Sidnei Maschio: Rafael, começando pelo milho, quanto foi a produção brasileira no ano passado?
Rafael Ribeiro: Segundo a Conab, o país colheu 97,84 milhões de toneladas do cereal em 2016/2017. Além do incremento na área, o volume produzido foi recorde em função do clima mais favorável na temporada.
Sidnei Maschio: E a respeito do preço, o que foi que aconteceu com o milho em 2017?
Rafael Ribeiro: Com a maior oferta e estoques maiores, os preços caíram.
Com relação aos preços médios, na região de Campinas-SP, o milho caiu 32,0% em 2017, frente a 2016, segundo levantamento da Scot Consultoria.
Sidnei Maschio: E como foi o comportamento das exportações de milho no ano passado?
Rafael Ribeiro: Os embarques foram recorde em 2017, totalizando 29,25 milhões de toneladas, frente as 21,86 milhões de toneladas exportadas em 2016.
Apesar do aumento no volume embarcado, o incremento na produção foi maior, pressionando as cotações para baixo principalmente no primeiro semestre.
Sidnei Maschio: Já dá para ter uma ideia do que deve acontecer no mercado internacional do milho agora em 2018?
Rafael Ribeiro: Em janeiro/18 a média diária embarcada na primeira semana foi de 105,1 mil t por dia, 47,4% menos frente as 199,7 mil t por dia, em média, em dezembro/17. Dólar caindo e período do ano (pós festas) colaboraram com este cenário.
Para 2018, a Conab estima 30 milhões de toneladas de milho exportada.
A boa disponibilidade interna e os preços mais competitivos do milho brasileiro no mercado internacional deverão favorecer os embarques este ano também. Vai depender também do câmbio.
Sidnei Maschio: A safra atual vai ser de redução na colheita do milho, Rafael?
Rafael Ribeiro: Além da redução na área plantada em 2017/2018, de (2,9%), em relação a 2016/2017 a produtividade deverá ser 2,8% menor. No último relatório, de janeiro/18, a Conab estimou uma redução de 5,6% na produção total em 2017/2018, em relação à safra passada. Foram previstas 92,34 milhões de toneladas.
Lembrando que houve revisão para cima da produção 2017/2018, em relação ao levantamento anterior, mas o volume continua abaixo do volume colhido em 2016/207.
Sidnei Maschio: Para a segunda safra, já dá para arriscar uma previsão a respeito de produção e preço?
Rafael Ribeiro: Neste caso, ainda existem algumas incertezas com relação principalmente ao clima, que podem pontualmente mexer com o mercado neste semestre.
Se o clima se mostrar adverso, com prejuízos a produção na segunda safra, os preços poderão no mercado interno. Mas é importante destacar que os estoques maiores na temporada são limitantes para os aumentos nos preços.
Com relação à segunda safra, ou safra de inverno, a Conab, por ora, manteve a área da safra anterior, de 12,11 milhões de hectares, mas estima uma queda de 0,3% na produtividade média nesta safra.
Com isso, estão previstas 67,17 milhões de toneladas do cereal na segunda safra este ano, frente as 67,38 milhões de toneladas colhidas anteriormente.
Sidnei Maschio: Mudando de produto, Rafael, a soja caiu no ano passado, mas foi bem menos do que o milho?
Rafael Ribeiro: Sim. Para a soja, houve queda de 12,6% em Paranaguá, no Paraná, frente aos 32,0% de queda para o milho. No caso da soja, pontualmente tivemos a questão do câmbio e clima dando sustentação aos preços, mesmo diante de uma produção recorde em 2016/2017, de mais de 114 milhões de toneladas.
Sidnei Maschio: Qual é a explicação para essa queda nos preços da soja?
Rafael Ribeiro: Aumento da produção nos principais países produtores e estoques mundiais maiores.
Sidnei Maschio: A respeito da área plantada e da produção, o que é que a gente tem hoje de previsão para a soja na safra atual?
Rafael Ribeiro: Apesar do acréscimo de 3,2% na área no Brasil, frente à safra passada, a produção deverá ser 3,2% menor, em função de condições climáticas mais adversas previstas para a temporada atual e queda nos rendimentos médios das lavouras. A produtividade média deverá ser 6,2% menor neste ciclo.
A Conab estima que o país colherá 110,44 milhões de toneladas de soja na temporada atual.
Sidnei Maschio: E do mercado de farelo de soja, Rafael, o que esperar neste ano?
Rafael Ribeiro: Para 2018, o câmbio mais firme em relação ao real e a demanda mundial aquecida deverão continuar como fatores de sustentação das cotações. Os preços deverão ficar ligeiramente acima de 2017, mas sem muito espaço para fortes altas em função da maior disponibilidade.
Sidnei Maschio: O problema é que a meteorologia já confirmou que este ano vai ter La Niña. Isso pode mudar o rumo do mercado da soja ou do milho, Rafael?
Rafael Ribeiro: Aí é que está a questão da incerteza. Em um cenário de piora do clima e impactos maiores sobre a produção poderão, podemos ter um mercado mais sustentado. Mas cabe destacar novamente, que no caso do milho, em função dos estoques maiores, não existe espaço para fortes valorizações, como as verificadas em 2016.