Sidnei Maschio: Rafael, a gente já tem uma boa ideia a respeito do que deve acontecer com o preço do leite entregue na usina neste janeiro recém terminado?
Rafael Ribeiro: Com a produção caindo nas principais bacias leiteiras do país e maior movimentação no atacado (varejo reabastecendo estoques e final de férias escolares) a expectativa é de manutenção a alta do preço do leite pago ao produtor.
Para o pagamento de fevereiro de 2017, referente a produção de janeiro/17, 50% dos laticínios pesquisados pela Scot Consultoria acreditam em manutenção dos preços ao produtor, 26% falam em alta e os 24% restantes acreditam em queda nos preços do leite.
Sidnei Maschio: E como foi o comportamento do custo de produção, falando assim na média nacional?
Rafael Ribeiro: Os custos de produção da pecuária leiteira aumentaram em janeiro de 2017. Segundo o Índice Scot Consultoria, a alta foi de 0,6% em relação a dezembro do ano passado.
Destaque para o aumento dos custos com os colaboradores, em função do reajuste de 6,5% no salário mínimo. Além disso, combustíveis/lubrificantes (2,8%), defensivos (1,7%) e fertilizantes (0,3%) ficaram mais caros. Por outro lado, houve queda nos preços dos alimentos concentrados, com destaque para o milho e farelos.
Na comparação com janeiro do ano passado, os custos de produção da atividade acumulam valorização de 5,4%.
Sidnei Maschio: E em relação ao volume de leite recebido pelas indústrias, o que foi que aconteceu neste começo de ano?
Rafael Ribeiro: Em dezembro/16, a produção média brasileira diminuiu 0,1% na comparação com novembro do mesmo ano, segundo o Índice Scot Consultoria de captação.
Em janeiro/17, segundo dados parciais, é esperada uma queda de 0,6% no volume de leite produzido no país. Neste caso, além da região Sul, os volumes de leite foram menores também em Minas Gerais e São Paulo.
O Índice Scot Consultoria de Captação indica uma produção 1,1% menor, na comparação com igual período do ano passado (janeiro/17 versus janeiro/16).
Sidnei Maschio: O excesso de chuva continua sendo motivo de preocupação para o fazendeiro produtor de leite da região sul?
Rafael Ribeiro: Sim, especialmente no Paraná. Além da região, as chuvas em excesso têm preocupado não só o mercado de leite, mas o de grãos também, devido a dificuldade de avanço da colheita da safra de verão em algumas regiões.
Sidnei Maschio: E nas regiões que tão padecendo com a seca, Rafael, como é que está a situação do rebanho e do produtor hoje?
Rafael Ribeiro: A situação mais complicada é na região Nordeste do país, onde em alguns casos não chove há alguns anos.
A previsão, porém, em curto prazo é de que as precipitações ocorram em maiores volumes e melhores distribuídas na região, o que deverá favorecer a produção de leite.
Sidnei Maschio: Com esses desarranjos acontecidos no clima e o avançamento do calendário, o que é que a gente deve esperar da produção nas próximas semanas, aumento ou queda, Rafael?
Rafael Ribeiro: Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o pico de produção foi em dezembro/16, ou seja, a expectativa é de queda na produção nos próximos meses, com a situação se agravando a partir de março/abril.
No Sul do país, a produção deverá cair até março/abril, aumentando a partir daí com a o período de safra na região.
Sidnei Maschio: Voltando à questão do custo de produção, com esta boa safra de grãos que está sendo prometida, o produtor de leite brasileiro já pode ficar um pouco mais sossegado em relação ao que vai acontecer com a sua despesa nos próximos meses?
Rafael Ribeiro: As expectativas são de preços menores para o milho e para o farelo de soja, em função da previsão de maior oferta na temporada atual (2016/2017).
De qualquer forma, é preciso atenção ao clima e a demanda que, pontualmente, podem dar sustentação às cotações.
Aqui podemos citar o milho, cujos preços caíram nas primeiras semanas de janeiro/17, mas firmaram no final do mês e começo de fevereiro/17, com as chuvas atrapalhando o início da colheita da safra de verão.
Sidnei Maschio: A gente acabou de começar o segundo mês de dois mil e dezessete, mas o consumo de leite e derivados continua tão ruim quanto ele estava em dois mil e dezesseis? Será que ainda vai demorar muito para melhorar, Rafael?
Rafael Ribeiro: De forma geral, é esperado que a demanda interna volte a crescer a partir de 2018, considerando a atual situação econômica do país.
Agora, pontualmente, a partir de fevereiro, espera-se maior movimentação na ponta final da cadeia, com o final das festas e férias escolares. Esta maior movimentação foi registrada no final de janeiro e primeiras semanas de fevereiro, inclusive com altas de preços dos lácteos no atacado.
Sidnei Maschio: No ano passado os produtos importados fizeram a festa aqui no nosso mercado, né? E agora em dois mil e dezessete, a situação vai continuar do mesmo jeito?
Rafael Ribeiro: Em janeiro deste ano, o déficit foi de quase US$50 milhões na balança brasileira de lácteos, com aumentos em relação ao mesmo período do ano passado.
Apesar dos preços dos lácteos mais firmes no mercado internacional, o dólar recuando em relação ao real, é um fator que pode aumentar a competitividade dos produtos importados, principalmente em um cenário de alta de preços do leite e derivados no mercado brasileiro nos próximos meses.
Sidnei Maschio: O setor leiteiro brasileiro continua sonhando que algum dia vai conseguir aumentar as suas exportações, né? Qual é a chance de que esse algum dia aí que eu falei seja agora em dois mil e dezessete?
Rafael Ribeiro: O país tem avançado dia-a-dia nesta questão das exportações de lácteos, com busca de novos mercados. Porém, no geral, os volumes embarcados ainda são poucos representativos. Para 2017, a questão do câmbio, a menor competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional e a queda da demanda por alguns clientes (como a Venezuela) são fatores que devem limitar as exportações.