A safra de 2018 foi firme na maioria das praças pecuárias do Brasil até agora, com o aumento da capacidade de abate das indústrias sendo o principal fator a dar sustentação aos preços do boi gordo nos últimos meses. Em São Paulo, por exemplo, entre janeiro e o começo de abril, os preços cederam apenas 1%, saindo do patamar de R$146,00/@ para ao redor de R$144,00/@.
Nas últimas semanas, porém, a conjunção de clima seco com a estratégia de redução dos abates aumentou a pressão baixista e os preços tiveram recuos mais fortes com o indicador à vista chegando no dia 24/4 a cotação mínima do ano em R$140,45/@. O aumento de oferta nos últimos dias também foi sentido pelo aumento das escalas de abate, que está hoje nos maiores patamares do ano até agora, situação essa que a indústria paulista não vivia já há bastante tempo.
Seria de se esperar que esse forte aumento da pressão vendedora no mercado físico tivesse um impacto maior nas cotações do mercado futuro, porém até o momento não foi isso o que aconteceu. A forte alta do dólar, que está “beliscando” o patamar de R$3,50, juntamente com a expectativa de que a Rússia volte a liberar as exportações brasileiras e a subida do preço do milho são os fatores que estão ajudando a segurar as cotações evitando maiores quedas.
Esse aumento da pressão baixista de final de safra, na esteira dos mais de 20 dias sem chuva em São Paulo, já era de certa forma esperado, mas o fator que mais repercutiu nos mercados foi a forte alta do dólar que mudou de patamar e ainda busca um novo ponto de equilíbrio.
A alta do dólar é um fenômeno mundial, ocorrendo em razão da alta dos juros nos EUA, porém, com a instabilidade política e o risco das eleições, o real brasileiro foi a moeda que mais se desvalorizou ao longo desse ano. Esse fenômeno acaba trazendo mais dificuldades do que benefícios aos pecuaristas, já que como as moedas de nossos compradores também perderam valor frente ao dólar, a pressão por queda nas cotações da carne em dólar tende a aumentar, anulando em parte o benefício que teríamos com a alta da moeda.
Já no caso do milho e soja, principais insumos da alimentação no confinamento, o impacto é direto e hoje a relação de troca sacas de milho/@ está nos menores patamares dos últimos anos. O fato é que até o dólar encontrar seu novo ponto de equilíbrio, a volatilidade de todas as commodities tende a ser alta.
Não bastasse as dificuldades na venda da carne no mercado interno devido à concorrência do frango e do suíno, essa semana nos trouxe também notícias ruins pelo lado da exportação. Os volumes embarcados em abril até agora ficaram bem abaixo das expectativas, com recuos de 35% frente ao volume embarcado em março, o que acendeu uma luz amarela para os exportadores. Com a capacidade de exportação para a China sendo limitada pelo número atual de plantas habilitadas e com os compradores alternativos, como Irã e Egito bem abastecidos pelos volumes embarcados no começo do ano, as exportações brasileiras acabara perdendo dinamismo em abril. As expectativas para o restante do ano, no entanto, permanecem muito positivas, com a possível volta da Rússia e novas habilitações de plantas para China sendo os novos vetores de crescimento.
No curto prazo, no entanto, o aumento da oferta deve ainda permanecer como o fator determinante para a precificação do boi gordo no Brasil e a indústria aproveitará esse movimento para recompor parte da margem perdida no ano até agora.
Movimentos de alta no mercado futuro decorrentes de alguma animação com a possível volta da Rússia serão uma boa oportunidade de fixar preços de venda para o restante da safra. Para a entressafra, no entanto, a decisão sobre fixar preços ainda vai ter que esperar um pouco até o produtor ter uma melhor noção dos custos reais da alimentação e compra de boi magro que serão definidos nos próximos meses.