Nos dias 3 e 4 de outubro de 2017 acontecerá o Encontro de Adubação de Pastagens da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto-SP.
Um dos palestrantes será o professor e pesquisador da UNESP, campus de Jaboticabal, Ricardo Andrade Reis. Ele falará sobre como a suplementação na engorda de bovinos pode impactar a taxa de lotação das pastagens.
Confira a entrevista abaixo e veja um pouco do que será abordado em sua apresentação.
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Scot Consultoria: Professor, em resumo, o que o senhor abordará na sua palestra durante o Encontro dos Encontros da Scot Consultoria? O que os participantes absorverão da sua palestra de mais importante?
Ricardo Reis: Comentarei sobre o ajuste de lotação em resposta à suplementação. A capacidade de suporte de um pasto é definida como a taxa de lotação (número de animais/área) em uma condição ótima de oferta de forragem.
Essa condição ótima seria aquela de exploração do pasto na qual você obtém um desempenho por animal alto, e também um desempenho por área alto e garante a longevidade e persistência no pasto.
E ao trabalhar com eficiência de utilização dos recursos, tais como o pasto, o nitrogênio, e a genética animal, por exemplo, você mantem o pasto sem degradação e sem compactação e, assim, é possível diminuir a possibilidade de emissão de gases de efeito estufa, como o CO2 e o metano, por exemplo.
Além disso, ao fazer uma dieta equilibrada, do ponto de vista do animal, com níveis balanceados de proteína e energia, é retido menos nitrogênio no animal e é eliminado menos nitrogênio no solo e menos óxido nitroso, que são grandes poluentes.
Então, na verdade, o manejo associado com suplementação proporciona alta eficiência agronômica através da alta produção de forragem, alta eficiência zootécnica por meio da maior “conversão” do capim em peso para o animal consequentemente maior eficiência econômica e junto com todos esses fatores também alcançamos a eficiência ambiental porque estamos retendo mais nutrientes no animal e produzindo menos gases do efeito estufa, e isso é o que todos nós queremos.
Esse conjunto de ações leva a um maior ganho de peso, uma melhor conversão alimentar e a um abate mais precoce do animal. Já pensou se alguém pagasse o produtor por produzir um animal mais jovem, com uma carne melhor e que ainda gerasse menos gases do efeito estufa? É essa iniciativa que o produtor brasileiro precisa! O produtor sabe fazer tudo isso, mas falta o incentivo político-financeiro, os frigoríficos e o governo deveriam perceber isso.
O produtor sabe das vantagens de adotar essas tecnologias e ele só não adota porque não ganha dinheiro, não existe sustentabilidade sem dinheiro. Se você tem lucratividade você preservará o ambiente, é uma coisa natural. Por exemplo, se você aumenta a lotação de uma cabeça para duas, você pode reduzir metade da área de pasto.
Scot Consultoria: De acordo com suas pesquisas, quais são as melhores relações entre altura de pastagem e dose de suplementação para engorda de bovinos?
Ricardo Reis: Na UNESP de Jaboticabal trabalhamos com pastejo contínuo. Nas alturas entre 25 e 35 cm do capim braquiária adubado com 90 até 180 quilos de nitrogênio por hectare/ano, nas nossas terras, é possível manter de 3 a 5 UA por hectare com elevado ganho de peso. Com esse mesmo manejo já chegamos a alcançar até 30@ por hectare na estação das águas.
Agora, para isso, o indivíduo precisa ter o hábito de tirar e colocar animais no pasto, aplicar os fertilizantes de maneira adequada e avaliar periodicamente o sistema. É preciso avaliar o ganho de peso dos animais frequentemente, avaliar a oferta de forragem através da medição da altura dos pastos, e assim por diante. Se o produtor não tiver o controle dos níveis de produção ele não sabe o que ele está ganhando e o que está deixando de ganhar.
Não existe um padrão de uma receita de eficiência, mas existe um fator psicológico que não podemos negligenciar.
O pecuarista quando divide pasto e gasta um dinheiro apreciável com o sistema rotacionado tem maior atenção no manejo, quando ele deixa o pasto de 50 a 100 hectares ele passa a achar que o sistema é extensivo, mas não é! O cuidado tem que ser o mesmo, tanto no sistema rotativo quanto no sistema contínuo no que diz respeito à oferta de forragem. Tem o lado cultural do indivíduo de achar que o sistema extensivo é igual ao contínuo e não é, porque você pode ter o sistema contínuo com alta intensificação, o que importa é o manejo de oferta! Em qualquer sistema você deve oferecer quilos de matéria seca/animal/dia adequados.
Scot Consultoria: Professor, qual o impacto do uso do Nitrogênio em pastagens na taxa de lotação animal?
Ricardo Reis: Mostrarei isso na palestra inclusive, o ganho com adubação não tem uma resposta linear, principalmente no ganho por animal. A medida com que se aumenta a dose, a eficiência de transformar esse adubo em arrobas vai diminuindo.
Hoje, por exemplo, temos um rendimento econômico maior usando 180kg, em resposta de quilos de ganho de peso por adubo aplicado, do que com 270kg, por exemplo.
São necessárias estratégias de manejo associadas à suplementação para aumentar a eficiência de uso de pasto produzido, isso não quer dizer que colocar 300kg de nitrogênio economicamente será melhor que 180kg ou 200kg.
Produzir folhas verdes, produzir energia digestível e proteína são as principais estratégias de manejo. Adubação não é uma receita de bolo linear. Quando o pasto é adubado, a planta responde aumentando o volume de folhas e caules produzidos, mas isso não necessariamente virará carne ou leite. O produtor tem que fazer a conta.
Scot Consultoria: Professor, taxa de lotação, capacidade de suporte e desempenho animal, qual desses três índices tem maior impacto econômico na fazenda?
Ricardo Reis: Se entendermos o conceito de produtividade, ou seja, a quantidade de arrobas/hectare produzida, o índice com maior impacto econômico seria a capacidade de suporte. E dentro da capacidade de suporte (que é um conceito muito amplo), há associação da persistência do pasto, ou seja, a necessidade ou não de renovar o pasto ou trocar de forrageira para manter o sistema.
Então, na verdade, o olhar na fazenda deve ser voltado para o conjunto desses conceitos. O que paga a conta no final do ano são as arrobas vendidas por hectares, mas olha que coisa interessante, se alguém pedir um boi de 18@, mais precoce, com maior cobertura de gordura e maior maciez e oferecer uma bonificação por isso, o produtor começa a trabalhar também com os cuidados com o animal, adotando técnicas melhores de manejo que visem o bem estar animal, tais como cuidados no transporte e cuidados na aplicação de vacina, por exemplo. Com isso, o frigorífico acaba ganhando também, porque, além de ter uma carne de melhor qualidade, ele também dilui os custos, pois o tempo trabalhado e preço gasto para processar uma carcaça leve e uma mais pesada são o mesmo.
Por fim, no Brasil, temos um número enorme de pessoas desarticuladas trabalhando com um número pequeno das super articuladas. O produtor sabe o que produzir e sabe como produzir e ele vai usar a tecnologia que for de fácil adoção e de resposta e retorno econômico rápido.