Dando continuidade ao conteúdo da edição anterior (Estabelecendo a Pastagem – Parte 1) cuja abordagem se baseia nas diferentes etapas de um programa de estabelecimento da pastagem e os procedimentos padrões de cada etapa, neste artigo retomaremos na etapa de execução.
7o.) Execução do programa: uma vez concluída a sexta etapa, coloca-se o planejado em execução. A execução deve ter início até julho, considerando que para o desenvolvimento deste artigo foram tomadas como referências as condições climáticas do município de Uberaba (releia a parte 1). Em sua região você deverá conhecer as normais climatológicas para então adequar o programa aqui orientado por mim às realidades daí.
7.1) Limpeza do terreno: esta operação tem como finalidade eliminar possíveis obstáculos as operações de máquinas e implementos. Quatro condições podem ser encontradas.
a) Em floresta: adota-se um dos dois métodos seguintes: o tradicional ou o mecânico. No tradicional usa-se o corte e transporte dos troncos de árvores de valor econômico e o restante da vegetação (árvores cuja madeira não tem valor econômico, tocos daquelas cujos troncos foram retirados, troncos, galhos e folhas), é queimado. Este método sofre grandes restrições na atualidade, sendo muito difícil conseguir licença para a queima por parte dos órgãos ambientais, por causa da consequente emissão de gases de efeito estufa (GEF) para a atmosfera, como também por dificultar muito a aviação visual.
Pelo método mecânico até a etapa da extração de troncos cuja madeira tem valor econômico não difere do método tradicional, a partir daí os tocos, as raízes, os troncos e galhos são retirados da área através do enleiramento com implementos específicos, enleirador ou com lâmina frontal, empurrados por tratores pesados de esteira.
O método tradicional, comparado ao mecânico apresenta as vantagens do menor investimento e menor tempo para a limpeza do terreno, e pela maior vida útil da pastagem devido aos nutrientes contidos nas cinzas da queimada e pela liberação de nutrientes a partir da decomposição das raízes, troncos e galhos. Entretanto, apresenta a desvantagem de a área não poder ser mecanizada, até que os obstáculos (troncos, tocos, etc.) sejam retirados pelo método mecânico, o que é necessário se a pastagem se degradar e tiver que ser recuperada ou renovada. As vantagens e desvantagens do método mecânico são opostas àquelas citadas, além da vantagem de ter menor restrição para se conseguir a licença para a limpeza do terreno por parte dos órgãos ambientais.
b) Cerrado (campo limpo, campo sujo, campo cerrado, cerrado, cerradão): para as formações vegetais dos tipos campo limpo e campo sujo, a limpeza do terreno pode ser feita diretamente com o preparo do solo, através do uso de grades pesadas puxadas por um trator; na formação vegetal do tipo campo cerrado pode ser feita com tratores puxando uma grade pesada com uma lâmina frontal para derrubar árvores, ou com dois tratores puxando um correntão, método este também usado para a limpeza de formações vegetais dos tipos cerrado e cerradão.
c) Lavoura: se a lavoura era conduzida com preparo convencional do solo (arações, gradagens etc), a limpeza do terreno para a implantação da pastagem também será pelo preparo convencional. Se a lavoura era conduzida em plantio direto, a limpeza do terreno consistirá tão somente na aplicação de herbicidas dessecantes para a eliminação das plantas daninhas e das plantas da cultura agrícola anterior, formando a cobertura morta de palha sobre a qual se fará a semeadura.
d) Pastagem degradada: os obstáculos aqui são as pragas de solo (cupinzeiros, formigueiros), as plantas daninhas, principalmente as de porte sub-arbustivo e arbustivo, as erosões em sulcos. Se a pastagem anterior foi implantada em uma área cujo método de limpeza do terreno foi o tradicional, será necessário destocar e enleirar os tocos e troncos para depois fazer o preparo do solo; se o método fora o mecânico, entrar diretamente fazendo o preparo convencional do solo, com gradagens, arações etc.
Chama-se a atenção para o fato de que o método de limpeza do terreno adotado condicionará os métodos de preparo do solo e de semeadura.
Devido aos compromissos assumidos pelo Brasil na COP15 e às políticas governamentais de incentivo à adoção de uma Agricultura de Baixo Carbono (Programa ABC, Plano Safra 2014/2015), cada vez mais haverá restrições para a incorporação de áreas naturais ao processo produtivo. Neste sentido, espera-se que no futuro as pastagens serão implantadas, em sua maioria, em áreas de lavoura, em sistemas de integração lavoura:pecuária, lavoura:pecuária:floresta e sobre pastagens degradadas.
