Uma das principais funções dos mercados futuros, além de servir de ferramenta de proteção de preços aos hedgers e de possibilidade de ganhos aos especuladores é a chamada “descoberta do preço futuro” de uma determinada mercadoria.
Ou seja, em teoria, a curva de preços futuros é o reflexo de toda a informação disponível no mercado naquele determinado momento. Ocorre que de tempos em tempos, quando o nível de ruídos externos é extremamente grande, essa última função fica comprometida e é exatamente o que está acontecendo no mercado do boi neste momento.
Se uma pessoa tivesse ficado sem ter nenhuma informação nas últimas semanas e olhasse os preços futuros do boi gordo atualmente, muito provavelmente não acreditaria no que estaria vendo. A precificação atual não guarda nenhuma correlação com fundamentos de oferta x demanda e qualquer análise racional sobre o rumo dos preços estará condenada ao erro já que o mercado tem seguido uma dinâmica própria e as emoções dos participantes tem sido muito mais importante do que os fundamentos.
Enquanto o índice Esalq à vista está em R$127,16/@, julho/17 fez mínima a R$116,60/@; agosto/17 fez mínima a R$118,00/@ e outubro/17 fez mínima a R$117,89/@. Apenas o medo de uma catástrofe justifica tamanha queda para a entressafra.
O gatilho para todo esse tumulto das últimas semanas foi basicamente a delação dos controladores da JBS e suas consequências com relação ao futuro da empresa. A cada notícia negativa que saía com relação a esse tema, nova rodada de baixa acontecia na bolsa até que a “dinâmica própria” do mercado foi acionada.
Em outras palavras, ordens “stops” de posições compradas a preços muito mais altos foram acionadas levando a um movimento em cadeia poucas vezes visto no mercado de boi. Além dos “stops” de posições compradas no mercado futuro, outro fator que aumentou a pressão de venda foi a grande quantidade de opções de venda (puts) negociadas.
Quem vende uma put assume o risco da queda de preços e uma forma de mitigar ou zerar esse risco é justamente vender contratos futuros, o que gera um movimento autoalimentado em que quanto mais o mercado cai mais vendas são acionadas e quanto mais vendas são acionadas mais o mercado cai. Nesse tipo de dinâmica é praticamente impossível determinar o fim do movimento e parafraseando a gíria futebolística, ele só termina quando acaba.
Finalizamos o texto da semana passada com a seguinte frase “todos os vencimentos da curva futura operam em suas respectivas mínimas e até o momento não existem motivos para achar que o movimento possa ter chegado ao fim. A estratégia de comprar o mercado futuro apenas por que ele caiu demais, tem se mostrado errada e gerado prejuízos para quem a implementou. Há um ditado no mercado que diz que nunca se deve pegar uma faca quando ela está caindo e atualmente esse parece ser o caso”.
Uma semana após termos escrito a frase acima, o mercado caiu aproximadamente 10 reais por arroba e a única certeza que temos é que quanto mais o mercado cai, mais perto ele está do fundo do poço, porém, antecipar o fim do movimento ainda é muito difícil.
Infelizmente o número de problemas que podemos vir a enfrentar ainda é bastante grande, e depois de um ano tão complicado como o atual é muito difícil saber o que vem pela frente.
*Texto originalmente publicado no dia 21/06/2017 na edição 1240 do informativo semanal Boi & Companhia.