Existe uma crença em que quando se trabalha com várias atividades, perderíamos o foco e a eficiência, a história do pato que resolveu andar, nadar e voar:
“Voa mal, não nada bem, anda feio e sempre está sujo”
Porém, este ditado não é válido para a integração. Em um sistema de produção agropecuária sustentável, sempre teremos como base o solo. E para que se preserve e melhore constantemente a capacidade produtiva deste solo, passa a ser fundamental “Tudo Junto e Misturado”.
Os diferentes trabalhos que nossas instituições de pesquisa têm realizado, estão apontando o quanto a produtividade de um dos componentes está atrelada aos serviços que o componente que o antecedeu realizou no ciclo anterior ou no consórcio.
Por isso, os diferentes arranjos sempre estão demonstrando uma maior produtividade quando comparados com a produtividade do elemento quando cultivado isoladamente.
Vejamos o caso de bovinos criados em sistema de integração Pecuária e Floresta, os dados obtidos pela Embrapa Agrosilvipastoril em Sinop demonstram que temos uma produção de cerca de 6@ a mais por hectare quando comparado ao sistema de produção que os animais estão a pleno sol, sem acesso a sombra.
Enfim, a melhor ambiência proporcionada pela sombra das árvores, tem conseguido otimizar o ganho em peso dos animais, assim como a diminuição da desidratação das pastagens quando entre renques.
Por outro lado, a adubação despendida à pastagem, assim como a maior insolação na lateral das árvores que estão dispostas em renques, lhes confere um desenvolvimento muito superior ao comparado com o sistema adensado de plantio de árvores, em alguns casos a produção de 30% da área corresponde a produção de 50% da área adensada convencional.
Quanto ao sistema de ILP (Integração Lavoura Pecuária), as lavouras subsequentes ao pasto pastejado, têm produzido entre 20% e 30% a mais quando comparadas com os sistemas tradicionais de produção. Temos verificado uma produtividade alta de soja em fazenda no Oeste Baiano cujo plantio de soja sempre é após o pastejo do pasto que foi formado em sobre-semeadura na cultura anterior. Temos propriedades com média de 82 sacas/ha em 9 mil hectares de área.
A presença da pastagem durante o período seco do ano e o gado em pastejo têm estimulado a produção de raízes assim como a ciclagem de nutrientes. Por isso, acredita-se que estes fatores são os que estão proporcionando um ambiente produtivo mais adequado para a cultura subsequente.
Ao mesmo tempo, o componente animal passa a desfrutar uma pastagem de boa qualidade em uma época do ano cujo histórico é de uma pastagem de baixíssima qualidade. Tal fato propicia um desempenho animal significativo também na época seca do ano.
Foto: Imagem à esquerda: pastagem consorciada logo após a colheita de milho em junho de 2018. Imagem do meio: raízes de braquiária com mais de 1m de profundidade, em braquiária consorciada com milho. Imagem à direita: bovinos em final de engorda em pastagem pós milho consorciado com braquiária ruziziensis. (William Marchió).
Em áreas desafiadoras como os sistemas de produção de arroz por inundação, também algumas alternativas têm modificado significativamente a produtividade das áreas. A introdução de azevém no final do verão, tem proporcionado uma pastagem de inverno com alta qualidade e com isso, a produção de arroz subsequente à palhada de azevém acarreta significativos benefícios no controle de plantas invasoras, acondicionamento de solo, manutenção da biodiversidade destes solos e consequente melhoria na produtividade do arroz cultivado na sequência.
Foto: Imagem à esquerda: girassol consorciado com braquiária ruziziensis. Imagem do meio: azevém pós soja e pós arroz, San Ingnácio-Paraguai. Imagem à direita: animais em pastejo de azevém, Estancia La Teresa.
Quando avaliamos estes sistemas do ponto de vista econômico, os resultados por hectare têm sido muito superiores aos sistemas convencionais de produção, o modelo de integração de sistemas produtivos realmente entrega melhor remuneração ao seu proprietário.
Enfim, quais os principais desafios para a adoção de sistemas integrados, qual o porquê desta adoção não ser ainda exponencial?
Vamos lá, quando falamos de adoção de uma tecnologia no campo como a Integração, a complexidade é muito grande, primeiro estamos falando de quebra de paradigmas; utilização de conceitos e tecnologias disruptivas; mudança comportamental; utilização de conhecimento científico aliado à aplicabilidade prática; estamos falando de investimentos, de curto, médio e longo prazo; de resultados também nesta ótica de curto, médio e longo prazo; falamos de educação de adultos, falamos de capacitação de técnicos de campo para acompanhamento da técnica.
Estamos diante de um sistema complexo, da mesma forma que uma pessoa resiste a largar o tabagismo, por mais informações que ela tenha disponível em relação aos efeitos nocivos desta atitude; mudar de um sistema tradicional de produção para um sistema integrado vai exigir um grande esforço em diferentes sentidos.
Como no fumante, as vezes alguns acontecimentos catastróficos é que o fazem mudar, como a descoberta de um câncer, uma doença cardíaca, um enfisema pulmonar.
Em alguns casos, com o produtor tem sido igual, a frustação de safras devido ao veranico, significativa perda de produtividade, renda insuficiente para manter o padrão de vida, uma erosão catastrófica após uma chuva em uma área sem cobertura, enfim fatos impactantes e inesperados têm levado produtores a atuarem reativamente buscando alternativa nos sistemas integrados.
Com isso, passamos a acumular experiências exitosas que têm incentivado vários produtores no caminho da adoção desta tecnologia sustentável de produção.
A curva de aprendizado sempre existirá, para alguns mais íngreme e, para outros mais suave, dependendo sempre do grau de empenho deste produtor, desprendimento, busca de informações, assistência técnica competente, visitas técnicas realizadas, em suma, suas atitudes empreendedoras diante destes desafios.
Por isso a retórica, “começar pequeno, pensar grande e crescer rápido” passa a ser imperativa.
Vai a dica de um grande acervo sobre ILPF, www.ilpf.com.br.