Sidnei Maschio: Rafael, o mercado do leite carreou várias altas nestes últimos meses. Será que junho vai entrar nessa lista também?
Rafael Ribeiro: Segundo levantamento da Scot Consultoria, houve queda no preço do leite ao produtor de 0,3%, em relação ao mês anterior. Foi a primeira queda depois de quatro meses de alta. O aumento da produção e as vendas ruins na ponta final da cadeia pressionam o mercado de leite.
Sidnei Maschio: Em várias das principais regiões leiteiras do país a estação chuvosa foi mais generosa do que o normal dos anos passados. Isso ajudou a aumentar a oferta de leite agora em junho?
Rafael Ribeiro: Não só o clima mais favorável, mas também a queda nos custos dos alimentos concentrados (destaque para o milho) colaboraram para o aumento da oferta de leite. Em maio, a captação (média nacional) aumentou 1,4% e cresceu 1,8% em junho (dados parciais).
Sidnei Maschio: Ainda a respeito do clima, nestes últimos dias o companheiro produtor teve de tirar o pala de dentro da mala porque o frio chegou com força e com vontade, aqui no Sudeste e em quase todo o Brasil. Isso já teve algum resultado na produção nacional de leite?
Rafael Ribeiro: No Brasil Central e região Sudeste a temperatura mais baixa já está afetando a qualidade do capim, que este ano seguiu com melhor capacidade de suporte até o final e junho (chuvas tardias). No Brasil Central e região Sudeste esta questão deverá refletir na produção de leite em julho e agosto. No Sul de Minas Gerais, por exemplo, já secou bastante o capim.
Sidnei Maschio: A região sul do país anda em um compasso um pouco diferente das outras por conta do uso de pastagens de inverno nesta época do ano. Como é que está a situação hoje nos três estados sulinos?
Rafael Ribeiro: As pastagens foram prejudicadas na sua implantação, em função das chuvas em abril e maio no Sul do país. Agora a situação já está mais dentro da normalidade. Este fato somado ao custo menor com alimentação concentrada fez aumentar a produção nos estados desde maio último.
Sidnei Maschio: A respeito do comportamento da indústria laticinista e da demanda por matéria-prima, o que foi que aconteceu no mês passado?
Rafael Ribeiro: A concorrência está menor, com a produção aumentando nos últimos dois meses. Este quadro se agrava devido à demanda fraca por produtos lácteos (vendas fracas na ponta final da cadeia).
Sidnei Maschio: E em relação ao consumo de leite e derivados aqui no nosso mercado doméstico, Rafael, a Scot Consultoria está vendo algum sinal de melhora?
Rafael Ribeiro: Não, pelo contrário. A situação está bastante ruim em termos de vendas, principalmente para os produtos de maior valor agregado. Não há expectativa de melhoria de consumo este ano. A situação deverá começar a melhorar a partir de meados de 2018, se a situação política e econômica do país melhorar.
Sidnei Maschio: Em termos de custo de produção, qual foi o rumo seguido pelo junho recém-terminado?
Rafael Ribeiro: Quinto mês de queda em junho. Hoje os custos estão 12,8% menores que no mesmo período de 2016. No entanto, vale a pena destacar o cenário de preços mais firmes, por exemplo, do farelo de soja em junho e julho, acompanhando as altas de preços da soja grão e câmbio. O milho também se mostrou mais firme no início de julho, mesmo com a colheita da segunda safra em andamento.