Tem sido surpreendentes os resultados proporcionados pelo uso de sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA ou ILPF).
Não é atoa que nos últimos anos temos assistido uma significativa evolução na área com o uso de alguma modalidade desta tecnologia. Como representada na figura 1 de 2005 a 2015 uma evolução passando de 1,87 para 11,47 milhões de hectares com alguma modalidade de ILPF.
Vários estudos da Embrapa e de outras instituições de pesquisa buscam demonstrar estes benefícios da utilização de sistemas integrados há mais de 30 anos, porém só nos últimos dez anos esta evolução tem sido significativa, por que? A produção agropecuária passou por transformações drásticas de produtividade nos últimos 20 anos, a valorização das commodities pressionou bruscamente o avanço da produção para áreas de solos e climas muito mais desafiadores, sem contar que as mudanças climáticas também têm tornado a produção agrícola mais difícil devido às alterações nos regimes de chuva nas diferentes regiões produtoras.
Sendo assim, a ILPF traz como principal característica, um sistema de produção resiliente, aquele que consegue suportar agressões significativas e manter sua capacidade produtiva, enfim um sistema de produção sustentável.
Quais as premissas de um sistema sustentável de produção agropecuária?
Quando falamos de sistemas sustentáveis, tendemos a lembrar apenas das questões de cunho ambiental, porém estes conceitos são muito mais amplos. Um sistema sustentável tem como premissas básicas os seguintes aspectos abaixo:
• Tecnicamente eficiente (sinergismo, otimização de recursos);
• Economicamente viável (poupança, diversidade de receitas, estabilidade do lucro);
• Ambientalmente correto (ambiência animal, fixação de carbono, conservação do solo e da água);
• Socialmente justo (mão de obra legal, distribuição de renda);
• Culturalmente aceito (produto produzido), e;
• Politicamente aplicável (cana-de-açúcar no Mato Grosso, soja no Bioma Amazônia,…).
Tecnicamente eficientes na agricultura e na pecuária
Sistemas integrados de produção tem se mostrado tecnicamente superiores a sistemas tradicionais de produção, podemos verificar na figura 2 o significativo aumento de produtividade observado em dez anos de aplicação da tecnologia na Fazenda Santa Brígida, praticamente se conseguiu dobrar a produtividade por área em dez anos, como observamos na figura 2.
A pecuária na Fazenda Santa Brígida também cresceu significativamente, a figura 3 apresenta a fazenda degradada em 2006 com 0,5 UA por hectare e produção de 2,5@ por hectare por ano, e em 2016 uma lotação de 4UA por hectare e produção de 28@ por hectare por ano, evolução observada em dez anos de aplicação da tecnologia na Fazenda Santa Brígida.
Economicamente Viáveis
As diferentes modalidades de integração também estão sendo impulsionadas pelos resultados econômicos proporcionados pela melhor produtividade induzida pela sinergia entre os diferentes componentes (figura 4).
Ambientalmente Correto
A mitigação da liberação de gases de efeito estufa é uma realidade em sistemas integrados, os sistemas ILPF conseguem manter um processo biológico que é capaz de sequestrar dióxido de carbono e compensar as emissões de CH4 ocorridos na fermentação entérica, como representado na figura 5.
Os serviços biológicos promovidos pela “safra de raiz” da braquiária vão muito além da pastagem, estes solos passam a ter características produtivas e biológicas muito superiores e a possibilitar a infiltração de água e evitar a erosão nestas áreas (figura 6).
Socialmente Justos
A Fazenda Santa Brígida (Ipamerí-GO), em dez anos quadruplicou seu quadro de funcionários, implantou programas de capacitação continuada, sistemas de segurança e saúde do trabalhador e gerou ações de irradiação destas posturas para seu entorno.
Sistemas Sustentáveis de produção agropecuária exigem uma visão mais ampla
O respeito às inter-relações entre estes diferentes aspectos que englobam a produção em nosso país, é que vem tornando os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária em um modelo ideal de produção sustentável.
ILPF se moldando aos diversos Biomas Brasileiros.
Os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária têm capacidade de implantação em todos os nossos biomas, respeitando suas particularidades temos ILPF do Oiapoque ao Chuí. A figura 9 apresenta os estados mais representativos que utilizam de sistemas integrados.
