Papel aceita tudo, não é verdade? Existem diversas formas de definição de metas do ano, e o mais importante no final das contas é traçar o que se espera para o futuro da atividade. São muitas as formas de cálculo, mas a prática mostra que o resultado do caixa é o que realmente importa para controlar e avaliar se a operação pecuária obteve sucesso. A afirmação é baseada no resultado de 185 fazendas, que somadas chegam a quase 800 mil cabeças, com um resultado da operação pecuária médio de R$ 113,00/ha/ano. Os dados são do Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Inttegra).
Simplificadamente, olhar para a geração líquida de caixa trata-se de avaliar o quanto de dinheiro sobrou no bolso do dono somado a quanto de gado aumentou no pasto. Ao tirar o olho do caixa, o produtor pode passar a privilegiar o patrimônio, o que é importante, contudo não está intimamente ligado à eficiência produtiva e não paga as contas no final do mês.
Quando a geração líquida do caixa não é o foco central, existe o desperdício. A consequência acaba sendo um estrangulamento das finanças, aumento do endividamento e, muitas vezes, o início do processo de extinção da atividade. Há vários exemplos de gestores, que ao obter um financiamento, aplicaram em infraestrutura, casas, máquinas e não pensaram no que de fato garantia o caixa do ano: o boi. O correto é que o recurso seja direcionado para o aumento das arrobas produzidas com eficiência.
Para ampliar essa produção, existem quatro índices que devem ser gerenciados, pois interferem diretamente na eficiência do negócio: lotação, Ganho Médio Diário (GMD), desembolso por cabeça ao mês e valor de venda. Essa conclusão foi baseada em um estudo com 270 índices pecuários, no qual se destacaram os quatro citados pela alta correlação com o resultado da operação.
Lotação – representa a carga animal mantida em uma unidade de área, expressa em cabeças ou unidades animais por hectare. Em clientes Inttegra, a média global (confinamento somado ao pasto) foi de 1,2 UA/ha chegando a 1,9 UA/ha, em média, para os 30% melhores no indicador.
GMD – analisa o ganho médio diário dos bovinos por um determinado período. A média do GMD Global (confinamento somado a pasto) de clientes Inttegra foi de 0,414 kg/animal/dia, chegando à média de 0,611 kg/animal/dia para os 30% melhores no indicador.
Valor de venda – é o valor de venda do produto final como bezerros, arrobas de boi gordo e outros.
É importante ressaltar que a lotação e o GMD são resultados do trabalho da porteira para dentro. Por outro lado, o valor de venda é definido pelo mercado que neste ano ainda se mostra instável e sem perspectivas de alta para o valor da arroba ou do bezerro. Diante disso, os líderes do negócio devem ter foco total em tudo aquilo que impacte na lotação e no GMD. Entre os itens, estão: o pasto de qualidade, a estratégia de entressafra; o investimento em genética, o cuidado com sanidade e o bem-estar animal. Com o foco nestes itens, a produtividade pode ser superior a 12 @/ha/ano, três vezes maior do que a média nacional que não chega a 4 @/ha/ano.
Para fechar a conta, falta ainda um índice que é o desembolso por cabeça ao mês. Ele é como uma impressão digital, pois cada um tem o seu pelas particularidades de cada projeto. Ele é obtido pelo custeio total somado aos investimentos realizados pela fazenda em relação ao rebanho total. Cada fazenda apresenta um perfil que descreve muito bem o estilo de operação. Como referência a média geral dos clientes Inttegra na safra 2015/2016 foi de R$ 54,98 cabeça/mês. Houve quem gastou menos de R$ 30 cabeça/mês, no entanto, no que se trata deste indicador, gastar menos não significa melhores resultados. Os que ganharam mais dinheiro no período registraram um desembolso de R$ 46,28 por cabeça/mês.
Na equação do resultado do caixa, os quatro índices têm pesos diferentes. O maior impacto, por ordem de importância está no ganho médio diário, seguido pelo desembolso, valor de venda e lotação.
Constata-se que o valor de venda apresenta impacto menor que o GMD e desembolso e, em contrapartida, é hoje o que toma mais tempo, esforço e preocupação do produtor. Um equívoco! Estudos da Inttegra mostram que para cada R$ 1,00 economizado em desembolso administrativo, por cabeça por mês, há um ganho de R$ 20,00 no resultado por hectare ao ano. Por outro lado, quem aumenta R$ 1,00 no valor de venda da @ tem aumento de apenas R$ 7,00 no resultado por hectare ao ano. Assim, quem economizou R$ 1,00 ganhou R$ 13,00 a mais por hectare do que aquele que vendeu mais caro. Ou seja, o caminho está muito mais na economia das despesas, do que na valorização de mercado.
É hora de regular o foco para 2017. Vale ter as metas para as quatro variáveis pregadas no quadro para conhecimento de todos e buscar o melhor resultado do caixa.