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A inseminação artificial e a eficiência do rebanho (parte 1)

por Leonardo Souza
Sexta-feira, 18 de agosto de 2017 -13h40


Até o início dos anos 2000 a utilização da inseminação artificial evoluiu a passos lentos pois esbarrava na dificuldade operacional da tecnologia.


A necessidade de efetuar a observação visual de cio das matrizes - operação de baixa eficiência pois, mais de 50% dos cios não são detectados pelos vaqueiros – desmotivava os produtores a aderirem a técnica.


A falha na detecção de cio é terrível para o rebanho, uma vez que, aumenta o intervalo de partos, com consequências nefastas para a produtividade da fazenda.


A cada falha de detecção de cio e, por sua vez, a não inseminação e não fertilização do óvulo, a parição é adiada por pelo menos 21 dias. Esse adiamento representa uma queda de peso à desmama.  Veja na figura 1 os dados de 101.673 bezerros (machos) desmamados pelos criadores participantes do Programa Nelore Qualitas.


Figura 1.
Peso em quilos aos sete meses de acordo com o mês de nascimento.
Fonte: Qualitas – Melhoramento Genético


Outro problema que ocorre com o adiamento da parição é o aumento da mortalidade de bezerros recém-nascidos, por ocasião do maior desafio sanitário que estes bezerros enfrentam por nascerem nos meses com maior intensidade de chuvas. Veja na figura 2.


Figura 2.
Mortalidade de acordo com o mês de nascimento.
Fonte: Qualitas – Melhoramento Genético


Para piorar ainda mais, estes bezerros que nascem tarde serão bois que serão abatidos mais leves mas, principalmente, serão abatidos mais velhos. Como mostra o a figura 3, referente a dados reais de uma fazenda.


Figura 3.
Idade de abate de acordo com o mês de nascimento (%).
Fonte: Qualitas – Melhoramento Genético


Nos rebanhos onde existe estação de monta, o aumento do intervalo entre partos, diminui a chance delas emprenharem até o final da estação, diminuindo assim, o tempo de permanência no rebanho, que é a chamada pelos norte-americanos de “stayability”.


Em rebanhos com índices de desmama acima de 65%, que são raros no Brasil, vaca vazia é vaca destinada ao abate, sendo importantíssima para o faturamento da fazenda.


A tabela 1 mostra o tempo de permanência no rebanho de fêmeas que iniciaram a parição em 2000, aos 36 meses e que foram inseminadas uma vez com observação de cio e depois eram repassadas com touro em uma estação de monta com duração de 120 dias.


Tabela 1.
Tempo de permanência de fêmeas no rebanho.
Fonte: Qualitas – Melhoramento Genético


Na figura 4 veja por que isso ocorre. Se antecipava em 30 dias o início da inseminação das novilhas, pensando que elas, parindo mais cedo, tivessem tempo de se recuperar para emprenhar na segunda estação de monta. Vejam que esse método é de baixa eficiência pois somente 50% das que pariram em 2000 pariram em 2001.


Vejam que a cada ano o parto das vacas foi adiantando, forçando assim a saída das vacas do rebanho, resultado do menor tempo que elas tiveram para emprenhar durante a estação de monta.


Figura 4.
Distribuição de nascimentos de 2000 a 2004.

Fonte: Qualitas – Melhoramento Genético


Infelizmente, apesar de viabilizar a utilização de touros geneticamente superiores, a inseminação artificial com observação de cio piora a eficiência reprodutiva das matrizes, aumentando o intervalo entre partos e diminuindo o tempo de permanência das vacas no rebanho. Esse quadro aumenta a necessidade de novilhas para reposição, diminuindo a pressão de seleção nesta categoria. Ou seja, novilhas de pior qualidade são necessárias para repor vacas vazias.


Além disso, a distribuição de nascimentos desfavorece o desempenho dos bezerros à desmama, que continuará pior após a desmama, diminuindo a produtividade do rebanho pelo aumento da idade média de abate dos machos.


Nesta situação, a cobertura por touros melhoradores é mais eficiente que a inseminação artificial com observação de cio.


Felizmente, o ser humano é fantástico e inventou a I.A.T.F. (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) mas, será que foi a solução? É o que veremos em nosso próximo texto…