a convergência da inflação para muito próximo do centro da meta em 2017. Nossas projeções para o IPCA seguem em 7,2% para 2016 e 4,8% em 2017.
Por fim, em nossa interpretação do último comunicado do BC/COPOM, o ciclo de ajustes na taxa Selic está em pausa no patamar de 14,25% a.a.. Em nosso cenário, ainda em 2016, o COPOM deverá efetuar um corte de 50 pontos base em novembro/16, o que levaria a Selic ao patamar de 13,75% a.a. no final deste ano. Acreditamos que até a próxima reunião (outubro/16), os fatores que pesaram para a manutenção no atual patamar ainda persistirão.
Por fim, será necessário monitorarmos atentamente como o mercado reagirá aos desdobramento recentes, bem como as sinalizações que teremos das autoridades monetárias, sobretudo no Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Por enquanto consideramos o cenário que a taxa de juros será cortada em 50 pontos base na reunião de novembro/16.
Pode ser que no RTI haja um reponderamento desse balanço de riscos, levando o comitê a colocar um peso maior nos elementos como a elevada ociosidade, o baixo nível de atividade, a distensão do mercado de trabalho e a queda dos salários reais, que exercerão uma pressão deflacionária significante no médio prazo, e possivelmente, antecipar esse corte para outubro. Porém, ainda acreditamos que esse fato tenha baixa probabilidade.
Em tempo, destacamos que quando iniciado o ciclo de queda de juros, o comitê poderá agir agressivamente, reduzindo a Selic para 10,50% a.a. ao fim de 2017, em virtude dos fatos supracitados, sem peso na consciência, de maneira que a economia poderá crescer sem gerar forças inflacionárias.