Após dois anos de crescimento negativo, o PIB brasileiro, ao que tudo indica, fechará 2017 de forma positiva. A inflação deve encerrar o ano abaixo de 3,1% e a Selic inferior a 7%. O dólar deve se manter na casa dos R$ 3,20. Estes números indicam um Brasil, aos poucos, se levantando e saindo da recessão. É possível, portanto, olhar para 2018 de maneira otimista?
Marcando o encerramento do ano e a preparação para o seguinte, o Encontro de Analistas da Scot Consultoria (Bebedouro/SP) mais uma vez foi sucesso de público. Reunindo mais de 250 participantes, o evento, já tradicional no calendário do agro, ofereceu aos presentes no auditório da Dow AgroSciences, em São Paulo (SP), uma manhã repleta de análises, projeções e percepções acerca dos rumos da economia brasileira.
Mediada pelo zootecnista Gustavo Aguiar, da Scot Consultoria, o encontro teve início debatendo a reforma da previdência. “Esse é o assunto central”, confirma Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro. “O problema político do País não é entre esquerda e direita. Existe no momento uma leitura geral conduzindo este tipo de análise. Ou Lula ou Bolsonaro. Porém, na minha opinião, o grande debate é entre uma agenda populista ou reformista. Esse é o marco que separará os mercados no próximo ano”, argumenta e completa: “Esse é o cerne da preocupação dos mercados financeiros. Mesmo se o governo atual prosseguir apenas com a agenda mínima, como prometeu votar, geraria uma economia de R$ 400 bilhões”.
Sergio Goldenstein, da Flag Asset Management, corrobora: “Se passar alguma coisa ainda neste mandato, seria muito positivo. Mesmo que seja 40% da proposta original”. De acordo com ele, a grande questão não resolvida no País é a fiscal: “Os gastos previdenciários representam 55% do total. E com uma trajetória ascendente. Se isso não for revisto, caminhamos para uma trajetória insustentável para a dívida pública, que trará consequências como a queda da confiança, depreciação do câmbio e recessão”.
Do ponto de vista político e econômico, o Brasil nunca terá um cenário perfeito, acredita Iwan Wedekin, da Wedekin Consultores. “Isso não existe”, ele afirma e continua: “A eleição do Lula em 2002 vacinou o Brasil. Naquela época, por desconfiança do mercado, o câmbio estourou. Agora, nós não temos mais essa surpresa”. Neste sentido, a desgovernança do País afeta a vida das pessoas, porém, em menor escala. “O governo Temer tem a pior avaliação da história e, mesmo assim, a economia dá sinais de recuperação”, explana. Sergio Goldenstein completa: “O cenário político afeta muito mais os investimentos do que o consumo. Se o empresário não sabe quem será o próximo presidente, é racional que ele postergue esse aporte”.
A CONTINUIDADE DO CICLO. O ano de 2018 se apresenta como muito favorável ao crescimento econômico, com queda nas taxas de juros e uma recuperação do consumo. “Se houver um alinhamento dos astros, com a eleição de um candidato de centro, podemos ter um ciclo de crescimento muito favorável”, projeta Alexandre Mendonça de Barros. “Caso contrário, voltaremos a viver uma volatilidade muito grande”, alerta.
Sergio Goldenstein reforça: “Caso um reformista seja eleito, teremos um ciclo extremamente positivo. Voltaríamos a ser um país muito atrativo para investidores estrangeiros, acelerando o crescimento. Ainda, essa taxa de juros atual, baixa, pode, de fato, se tornar perene, beneficiando os cidadãos brasileiros como um todo”.
Desta forma, uma pergunta fundamental permeia o pensamento de todos do setor: Em quem votar nas próximas eleições? “O agronegócio precisa fazer campanha para os reformistas, liberais e para o desenvolvimento, livre iniciativa e liberdade”, afirma Alcides Torres, o Scot. “Aquele candidato que tiver essas bandeiras deve ter a nossa simpatia”, completa.
O cenário atual, de fato, é totalmente binário e pautado pelos extremos. “Se caminharmos para um destes polos, a sociedade ficará ainda mais polarizada e seria um fator de colapso para o País”, acredita Sergio e sustenta: “O Brasil precisa hoje de um reformista de centro”.
Caso o Lula concorra, o executivo da Flag Asset Management acredita em um discurso do candidato totalmente contra as reformas. “A consequência disso será que a confiança, força motriz da economia, despencaria. Os estrangeiros baterão em retirada e recessão voltaria”, esboça e continua: “E, mesmo que em um segundo momento quisesse voltar atrás, ser um pouco pragmático, não seria como foi em 2002 e 03”. E, sobre o outro extremo, o analista também deixou sua opinião: “Não se iludam. O Bolsonaro é um nacional desenvolvimentista e adepto das políticas do Geisel. É um intolerante, autoritário e um completo despreparado”.
Respondendo a uma pergunta da plateia, Sergio se posicionou contrário a um Estado mínimo, uma das bandeiras levantadas pelo candidato de direita. “O mercado não resolverá todos os males”, ele afirma e prossegue: “O Estado precisa ser menor, mas não mínimo, pois existem áreas como saúde, educação e infraestrutura nas quais o governo deve estar presente”.
A LAVA JATO. Muito se discute atualmente sobre os benefícios da operação da Polícia Federal. “Importantíssima nesse sistema de saneamento da política e da relação empresariado e políticos brasileiros”, aponta a advogada Érica Gorga e justifica: “Se deu uma mudança estrutural na sociedade brasileira, visto a possibilidade de condenação de grandes criminosos”. Mas, por outro lado, a forma como as investigações tem sido realizadas merece ser melhor avaliada. “Virou um grande show. É a política do pão e circo. Só que esse circo está acabando com o pão”, compara.
Em um momento de grande destaque da Operação, é impossível discutir macroeconomia sem abordar os desdobramentos no mundo jurídico, acredita Érica. “Realmente espero uma correção de rota ano que vem em relação à atuação dos procuradores, que trabalhem com mais técnica e também de forma sigilosa, somente liberando informações que são certeza”.
A especialista também discordou do uso político em cima da Operação. “É problemático alguns procuradores do primeiro escalão, não só de Brasília, mas também de Curitiba, dar declarações sobre o dinheiro desviado por corrupção, que poderia ser utilizado para a compra de medicamentos ou tapar buracos em vias públicas. Isso não existe e não é possível. No caso da Petrobrás, o dinheiro deve para a própria empresa, no setor petrolífero”, contextualiza e conclui: “É inadmissível propagar para a população uma visão tão distorcida do combate à corrupção”.
Por João Paulo Monteiro.
Matéria publicada na Edição 128 de dezembro de 2017 da revista Feed&Food.