Caro produtor,
No último texto, começamos a conversar sobre um tema muito importante para o agronegócio brasileiro: a sucessão familiar. Neste texto - escrevi sobre o início do processo sucessório e a primeira estratégia para realizar a sucessão familiar: a de demonstrar para os sucessores que o “copo do agronegócio está meio cheio”. O objetivo de hoje é traçar a segunda estratégia, começando a responder a pergunta: qual a diferença entre herança e sucessão familiar?
Grosso modo, herança é um baita de um problema. Enquanto a sucessão, especialmente no agronegócio, é uma grande oportunidade. A herança é a divisão! Sabe aquela famosa frase “Pai Rico, Filho Nobre, Neto Pobre?”. Isto é herança. É a divisão de um patrimônio entre os herdeiros. Além de dividir, muitas vezes, por mais unida que seja a família, a herança também gera conflitos. Já ouviu aquela frase? “Herança é aquilo que os mortos deixam para que os vivos se matem!”. Pois bem. É isto que queremos para as nossas famílias e para o patrimônio que construímos?
A sucessão familiar é multiplicação. Quando menciono isto nas aulas de MBA, muitas vezes os alunos pensam que é ter uma fazenda e comprar outras. Não necessariamente. Multiplicar consiste em aumentar a rentabilidade. E, isto pode ser feito na mesma propriedade, seja pelo aumento da produtividade ou pela diversificação da produção.
Assim, caro leitor e leitora, se a sua família está preparando um ou mais filhos para assumirem o negócio, é de suma importância atrelar este processo à multiplicação da renda. Como dar início à esta estratégia de sucessão? O primeiro passo é como ir ao médico: a primeira coisa que este profissional busca fazer é compreender o paciente para estabelecer um diagnóstico. Para isto, respondemos uma série de perguntas e realizamos alguns exames. Como na medicina, é apenas com o diagnóstico em mãos que podemos melhorar a saúde financeira da propriedade rural.
É possível dividir o diagnóstico em três esferas. A primeira consiste na situação do patriarca ou da matriarca. Quantos anos o fundador tem? O que mais ele planeja fazer na sua vida? O que já fez? O que ele faz melhor que os sucessores? Como esta pessoa, e seu conhecimento de tantos anos, pode agregar valor à produção?
Além disso, também é importante traçar as necessidades e habilidades da família. No caso, quantas famílias a pessoa a ser sucedida possui? Quantos filhos e quantos netos? O que cada membro da família espera? Qual a experiência e capacidade de cada um?
A terceira esfera seria a do negócio em si. Qual o ramo de atividade? Qual o manejo estabelecido? Qual a escala produtiva? É um ramo promissor? Seria melhor diversificar as atividades da propriedade rural?
Por fim, há o cruzamento das perguntas destas três esferas. Por exemplo, de nada adianta ser um negócio lucrativo, mas intensivo em mão de obra, se não é desejo da família dedicar parte do seu tempo à atividade. No caso, é melhor algo menos rentável, de baixo risco financeiro, e com mão de obra contratada.
Estas perguntas são apenas alguns exemplos do “pontapé inicial”. Há outras metodologias que consultores e a teoria da administração oferecem. Realizado o diagnóstico, é possível estabelecer um planejamento produtivo e financeiro e, claro, implementá-lo. Vamos falar disso na análise do próximo mês.
Não é preciso pressa, mas é fundamental saber onde a propriedade tem que chegar e implementar o planejamento. Se o fundador tem dois filhos e estas famílias serão mantidas exclusivamente pela atividade rural, muito provavelmente a rentabilidade tenha que dobrar para que o negócio seja atrativo para os filhos. Isto irá diferenciar o que é herança é o que é sucessão familiar.