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Boi como renda fixa?

por Leandro Bovo
Sexta-feira, 28 de julho de 2017 -10h00


Com o mercado futuro se descolando do mercado físico e aumentando o carrego e os custos com alimentação no confinamento nas mínimas dos últimos anos, abre-se a oportunidade de fazer uma operação bastante simples e que acaba funcionando como renda fixa para o investidor de fora da pecuária.


Hoje em dia muitos confinadores atuam também prestando serviços de engorda de bois de outros proprietários, nos chamados “boitéis”. Há diversas modalidades de pagamento por esse serviço, desde a cobrança de uma diária por boi hospedado no boitel, ou então o pagamento de um valor por arroba engordada ou até mesmo operações de parceria, onde o investidor coloca os bois no confinamento e fica com esse estoque de arrobas para ser vendido após o período de engorda, que normalmente é de 90 dias.


Mesmo dentro da operação de parceria, existem diversas variáveis que podem ser negociadas entre o confinador e o investidor, mas para facilitar o entendimento, vamos considerar uma operação de parceria onde o investidor compre os animais, que são pesados na fazenda de origem considerando a praxe de 50% de rendimento de carcaça e arca com o custo do transporte até o confinamento, ficando com esse estoque de arroba para ser recebido em 90 dias.


Para efeitos de cálculo, vamos considerar uma operação hipotética, onde o investidor compre bois magros em São Paulo sem ágio para o boi gordo e tenha um custo adicional de R$1,50/@ com o frete até o confinamento. O índice Esalq de 26/7 foi de R$125,66/@, então o custo final dos bois no confinamento seria R$127,16/@. Se o investidor quiser fixar as arrobas que ele vai receber em 90 dias, teria que vender o contrato futuro de outubro, travando assim um carrego de aproximadamente 5,77% ou aproximadamente 200% do CDI no período. Nos contratos de parceria geralmente o confinador assume todo o risco da operação e garante o mesmo número de arrobas ao investidor mesmo caso haja alguma mortalidade.


Esse tipo de operação financeira com commodities negociadas no mercado futuro é bastante comum e é conhecido como “cash and carry”, ele funciona muito bem quando a diferença entre a mercadoria no mercado à vista somada aos custos de armazenagem e seu preço no mercado futuro é muito superior à taxa de juros no período. Nessa condição é interessante ao investidor tirar seus recursos da renda fixa do banco, para ganhar uma renda fixa “turbinada” pelo carrego do mercado futuro. Essa arbitragem acaba funcionando como um balizador, direcionando mais oferta para onde o mercado futuro sinaliza maior escassez da mercadoria evidenciada pela alta dos preços. Com a alta do mercado futuro de boi já se iniciou uma movimentação grande de procura por bois magros para colocar no confinamento seja ele próprio ou boitel. Será que esse movimento será suficiente para fazer diferença na oferta de outubro?