Neste mês, apesar da seleção brasileira não ter avançado para as finais da copa do mundo, voltamos a nos apaixonar pelo futebol. As crianças brincaram mais de bola e as ruas ficaram mais amarelas. Nas rodas de conversa, o tema também veio à tona. E, imagine meu vizinho que para falar sobre a seleção, sempre avalia o segundo tempo de uma partida e o primeiro tempo de outra para fazer seu comentário. Parece estranho, não é? Afinal, os jogadores são diferentes, o clima é outro, o campo muda e até o uniforme pode ter outra cor, mesmo assim, ele defende que esse é o método correto. E, segue assim, jogo a jogo. Infelizmente, como resultado, ele anda perdendo os "bolões" feitos entre a vizinhança.
Da mesma forma, ano a ano, muitos também avaliam seus controles produtivos seguindo a filosofia do meu vizinho, pois reúnem informações de duas partidas diferentes para fazer sua avaliação das questões produtivas da fazenda. Esses pecuaristas não percebem que estão colocando na mesma análise informações completamente diversas do rebanho, principalmente, relativas à nutrição, sanidade e reprodução.
Isso acontece quando são analisados os dados da fazenda de janeiro a dezembro, seguindo nosso habitual calendário Juliano. Essa lógica, apenas é interessante para os controles fiscais que devem seguir a legislação. Os produtivos e financeiros devem ser feitos de outra forma. Eles devem seguir o conceito de safra, considerando as informações de 1o. de julho do ano corrente até 30 de junho do ano seguinte.
A recomendação da safra para essa data está baseada principalmente no acompanhamento das questões naturais, cujo mais importante é a produção de capim e o ciclo reprodutivo das matrizes. Como qualquer fazenda que avança, minimamente em gestão, há uma estação de monta implantada e, como consequência, há uma estação de nascimentos e outra de desmama pré-definidas. No Brasil, normalmente, a estação de reprodução é de novembro a janeiro; os nascimentos concentram-se de setembro a novembro e a desmama de março a agosto.
Portanto, com o conceito de safra, de julho a junho, reúnem-se as informações de todos os bezerros que nasceram no mesmo grupo contemporâneo. Eles passaram pelos mesmos protocolos de reprodução; sofreram a mesma pressão climática particular de cada ano e também o mesmo regime de pasto ou suplementação. Além disso, quase toda desmama estará fechada dentro do mesmo ano do exercício, ou seja, a safra.
Quando se analisam os dados de janeiro a dezembro, acaba-se reunindo animais que receberam tratamentos diferentes de nutrição, principalmente, pois o verão de janeiro é uma safra diferente do verão de dezembro do mesmo ano, ou seja, o pasto é outro. Os protocolos de reprodução usados, também podem ter mudado com o investimento em um novo fármaco. Além disso, cada vez mais, as fazendas dedicam-se à integração lavoura e pecuária que também depende do mesmo calendário de julho a junho, por respeitar a produção natural de grãos. Da mesma fora, ocorre com a safra do capim, que ocorre, na maioria das vezes de outubro a março!
O que diz a prática?
Com certeza, ao acompanhar os primeiros passos de muitas fazendas, sabemos que não é fácil nos desapegarmos de velhos paradigmas. É difícil, no começo, pensar no ano de julho a junho, mas é necessário. Somente assim será possível reunir informação de qualidade para nortear as decisões futuras. Aderir ao conceito de safra permite um importante avanço nos controles zootécnicos e financeiros.
Veja um índice bem comum entre os gestores de pecuária que é o controle da mortalidade. Ele é resultante da diferença entre os bezerros que desmamaram e os que nasceram. Sem o conceito de safra, não é possível chegar ao número exato da taxa de mortalidade, afinal se a estação de monta passar de 90 dias teremos dois tipos de bezerros, os recém-nascidos e os prestes à desmamar, são dois grupos completamente diferentes. Há muitas fazendas que não conseguem "fazer bater" as contas, pois será preciso resgatar velhas planilhas, juntar dados... Uma confusão desnecessária!
Outros não consideram os mesmos animais, o que é um erro pior, pois a informação não irá retratar o acontecido.
Quem já trabalha com os controles organizados pelo calendário de julho a junho, agora deve fechar sua análise anual e definir as metas para a próxima safra. Quanto deve crescer no peso de sua desmama? Quais estratégias serão usadas? Quanto irá reduzir em seu desembolso? Qual será a meta das @/ha/ano?
Precisa de referências? O último benchmarking Inttegra diz que as fazendas de cria devem atingir as 7 @/ha/ano para serem lucrativas, na recria e engorda a marca deve ser de 10 @/ha/ano e 13 @/ha/ano, respectivamente. O desembolso da arroba produzida sobre o valor de venda não pode superar os 70% e por aí vão os demais índices zootécnicos, financeiros e de pessoas.
Portanto, agora em julho, começamos a reunir os dados da safra 2018/2019. Agora é a hora! Mude! Trabalhe em cima das informações dos dois tempos da mesma partida. Tenho certeza que os resultados serão bem melhores. Quanto ao meu vizinho... Tomara que ele aprenda!