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Carta Gestor - Crie pontes entre o presente e a rentabilidade máxima

por Antonio Chaker Neto
Sexta-feira, 16 de março de 2018 -09h00

 


“A pecuária é plurianual e multifatorial”. Gostaria que cada líder de fazenda tivesse esses dizeres em sua mesa ou no mural de passagem para que nunca os esquecesse.


Digo isso, pois essas duas características são intrínsecas da atividade e precisam ser assumidas para que a longevidade do negócio seja possível. Ao nos apoderarmos dessa realidade, o planejamento passa a ser algo inerente e necessário ao processo. Suas etapas passam a fazer parte da rotina assim como a ronda do gado em um confinamento.


Enfatizo, que a pecuária de amanhã é pensada hoje, de forma simples e com poucos, porém, eficazes parâmetros norteadores.


E, por mais clássicas que sejam as ferramentas de planejamento é preciso valer-se de referênciais próprios da pecuária para que se saiba em qual direção seguir. Tudo, sem deixar de lado as questões políticas e culturais da propriedade que tratamos no último artigo. Leia aqui


Pensando no planejamento em si, a primeira parte consiste em conhecer muito bem qual é a situação atual do negócio. Ao fazer uma dieta, para saber quantos quilos se quer emagrecer é preciso saber quanto se está pesando, não é verdade? O mesmo para o planejamento. Para saber o que se vai planejar é preciso traçar um diagnóstico da realidade para que não se definam metas super ou subestimadas para a equipe.


FIGURA 1.


Fluxograma das ferramentas de planejamento.



Fonte: Inttegra métricas pecuárias


E, em meio a tantas informações que podem construir o diagnóstico técnico, qual é a principal?


Com certeza, o ponto chave está em reunir os dados referentes ao rebanho e finanças. Saber quanto de gado foi movimentando nos últimos 24 meses bem como os estoques iniciais e finais de cada safra. Essa informação deve ser anotada em número de animais e em arroba. Para as questões financeiras, o foco deve estar em mapear o caixa, com informações de receita e despesa, mês a mês. Caso seja possível, o ideal é dividir as despesas em custos fixos, custos variáveis e investimentos.


Dados acumulados é hora de transformá-los em informação. A movimentação do rebanho permite contas que vão mostrar as três principais medidas que trazem transparência ao negócio. Serão elas: GMD (Ganho Médio Diário) Global (produção em kg dividida pelo número de cabeças), @/ha/ano (produção em @ dividido pela área) e lotação mês a mês. Não é preciso mais nada! Esses três dados são a referência necessária para saber onde se está tecnicamente.


Pelo lado financeiro, a informação gerada será a divisão do total de despesa por arroba produzida, pois ela permite identificar, principalmente, se o lucro está sendo abocanhado pelos custos. Como complemento, também é possível fazer a análise de indicadores de equipe, calculando-se a relação entre cabeças de gado e funcionário ou a produção dividida por funcionário.


Estamos na fase final do diagnóstico, pois já levantamos os dados e transformamos em informação técnica e financeira.  Agora é preciso concluir. Saber o que está bom, o que não está e por quê? Para avaliação, o Instituto Inttegra vale-se de sua régua de referência e a matriz de perfil de despesa. Esse comparativo mostrará quais são os pontos a melhorar no negócio. Lembramos que a análise cuidadosa deve ser feita por técnicos especializados do setor que possam comparar dados de forma correta e de fonte segura. Portanto, a partir dessa régua de referência, o produtor sabe onde ele está. Conhece a realidade nua e crua da propriedade e tem uma visão clara da parte técnica e financeira.


Planejamento em si


Conhecendo a realidade pode-se definir o tamanho do passo, ou seja, a visão da fazenda para o próximo quadriênio. Para isso, o pecuarista não irá sentar na varanda e sonhar com os números que espera para produção. Ele irá mirar-se na tabela de planejamento (Tabela 1).


TABELA 1.


Situação da produção e planejamento do resultado.


                 


Fonte: Inttegra métricas pecuárias


A tabela de planejamento apresentada propõe uma meta exequível, obtida a partir de informação estatística somada ao conhecimento de consultorias de campo. Propositalmente, os resultados são esperados para quatro anos, lembrando que a pecuária é plurianual. Quem não tem performance, provavelmente, não tem um rebanho alinhado com a real capacidade da produção da fazenda. Para realizar esses ajustes são necessários, pelo menos, quatro anos. O quadriênio é o tempo para as fases de redução de rebanho, ajuste de fazenda e retorno ao crescimento do rebanho. Em casos de muito esmero e determinação a meta será alcançada antes do previsto, assim, será feito um redimensionamento durante os acompanhamentos.


A indicação da tabela permitirá definir valores que serão desdobrados no planejamento. Por exemplo, em uma fazenda de 1.500 ha de pastagem, o objetivo é chegar a R$500/ha/ano para atingir o resultado de R$600 mil. Portanto, é preciso definir qual deverá ser o faturamento e como consequência quantas arrobas deverão ser comercializadas por ano. Da mesma forma se estabelece o nível máximo de desembolso. A partir deste ponto se obtém qual deve ser o GMD, lotação e desembolso de cabeça/mês para essa meta.


Mas como fazer isso?


O terceiro passo está em definir as estratégias para atingir o GMD, lotação e desembolso estipulados. Repare, somente agora serão definidas as questões táticas e operacionais para cada semestre, mês e semana. Apenas na terceira fase da construção do planejamento serão analisadas as tecnologias disponíveis e que poderão ser implantadas na fazenda.


Dentre as áreas de atuação, normalmente, o primeiro item avaliado é a estratégia nutricional e disponibilidade de forrageira. Ela deve permitir alcançar o ganho médio diário estipulado, como também garantir a lotação que foi prevista. Tudo isso, sem superar a base orçamentária definida. Da mesma forma, olha-se para as questões de sanidade e de reprodução. Seguindo a mesma linha define-se quais são as habilidades necessárias para a equipe e como serão conquistadas. A plano avança para as questões de infraestrutura, máquinas e mercado.


Nessa hora, muitas vezes, ao perceber que não há caixa para todos os investimentos ou que a equipe ainda não está pronta para implementar a tecnologia de modo satisfatório, dá-se um passo atrás e são refeitas as metas de GMD, lotação e gasto por cabeça mês. Aquela fazenda que esperava ganhar R$500/ha/ano passará para R$350/ha/ano, porém, com táticas definidas e possíveis de serem operacionalizadas. É uma quebra cabeça que deve reunir o senso de realidade com ao que se espera de faturamento para a fazenda.


Planejamento definido, ele não é algo para ser guardado como um tesouro, mas um mapa de percurso para ser consultado semanalmente, nas reuniões de checagem de execução. Não é estático, mas é norteador. Ele traz transparência para toda a gestão da fazenda e a certeza da lucratividade esperada.