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Pagamento, produção, consumo e investimentos na pecuária leiteira

por Terraviva DBO na TV
Sexta-feira, 26 de janeiro de 2018 -16h45

 


Sidnei Maschio: Rafael, em novembro e em dezembro o preço do leite pago ao produtor ficou praticamente estável. Dá para ter uma ideia do que deve acontecer no pagamento agora de janeiro?


Rafael Ribeiro:  Os dados parciais apontam para manutenção das cotações do leite ao produtor no pagamento de janeiro/18, referente ao leite entregue em dezembro/17.


Em alguns casos, como em SP e MG, alguns poucos laticínios baixaram o preço neste pagamento, em função da produção maior (dezembro/17 foi pico de produção nestes estados).


No Sul do país, o cenário tem se mostrado um pouco mais firme, com a maioria das empresas mantendo os preços do último pagamento e algumas reajustando para cima. Neste caso, as questões climáticas (excesso de chuva no Paraná e estiagem no Rio Grande do Sul) têm colaborado com este cenário.


Sidnei Maschio: Falando no geral do Brasil, como está sendo o comportamento da produção nestas últimas semanas?


Rafael Ribeiro:  Dezembro foi o pico de produção no Brasil Central e região Sudeste. Ou seja, daqui para frente a tendência é de queda na produção nestes estados.


No Sul do país a produção vinha em queda em dezembro e deverá seguir caindo ao longo de janeiro/18 e meses seguintes. O excesso de chuvas no Paraná e a estiagem no Rio Grande do Sul deverão impactar negativamente a produção.


Sidnei Maschio: E a respeito do custo de produção, Rafael, qual é a situação atual e o que é que deve acontecer nas próximas semanas?


Rafael Ribeiro:  Mesmo com o aumento do custo com funcionários (colaboradores), em função do reajuste de 1,8% no salário mínimo, as quedas dos preços dos alimentos concentrados e proteicos, fertilizantes e suplementos minerais puxaram o indicador de custo para baixo em janeiro de 2018, em relação a dezembro último. O recuo foi de 0,6% para a atividade leiteira.


Sidnei Maschio: Falando nos insumos mais importantes na produção de leite, o andamento da safra de grãos está dentro do esperado, Rafael?


Rafael Ribeiro:  A questão principal são as chuvas em excesso no Centro-Oeste e Paraná, que têm dificultado os trabalhos de colheita no campo. No Rio Grande do Sul, a preocupação é coma falta de chuvas nos últimos meses, que também podem comprometer a produtividade das lavouras.


Sidnei Maschio: Depois de apanhar feio do mercado no ano passado, o fazendeiro vai ter condição e disposição para investir em melhorias na sua estrutura de produção agora em dois mil e dezoito?


Rafael Ribeiro: O cenário de oferta mais ajustada e demanda um pouco melhor que em 2017 são fatores positivos para os preços do leite ao produtor, especialmente no primeiro semestre (entressafra). A questão é a previsão de aumento dos custos de produção que deverá impactar na margem do produtor de leite.


É um ano para botar a casa em ordem. Eu não acredito em grandes investimentos na atividade por parte do produtor.


Sidnei Maschio: Ao longo do ano passado muito produtor no Brasil inteiro desistiu da atividade. Esse leite que eles vão deixar de produzir vai fazer falta no mercado?


Rafael Ribeiro: Acredito que esta diferença será compensada por outros produtores mais eficientes e que vêm aumentando a produtividade do rebanho e os índices da atividade. Com exceção de 2015 e 2016 a produção de leite no Brasil cresceu em todos os outros anos nas últimas duas décadas, mesmo com a redução do número de produtores no país. Os mais eficientes se manterão na atividade em longo prazo.


Sidnei Maschio: Numa situação como esta em que a gente está agora, a melhor coisa a fazer é ficar quieto em casa para não correr risco maior ainda ou é investir na produtividade do rebanho?


Rafael Ribeiro: Os investimentos devem sempre ocorrer buscando melhoria da produtividade e maior eficiência, mas acredito que diante deste quadro e situação de mercado nos últimos anos, a hora é de organizar a fazenda, colocar a casa em ordem. Isto porque apesar das expectativas de preços de leite melhores que em 2017 e melhoria da demanda, 2018 será um ano de desafios e incertezas.


Sidnei Maschio: Tem muita gente falando em recuperação da economia nesta passagem do dezessete para o dezoito. Isso já está se refletindo na demanda por leite e derivados no mercado nacional?


Rafael Ribeiro: Ainda não. Espera-se uma reação a partir de fevereiro, após as festas (Carnaval) e final das férias escolares.


Sidnei Maschio: O saldo da abalança comercial do setor leiteiro brasileiro em dois mil e dezessete ainda foi negativo?


Rafael Ribeiro: A balança comercial brasileira de lácteos terminou 2017 com déficit de US$443,27 milhões, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O déficit diminuiu 8,5% em relação a 2016.


Isso porque a importação caiu 31,4% em volume em 2017 comparado com 2016, totalizando 166,33 mil toneladas de lácteos. Com relação ao que se gastou a queda foi de 14,9%.


Sidnei Maschio: Os preços do leite e dos seus derivados voltaram a subir no mercado internacional. Qual deve ser o resultado disso aqui no nosso terreiro?


Rafael Ribeiro: A redução na produção de leite na Nova Zelândia é um dos fatores que tem gerado essa recuperação de preço no mercado internacional.


A alta de preços lá fora é um fator que poderá refletir em aumento das importações, mas é preciso analisar também a questão do câmbio e da oferta e preços no mercado brasileiro.