A Scot Consultoria calcula todo começo de ano as rentabilidades médias das atividades agropecuárias e de outras opções de investimento de capital, referentes ao fechamento do ano anterior.
Para tanto, utilizamos modelos econômicos que levam em consideração fatores estimados para cada negócio agropecuário (índices técnicos, localização e estrutura produtiva), conforme o nível tecnológico.
Neste sentido, ressaltamos que os resultados apresentados podem ter significativa variação, conforme alteração dos índices produtivos.
Na figura 1, as rentabilidades médias em 2017.
Os investimentos em ações na bolsa de valores, neste caso representados pelo índice Ibovespa, lideraram com 28,2% de rentabilidade no ano passado.
Na sequência apareceram o ouro, com 11,8%, e o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), com 9,9% de rentabilidade média.
Figura 1.
Rentabilidades médias das atividades agropecuárias e indicadores econômicos em 2017.
Fontes: Scot Consultoria / B3 / BC / FGV
A produção e fornecimento de cana-de-açúcar (7,7%) e o arrendamento em regiões de cana (7,8%) foram as únicas atividades agropecuárias com resultados econômicos acima dos 7% de rendimento médio da poupança em 2017.
Foi o segundo ano consecutivo de recuperação do setor. Neste caso, as altas de preços do etanol puxaram as cotações no mercado interno.
No caso da agricultura, a safra 2016/2017 foi marcada pela produção recorde de soja e milho no Brasil e quedas nas cotações no mercado interno.
Para complicar, em 2017 a demanda interna por grãos caiu em função da crise econômica vivida pelo país e principalmente por causa do menor consumo do setor de nutrição animal.
Considerando a produção de soja na safra de verão e de milho na segunda safra, a rentabilidade média estimada foi de 2,9% na safra 2016/2017. Em 2015/2016, puxada pela forte valorização do milho, o resultado médio fora de 8,1%.
No caso da pecuária de corte e leite, apesar da redução nos custos de produção em 2017, em relação a 2016, os preços de vendas do boi gordo e do leite caíram em maior proporção, prejudicando os resultados destas atividades.
O Índice Scot Consultoria de Custos de Produção da Pecuária de Corte de alta e baixa tecnologia caiu, em média, 1,8% em 2017, frente ao ano anterior. Já o preço da arroba do boi gordo caiu 9,4% na praça de Barretos-SP no mesmo período, considerando os valores deflacionados.
Para a pecuária de leite, a queda nos custos de produção foi de 7,9%, enquanto os preços pagos aos produtores caíram, em média, 9% no mesmo período.
Na tabela 1, as rentabilidades médias em 2017 e uma comparação com os resultados de 2016.
Tabela 1.
Rentabilidades médias das atividades agropecuárias e indicadores econômicos em 2017 e 2016.
Fontes: Scot Consultoria / B3 / BC / FGV
No caso da pecuária (corte e leite) a queda nos custos de produção impactou em quem utiliza tecnologia na atividade, já que a queda maior foi nas cotações dos alimentos concentrados (milho e farelo), além de fertilizantes.
De qualquer forma, as rentabilidades médias das atividades de corte (cria; recria e engorda e ciclo completo) e produção de leite ficaram aquém dos resultados de 2016. Estas atividades, quando conduzidas com baixa tecnologia, apresentaram os piores resultados em 2017.
No caso da pecuária leiteira com produtividade média de 1,5 mil litros por hectare por ano, houve prejuízo médio de 8,5% ao ano.
Considerações finais e expectativas para 2018
Para 2018, questões como o clima e o câmbio terão reflexos diretos sobre os resultados das atividades agropecuárias.
No caso dos grãos, os atrasos na colheita da safra de verão e no plantio da safra de inverno 2017/2018, em função do excesso de chuvas nesta temporada, deram sustentação aos preços no mercado brasileiro em pleno início de colheita. A previsão é de uma produtividade menor das lavouras neste ciclo.
Esta oferta menor somada à demanda mundial firme e especulações acerca da safra argentina (falta de chuvas) deverá implicar em preços maiores para os grãos em 2018, mas esta alta deverá ser limitada pelos estoques mundiais elevados.
No caso da pecuária de corte, a oferta de boiadas nesta safra deverá pressionar as cotações, principalmente na desova de final de safra, que normalmente ocorre entre abril e maio.
Do lado da demanda, o cenário esperado é de retomada do consumo interno, mas ainda em um quadro rodeado de incertezas econômicas e políticas.
Com isso, buscar opções de venda ou ferramentas para a trava de preços da arroba serão fundamentais, principalmente em um ano de incertezas e questões, como as eleições, que podem refletir sobre diversos fatores (câmbio, por exemplo).
Para a pecuária de leite, as apostas também estão na retomada do crescimento da demanda interna, ainda que timidamente. Do lado da oferta, a estimativa é de crescimento de 1,8% da produção, porém, em um patamar abaixo do verificado em 2017 (2,5%).
A oferta ajustada, se acompanhada de uma recuperação da demanda, poderá refletir em uma variação maior nos preços do leite ao produtor neste semestre.
Para o produtor, a expectativa é de que os preços do leite comecem a subir a partir de fevereiro, com a curva de produção começando a cair nas principais bacias leiteiras.
Por fim, 2018 é um ano de cautela e exigirá planejamento e gestão por parte dos pecuaristas e agricultores.
Artigo publicado na revista Agroanalysis da edição de fevereiro/18.