Sidnei Maschio: Rafael, o governo anunciou hoje o Plano Safra 2017/2018, a Scot Consultoria já tem uma avaliação de como o setor recebeu o valor de custeio de mais de 190 bilhões de reais para o ciclo?
Rafael Ribeiro: Em meio as notícias de cortes por parte do governo em outros segmentos, a notícia positiva é que houve aumento do volume para o PAP 2017/18, em relação ao Plano da safra passada, o que deverá acompanhar o crescimento da produção brasileira de grãos, que inclusive deverá ser recorde este ano (2016/2017), com o clima mais favorável e investimentos. Para 2017/2018, as expectativas iniciais apontam para incremento da área plantadas com algumas culturas, por exemplo, a soja.
O Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2017/2018 destinará R$190,25 bilhões, frente aos 185 bilhões em 2016/2017 e estará em vigor de 1 de julho deste ano a 30 de junho de 2018.
Do montante total, R$150,25 bilhões serão destinados ao custeio e comercialização; para investimentos serão R$38,05 bilhões; para apoio à comercialização serão R$1,4 bilhão e para o seguro rural serão destinados R$550 milhões.
Sidnei Maschio: Quais os pontos que você destacaria como os mais importantes no lançamento do Plano Safra?
Rafael Ribeiro: Além do aumento do montante de 2,8% em relação ao ano anterior, houve queda nas taxas de juros da ordem 1 a 2 pontos percentuais. Destacaria ainda o aumento dos recursos para linhas como o de construção e ampliação de armazéns.
Sidnei Maschio: O programa ABC, agricultura de baixo carbono, terá 2 bilhões, 160 milhões de reais em créditos. Para o setor produtivo, essa linha de financiamento, que prevê entre outras coisas, a recuperação de pastagens. O valor deveria ser maior?
Rafael Ribeiro: O volume disponibilizado é decrescente desde 2014/2015. No Plano Safra de 2014/2015, o governo federal disponibilizou R$4,5 bilhões para financiamento. Em 2015/2016, foram R$3,0 bilhões e em 2016/2017 R$2,99 bilhões. Os recursos contratados ficaram próximos de R$2,0 bilhões nos últimos dois anos.
A taxa de juros aumentou nos últimos anos, o cenário econômico ficou mais instável e isso desestimulou o pecuarista. Para uma comparação, em 2014/2015 a taxa de juros era de 4,5% a 5,0% ao ano e em 2016/2017 passou para 8,0% a 8,5% ao ano. Para 2017/2018, a taxa recuou para 7,5% ao ano.
Sidnei Maschio: O governo destinou 300 milhões de reais para o programa para a construção e ampliação de armazéns. Na sua opinião, o recurso atende as necessidades do setor?
Rafael Ribeiro: Nos últimos anos (PAP) foram contratados por volta de 60,0%-70,0% dos recursos disponibilizados para o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns - PCA. Ou seja, a questão não é tanto o volume de recursos disponibilizados, mas sim as taxas de juros e questões relacionadas a economia e política, e este cenário de incertezas.
Sidnei Maschio: O plano recebeu algumas críticas, uma delas diz respeito ao valor destinado para o seguro agrícola, 550 milhões de reais, isso é pouco?
Rafael Ribeiro: Considerando o crescimento da safra brasileira ano a ano e os riscos envolvidos é um ponto que merece atenção. A preocupação maior é com relação ao clima, que é sempre uma incógnita.
Sidnei Maschio: Rafael, mudando o rumo da conversa para o mercado de milho. Como estão os preços do produto agora em maio?
Rafael Ribeiro: Houve queda nos preços em maio e começo de junho. A pressão vem da baixa liquidez do mercado e início da colheita da segunda safra no país. De qualquer maneira, a ponta vendedora mais retraída limita as quedas neste período de safra. As expectativas em curto e médio prazos ficam por conta do câmbio e reflexos nas exportações, bem como o clima no Brasil e nos Estados Unidos.
Sidnei Maschio: Como anda o poder de compra do pecuarista em relação ao milho?
Rafael Ribeiro: Em São Paulo a relação de troca está em torno de cinco sacas de milho adquiridas com o valor de uma arroba de boi gordo.
Houve melhora da ordem de 65,0% no poder de compra do pecuarista. As quedas do milho têm sido maiores que as registradas para o boi gordo.