7.2) Preparo do solo: como comentado no item anterior o método de limpeza do terreno adotado condicionará os métodos de preparo do solo.
a) Sem preparo: em áreas onde o método de limpeza do terreno foi do tipo tradicional, o qual deixa muitos obstáculos nas formas de tocos, troncos e galhos.
b) Cultivo mínimo: para áreas de relevos íngremes, dos tipos fortemente ondulados e montanhosos, com a finalidade de se evitar a perda de solo por erosão. Usam-se implementos dos tipos grade leve, escarificadores, enxadão para a abertura de sulcos ou covas. A abertura de sulcos ou covas também é comum em pequenas áreas onde o método de limpeza do terreno foi do tipo tradicional, ou em qualquer situação onde a semeadura é manual, o que ocorre em uma mesma operação – preparo de solo e semeadura ou plantio de mudas.
c) Preparo Convencional: faz-se o uso de arados, grades pesadas e leves, e enxada rotativa, para áreas onde o método de limpeza do terreno foi do tipo mecânico. Imediatamente antes do plantio convencional, faz-se o nivelamento do terreno com a grade niveladora (grade leve) para formar uma boa cama para as sementes.
d) Plantio direto: também aqui não há preparo do solo, bastando a aplicação de herbicidas dessecantes, para a eliminação das plantas daninhas e das plantas da cultura agrícola anterior, formando-se a cobertura morta de palha sobre a qual se fará a semeadura. Aplica-se o herbicida dessecante para formar a palha e ficar preparado para iniciar o plantio três semanas após a dessecação da vegetação.
Chama-se a atenção para a necessidade das práticas de conservação de solo, tais como plantio em nível, cordões de contorno, terraceamento, etc., dependendo da declividade do terreno, principalmente quando o preparo do solo for o convencional, com a finalidade de se evitar a erosão do solo. E ainda, quando o preparo do solo é do tipo convencional seria ideal fazer a compactação do solo antes da semeadura.
7.3) Correção do solo (calagem, gessagem, fosfatagem, etc...): esta etapa será tema de um artigo especifico devido à importância, a complexidade e extensão do assunto. Aguarde. Agora cabe apenas enfatizar que se houver necessidade de calagem (aplicação de calcário), este é o momento, por causa da, talvez, última ou única oportunidade de se incorporar o calcário nas profundidades de 0 a 20 cm (com grades pesadas, ou com arados) ou de 0 a 30 cm (com arado de aivecas), principalmente se o produtor passar a encarar e a conduzir a pastagem como uma cultura perene. Outro aspecto a chamar a atenção é a da baixa resposta nos primeiros anos após a implantação da pastagem à correção do solo com calcário, fosfato e potássio em solos onde a vegetação foi queimada, devido a riqueza das bases cálcio, magnésio e potássio, e de fósforo, contidos nas cinzas.
7.4) Compra de sementes ou mudas
a) Sementes – um lote de sementes deve ser avaliado com base em três atributos: o atributo genético, o qual garante que a semente seja geneticamente pura. Esta garantia é dada pelas empresas idôneas, com o certificado do MAPA. O atributo físico, o qual é dado pela análise de pureza e o atributo fisiológico, o qual é dado pela análise de germinação e pelo vigor da germinação.
O parâmetro para a escolha das sementes mais utilizado no mercado é o valor cultural ou VC. Este VC é determinado pelos atributos físico e fisiológico ao mesmo tempo. A taxa de semeadura, dada em kg de sementes/ha, deverá ser calculada com base no tipo de forrageira que será implantada (espécie, variedade ou cultivar) e no valor cultural do lote de sementes comprado; nas condições climáticas durante o período em que o plantio será feito; no programa de correção da fertilidade do solo e na adubação de plantio; no grau de preparo do solo (plantio convencional) ou nas condições de palha para o plantio direto; no método de semeadura; se o plantio será solteiro (apenas a pastagem), ou com uma cultura agrícola acompanhante.
Não se recomenda a economia na compra de sementes porque o seu valor representa entre 5% a 10% de todo o investimento na implantação da pastagem. A tecnologia na produção e beneficiamento de sementes tem avançado muito no Brasil e atualmente o produtor tem disponível no mercado sementes tratadas com fungicidas e inseticidas, escarificadas, peletizadas e polimerizadas.
b) Mudas – são usadas na implantação de pastagens com forrageiras que não produzem sementes viáveis, tais como a maioria das espécies e cultivares dos gêneros Cynodon sp (gramas estrelas e bermudas, tiftons) e Digitaria sp (pangola e transvala), e da espécie Pennisetum purpureum (do grupo do capim-elefante). É importante atenção à idade (três a seis meses) e à quantidade das mudas (10 a 20 m3 ou 2,5 a 4,5 t/ha para Cynodon sp e Digitaria sp, e 3 a 4 t/ha para Pennisetum purpureum, dependendo do espaçamento e do método de plantio); o método de colheita das mesmas (se manual com enxada ou enxadão, ou se mecanizado, com arados ...); o transporte das mudas e se haverá necessidade de armazená-las. Se necessário for armazenar as mudas, faz-se sob a sombra e regá-las diariamente. Nesta condição as mudas poderão ficar até três semanas sem perder a sua viabilidade.
Na próxima edição a etapa de execução será concluída, com os métodos de semeadura, a época e as condições de plantio, a proteção de sementes e mudas, a adubação de plantio, o controle de plantas invasoras e de pragas e o primeiro uso da área por meio de pastejo ou de corte.