“O produtor no vermelho nunca cuidará do verde”
Esta é uma frase que sempre nos incomodava no início da implantação dos projetos, diziam que o discurso sempre era muito bonito e que queriam ver na prática os resultados do sistema. Hoje estas propriedades já possuem resultados satisfatórios, principalmente econômicos, fazendas passaram de cenários de prejuízo para lucro por hectare acima de R$2,5 mil (dois mil e quinhentos reais), com possibilidade de serem ainda mais eficientes e atingirem cifras muito superiores.
Algumas propriedades no Mato Grosso e Rondônia se especializaram na produção e exportação de madeira de Teca criando um ambiente de negócio muito distinto com cifras muito altas, como é o caso da Bacaeri Florestal que se dedica à Integração Pecuária e Floresta, o gado passa a permitir o lucro mais imediato enquanto a atividade florestal demanda de 15 a 20 anos para se realizar o corte e comercialização. Outras inciativas com eucalipto como é o caso do Sr. Marco Túlio Paulinelli em Uberaba-MG que realiza a integração de pecuária de corte, leite e eucalipto para movelaria, que se dedica à produção de móveis e comercialização final em lojas especializadas. Estas fazendas conseguem realizar lucro por hectare muito acima da maioria das culturas concorrentes como a cana e a soja, por exemplo.
A pecuária passa a interferir positivamente nos resultados da soja
A pecuária dentro dos sistemas integrados também tem se mostrado muito mais eficiente, com produtividades superiores a 30@ por hectare por ano e com resultado líquido superior a R$2,0 mil (dois mil reais) por hectare só da pecuária; como demonstrado em experimentos da Embrapa Agrossilvipastoril em Sinop-MT.
A produtividade de soja dentro dos sistemas integrados de produção, também tem se mostrado superior, como apresentado na figura 12 com médias de 9,5 sacas a mais por hectare quando esta soja está implantada em plantio direto na braquiária. Também o Dr. Lourival Vilela da Embrapa Cerrados tem demonstrado em seus experimentos em propriedades rurais na Bahia, produtividades de soja acima de 6 sacas por hectare a mais quando esta braquiária sofre pastejo pelos bovinos em comparação com plantio direto sem pastejo como demonstrado na (tabela 1).
Enfim, está claro que o consórcio destas diferentes atividades produtivas na mesma área tem garantido resultados superiores em comparação com as mesmas atividades solteiras. Porém cabe ressaltar a necessidade de acompanhamento técnico e planejamento para lidar com esta diversidade para que os resultados econômicos sejam garantidos.
Ciclo virtuoso da produção sustentável em sistemas ILPF
O que temos assistido em nosso dia a dia no campo, é que os produtores adotantes de sistemas integrados de produção passam a ter uma postura muito mais empreendedora frente aos desafios, passam a ser mais dinâmicos na condução das atividades e enfrentam os problemas do dia a dia com muita naturalidade, este comportamento tem contaminado positivamente a equipe de colaboradores e a fazenda passa a ter uma dinâmica produtiva arrojada.
Estas fazendas passaram a ter suas terras mais valorizadas pois expõem de forma clara seus potenciais produtivos.
Em trabalhos realizados pela Dra. Marcela Porto Costa, na aplicação de metodologias de análise de ciclo de vida, tem demonstrado que as fazendas integradas necessitam seis vezes menos áreas para produzir a mesma quantidade de produção agropecuária que fazendas convencionais.
Temos ainda vários desafios na condução de projetos integrados, o componente florestal ainda não faz parte de nossa tradição e impõem desafios na comercialização dos produtos finais. A análise dos diferentes arranjos capazes de se implementar, a adequação destes arranjos aos diferentes biomas, climas e solos. Tudo isso, impulsionado por uma nova geração de sucessores que demandam, muito mais que apenas resultados econômicos, demandam resiliência destes sistemas de produção e demandam, principalmente um propósito, uma bandeira onde possam acenar para o público urbano, que são dignos de respeito e que estão fazendo uma grande diferença em um mundo globalizado e demandante de produtos imersos em responsabilidade sócio ambiental.